Barack Obama assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro prometendo “mudanças” e sendo ovacionado pela maioria do povo norte-americano e sob expectativas do resto do mundo. De fato, Obama muda a tática da dominação imperialista. Uma “mudança” que apenas serve para conseguir pela negociação o que Bush não conseguiu pelas armas.

Nos primeiros dias de governo, Obama decretou o fechamento de Guantánamo e das prisões secretas da CIA e tomou algumas tímidas medidas na aérea ambiental. A intenção era clara. Dar um recado ao mundo sobre as “novas orientações” do governo dos EUA sobre essas questões. Mas existem diferenças entre o atual governo democrata e o republicano?

O imperialismo norte-americano vive uma profunda crise depois que o projeto de dominação de Bush, o chamado “Novo Século Americano”, foi derrotado. A eleição de Obama é uma expressão dessa crise e uma tentativa de superá-la para garantir a hegemonia norte-americana. Para isso, o primeiro presidente negro dos EUA se aproveita da simpatia que despertou nos EUA, como em todo o mundo.

Os meios para adotados por Obama são bem diferentes dos de Bush. O novo presidente apela para uma tática dirigida ao “diálogo” no sentido de manter uma hegemonia mais “consensual” com outros países. Diferente da administração republicana, Obama oferece a possibilidade de acordos, pactos e recomposições, de relações diplomáticas em vez da pura e simples invasão militar.

Nos últimos dias, a secretária de Estado do governo Obama, Hillary Clinton, iniciou uma série de processos de negociação que sinalizam essa política. Nos seus discursos, a secretária fala em reaproximação com a Rússia, cujas relações estavam desgastadas em função da intenção dos EUA de construir um escudo antimíssil próximo às fronteiras do país.

Na América Latina, o imperialismo também vai procurar políticas mais “consensuais”. Para isso, vai contar com países e governos como o do Brasil, que ocupa um preponderante papel na região. No próximo dia 14, Lula e Obama se reúnem nos EUA para debater a situação do continente. Em pauta estarão Cuba e as relações dos Estados Unidos com o governo Chávez, que autorizou o presidente brasileiro a discutir o assunto.

Mesmo em relação ao Irã, o governo Obama negocia a retomada dos diálogos, sempre mantendo a política de evitar o armamento nuclear do país. Por isso, ao mesmo tempo, o imperialismo faz ameaças de usar sanções contra o Irã.

Até mesmo o Hamas está sendo procurado por emissários de Obama, que deseja envolver o grupo islâmico num possível governo de união nacional com a Autoridade Nacional Palestina (ANP). O objetivo é fazer com que o Hamas entre na via dos acordos e aceite a solução dos dois Estados. Mas essa solução comprovou ser uma farsa. Uma cortina de fumaça que serve para encobrir e legitimar a ocupação israelense e a expansão de suas colônias sobre os territórios palestinos.

Mas o imperialismo não deixará de lado sua brutalidade para assumir uma forma supostamente “humanitária”. Para manter sua dominação, é lógico que o governo Obama não vai renunciar à utilização da força. Apenas vai combinar a política de reaproximação com ameaças de aplicar sua hegemonia militar. Algo muito claro no que se refere às guerras do Iraque e Afeganistão.

Recentemente, Obama anunciou seu plano de retirada das tropas dos EUA no Iraque. O plano prevê que até agosto de 2010 devam sair do país de 92 mil a 107 mil soldados. Mas continuaria no Iraque um contingente de 35 mil a 50 mil homens até o final de 2011. No fim das contas, a retirada de Obama segue os mesmos compromissos e prazos firmados por Bush em 2008.

Os 50 mil invasores que permanecerão no Iraque ficam com a responsabilidade de “treinar e equipar as forças de segurança iraquianas”. No entanto, as tropas poderão continuar participando de incursões e batalhas.

Essa é a primeira promessa deixada de lado por Obama. Na campanha, ele havia prometido sair do país em no máximo 16 meses com a retirada de no mínimo uma brigada por mês a partir do primeiro dia de governo.

O governo pretende ainda deslocar os soldados do Iraque para o Afeganistão. Nessa última guerra, a situação se deteriora rapidamente com o aumento da fragilidade do governo fantoche do país e o fortalecimento do Talibã.

Pagando para demitir
Já na política interna, o governo continua destinando dinheiro público para as empresas e os bancos. Enquanto a economia capitalista norte-americana já eliminou quase 4,5 milhões de postos de trabalho desde o início da crise, o governo Obama paga para as montadoras demitirem.

No dia 17 de fevereiro, venceu o prazo para as montadoras prestarem contas de seu processo de reestruturação ao governo norte-americano. Concedido às montadoras GM e Chrysler no final de 2008, o pacote, aprovado por Bush, mas já articulado por Obama, prevê bilhões de ajuda às empresas. Em troca, as montadoras devem impor uma profunda reestruturação, reduzindo custos para tornarem-se mais rentáveis.

Em 2008, as duas montadoras conseguiram empréstimo de US$ 17,4 bilhões do governo. Em contrapartida, a GM, que havia aberto programa de demissão voluntária para 62 mil de seus funcionários sindicalizados, anuncia agora a demissão de 47 mil trabalhadores em todo o mundo.

A montadora negocia com o sindicato dos trabalhadores, o UAW (United Auto Workers), a redução de salários e aposentadorias. Em troca do plano de reestruturação, a GM quer mais US$ 16,6 bilhões do governo para continuar se mantendo. Mesmo assim, a montadora corre o risco de falir. Já a Chrysler ganhou US$ 4 bilhões, anunciou 3 mil demissões e pediu mais US$ 5 bilhões.

O governo dos EUA impõe uma brutal reestruturação nas montadoras para torná-las rentáveis e competitivas. Hoje, elas são vistas como caras e improdutivas. A ideia é se aproximar do modelo das montadoras estrangeiras, com mão-de-obra barata e trabalho mais intensivo. Para isso, pressiona para que sejam realizados cortes e redução de salários. E paga com dinheiro público.

Orçamento e crise social
O governo também apresentou sua proposta de orçamento para o ano fiscal de 2010, que causou alvoroço.

Em linhas gerais, Obama propõe aumento de impostos aos mais ricos, redução para os mais pobres e diminuição dos subsídios agrícolas aos fazendeiros que ganham mais. Tal reforma orçamentária financiaria a construção de um sistema universal de saúde pública, além de possibilitar estímulos à educação. O plano foi considerado pela imprensa como uma guinada na política de cortes de verbas conduzida pelo presidente Ronald Reagan na década de 80.

A dimensão e o sentido dessa política, porém, parecem bem distintas do que a mídia quer fazer parecer. O governo espera gastar com a saúde pública um total de US$ 634 bilhões. Ao longo de dez anos. O valor pode não parecer tão pequeno, mas comparado ao plano de salvação dos bancos, que prevê até US$ 2 trilhões, revela as verdadeiras prioridade de Obama.

Por outro lado, a escolha pela área da saúde não foi à toa. Grande parte da renda das famílias custeia o tratamento de saúde, já que o sistema nos EUA é praticamente todo privado. O orçamento de Obama, dessa forma, aparece como uma política defensiva a fim de prevenir possíveis mobilizações.

Com uma economia caminhando rapidamente para a depressão, somada a um desemprego desenfreado, a possibilidade de uma crise social assombra a burguesia norte-americana. Até agora, a eleição de Obama agiu como uma trava para grandes mobilizações. Até quando isso pode durar?

Post author Da Redação
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