Em Cabrobó (PE), manifestantes desocupam fazenda Mãe Rosa, mas decidem permanecem na regiãoCom a presença de policiais fortemente armados, foi desfeito na quarta-feira, 4, o acampamento na fazenda Mãe Rosa, ocupada há mais de uma semana, na área inicial do eixo-norte do projeto de transposição do rio São Francisco, em Cabrobó (PE). Os manifestantes marcharam por 13 quilômetros e se instalaram num assentamento. Foi decidida a permanência na região e a continuidade de ações.

Os agentes da policia federal, reforçados pelo batalhão de choque da Polícia Militar, chegaram ao local no início da manhã. Eles estavam acompanhados por um agente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo oficial de justiça. De uma só vez, aconteceram a intimação, o despejo e a reintegração da área. Os trabalhadores negociaram a saída pacífica, no sentido de evitar conflitos. Dessa forma, foi dado um tempo para a organização da retirada.

O grupo seguiu em marcha por cerca de 13 quilômetros até o assentamento Jibóia, de trabalhadores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que dista cerca de dois quilômetros da sede de Cabrobó (PE).

As organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais decidiram permanecer na área. Eles avaliam de forma positiva o resultado da ocupação e afirmam que possíveis ações a serem desencadeadas terão o mesmo objetivo, o de barrar as obras do projeto de transposição até que este seja arquivado definitivamente.

Continua, ainda, a luta pela demarcação do território, com a retomada das terras pelo povo indígena Truká. Segundo informações da assessoria de comunicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), hoje pela manhã, a liderança Edilene Truká se reuniu com o presidente da Funai e representantes do Cimi, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), além de entidades do Fórum de Defesa dos Direitos Indígenas. Foi evidenciada a negligência da Funai no sentido da demarcação do território daquele povo.

RETROSPECTIVA DA PRIMEIRA SEMANA DO ACAMPAMENTO
Dia 25 de junho

Na madrugada entre do dia 25 para 26, inicia a ocupação da área de aproximação do canal norte do projeto de transposição por cerca de 1.200 pessoas de Minas Gerais, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará.

Dia 26 de junho
Aumenta para 1.500 pessoas o número de manifestantes na área ocupada; são levantados barracos, organizadas equipes de trabalho e o processo de formação.

Dia 27 de junho
Ministério da Integração Nacional divulga falsa informação sobre ter entrado com o pedido de reintegração de posse da área ocupada. O prefeito de Cabrobó instiga a população a reagir contra a ocupação. Acontece um ato simbólico no buraco construído pelo Exército durante a visita do ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, batizado como o “buraco de Geddel”. Índios dançam no local e é feito o enterro simbólico dos marcos de concreto do projeto de transposição e o plantio de mudas de árvores e cereais. Rômulo Macedo, do Ministério da Integração, tenta visitar e negociar com acampados, mas não é recebido.

Dia 28 de junho
O Acampamento recebe os bispos de Barra e de Juazeiro (BA), Dom Luiz Cappio e Dom José Geraldo. Juntos, participam da celebração de início das atividades do dia. A Advocacia Geral da União dá entrada no pedido de reintegração de posse da área. Um trator contribui no mutirão de tapagem do “buraco do Geddel”. Ação no Ministério Público Federal pede atuação para garantir o direito dos indígenas. Documento pede agilidade na demarcação do território dos Truká, suspensão das obras da transposição e saída do exército.

Dia 29 de junho
O juiz da 20ª Vara Federal concede liminar de reintegração de posse. Nas imediações do acampamento, aumenta a presença de policiais militares e de soldados do exército. O comandante de polícia sobrevoa o acampamento com helicóptero. Acontece uma celebração comemorativa ao dia de São Pedro e a construção coletiva de barracos e preparação da terra.

Dia 30de junho
Manifestação do povo indígena Truká pela passagem de dois anos do assassinato de dois índios. Festa dos índios no acampamento Toré até a madrugada do dia seguinte. Retorno de caravanas para suas regiões: grupos que deram início à ocupação e montagem do acampamento, retornam e começam a mobilizar outros grupos. Aumenta apoio ao acampamento, presencialmente ou com auxílios para a infra-estrutura. Segue o mutirão de construção de barracos, preparação da terra e tapagem do “buraco do Geddel”. Os acampados recebem a visita do bispo da diocese de Floresta (PE), Adriano.

Dia 1º de julho
Revezamento de grupos: indígenas ficam em maior quantidade no acampamento. Cartas e outros documentos de apoio ao acampamento começam a ser divulgados.

Dia 2 de julho
Reunião de urgência dos governadores de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte em Recife decide intensificar e lançar campanha pela transposição do rio São Francisco, a partir do dia 9 de julho. Trabalho coletivo de organização interna da infra-estrutura e formação política. Inauguração da Praça Central do acampamento com apresentações de música, poesia e um jantar coletivo.

Dia 3 de julho
Formação interna sobre o que é o projeto de transposição. Chegada de novas caravanas. Ação arbitrária da Polícia Militar de Cabrobó na entrada do acampamento.

Dia 4 de julho
Notificação pelo oficial de justiça, despejo e reintegração da área. Novo acampamento é montado em assentamento a dois quilômetros da sede de Cabrobó.

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