Bernardo Cerdeira, de São Paulo (SP)

Em todas as eleições, e muitas vezes fora dos períodos eleitorais, muitos entre os próprios apoiadores do PSTU nos assinalam o que seria uma aparente contradição do nosso partido. A contradição seria entre o que o PSTU diz e a sua participação nas eleições.

O PSTU afirma que só a revolução socialista é capaz de libertar de verdade a classe trabalhadora e os setores populares da exploração e da opressão. Diz também que a democracia burguesa é uma ditadura disfarçada e que as eleições são um jogo de cartas marcadas no qual predomina o poder econômico e os trabalhadores se limitam a escolher, a cada quatro anos, aqueles que vão explorá-los e oprimi-los pelos próximos quatro anos.

Além disso, o PSTU denuncia a crescente crise e o descrédito da democracia burguesa em todo o mundo, em especial no Brasil. Denunciamos a corrupção desenfreada dos políticos que, não por acaso, atingiram atualmente o mais alto grau de desprestígio entre o povo.

Por consequência, defendemos que a preocupação e a atividade central do partido revolucionário deve ser a luta de classes e a organização da luta dos trabalhadores e não as eleições. Mas, perguntam esses companheiros, se o PSTU pensa assim, por que participa das eleições burguesas e lança candidatos em todas as eleições? Isso não é uma contradição?

O PSTU participa das eleições para defender a revolução socialista

Os partidos oportunistas de esquerda (PT, PCdoB e PSOL) participam das eleições, dizendo aos trabalhadores que a votação e a eleição de parlamentares, prefeitos e governadores dos seus partidos, quase sempre em aliança com a burguesia, permitem resolver as questões de fundo da classe trabalhadora e dos setores populares, ou seja, da luta de classes. Não por acaso, essa é a mesma concepção da democracia liberal burguesa de que pelo voto, pela eleição de parlamentares e governantes, dentro dos limites do sistema capitalista, é possível solucionar a desigualdade e as mazelas que afligem a classe trabalhadora e o povo pobre.

Lenin dizia, com muita exatidão, sobre a concepção desses partidos: “… limitar a luta das classes à luta dentro do parlamento ou considerar esta última como a forma superior e decisiva que subordina todas as outras formas de luta, significa passar de fato para o lado da burguesia contra o proletariado.” [1] Nossa concepção é oposta a essa. A III Internacional já dizia sobre o parlamento na época do imperialismo, ou seja, do capitalismo em decadência: “…nas condições atuais…o Parlamento se transformou em um instrumento de mentira, fraude, violências, destruição, de atos de ladroagem, obras do imperialismo…” [2]

No Brasil, chovem evidências disso: a Câmara de Deputados e o Senado não se cansam de aprovar a cada dia as chamadas reformas, que não passam de leis reacionárias a favor da burguesia e contra os trabalhadores e o povo pobre: reforma da Previdência, reforma trabalhista, reforma administrativa, lei das terceirizações etc.

No entanto, a contradição está na situação da classe trabalhadora e em sua consciência e não no PSTU. Apesar da sua desconfiança ou mesmo de seu repúdio às instituições políticas da burguesia, a maioria dos trabalhadores e dos setores mais empobrecidos não vê outra saída que não seja por dentro do sistema capitalista e do regime político da democracia burguesa.

Boa parte tem ilusões na possibilidade de progredir tornando-se “empreendedor”; outro setor é guiado por seus líderes religiosos a votar em candidatos burgueses; outros acreditam na possibilidade de que partidos progressistas ou de esquerda consigam aprovar reformas em benefício dos trabalhadores. Todos, por diferentes motivos, acabam caindo na necessidade de participar dos processos eleitorais por mais que repudiem os políticos e desconfiem das instituições de governo.

O partido revolucionário não pode ignorar essas ilusões e esses preconceitos dos trabalhadores. Ao contrário, temos de aproveitar todas as possibilidades de participar da ação política na sociedade burguesa para desmascarar o sistema capitalista, o regime político da burguesia, os seus defensores oportunistas no interior do movimento operário e defender o programa socialista revolucionário. E as eleições são um momento privilegiado para divulgar nosso programa. Lenin destacava exatamente isso quando dizia:

“(…) a participação nas eleições parlamentares e na luta através da tribuna parlamentar são obrigatórias para o partido do proletariado revolucionário, precisamente para educar os setores atrasados de sua classe, precisamente para despertar e instruir a massa aldeã inculta, oprimida e ignorante. Enquanto não tenhais força para dissolver o parlamento burguês e qualquer outra organização reacionária, vossa obrigação é atuar no seio dessas instituições, precisamente porque ainda há nelas operários embrutecidos pelo clero e pela vida nos rincões mais afastados do campo.” [3]

Contudo, ao contrário dos partidos da esquerda oportunista, o PSTU participa das eleições, em primeiro lugar, para denunciar o sistema capitalista que está levando o mundo à barbárie e, ao mesmo tempo, para denunciar essa democracia burguesa podre que procura unicamente paralisar a luta dos trabalhadores, desviá-la para o terreno do voto, enquanto aprova as mais perversas medidas para aumentar a exploração e a opressão da classe.

Participamos das eleições para explicar que só uma revolução socialista que leve a classe trabalhadora ao poder para governar por meio de conselhos populares pode solucionar os problemas que afligem os explorados e oprimidos de todo o mundo. Difundimos as medidas que atacariam o desemprego, a carestia, a fome, a submissão do país ao imperialismo e reverteriam as medidas contra os trabalhadores e o povo.

Em resumo, participamos das eleições para difundir o programa socialista revolucionário, ligando-o às lutas dos trabalhadores e aproveitando as campanhas eleitorais para apoiá-las.

Cada voto nos candidatos socialistas revolucionários é uma conquista

Ao mesmo tempo, vários companheiros levantam outra dúvida tão importante como a anterior. O PSTU, dizem eles, afirma que participa das eleições principalmente para divulgar o programa socialista revolucionário. Diz que seu objetivo central não é eleger candidatos a todo custo, ou seja, não está de acordo em rebaixar seu programa para conseguir eleger parlamentares.

Isso quer dizer, então, que para o PSTU o voto nos candidatos socialistas revolucionários não importa? O PSTU acha que é suficiente concordar com o programa, mas que o voto é secundário? Não faz diferença o voto dos eleitores em candidatos do PSTU?

Na verdade, nós pensamos exatamente o contrário: o voto em candidatos socialistas revolucionários é de extrema importância. Todos os votos importam. Cada voto que conquistamos para os candidatos do PSTU é uma vitória por diferentes motivos.

Em primeiro lugar, aqueles companheiros que já votavam no PSTU e que reafirmam o voto, eleição após eleição, constituem de fato uma corrente a favor da revolução socialista que, embora pequena, representa o setor mais consciente e avançado da classe trabalhadora.

Novos eleitores do PSTU, que antes votavam em partidos burgueses, significam também uma enorme conquista, porque são a expressão de um avanço de sua consciência. Significam uma ruptura, mesmo que parcial, com a consciência burguesa e uma tendência a uma consciência de classe. Cada voto desses é uma vitória porque é um trabalhador que é arrancado da influência da burguesia e começa a dialogar com as ideias do socialismo.

Também aqueles que antes votavam em candidatos do PT, do PCdoB ou do PSOL ou de outros partidos oportunistas de esquerda e passam a dar seu voto ao PSTU significam um importante avanço para a consciência e a organização da classe trabalhadora, já que esses partidos representam a ideologia da burguesia no interior do movimento operário.

Essa tomada de consciência ainda é parcial porque, num primeiro momento, expressa-se no voto e não na participação direta na luta de classes.

Por isso, Lenin dizia que o voto é um indicativo da consciência de classe: “O sufrágio universal é o índice da maturidade da compreensão pelas diferentes classes das suas tarefas. Ele mostra de que maneira as diferentes classes estão inclinadas a resolver as suas tarefas. A própria solução dessas tarefas é dada não por uma votação, mas sim por todas as formas de luta de classes, incluindo a guerra civil.” [4]

Por último, os votos também são importantes para eleger candidatos do PSTU onde for possível. É importante eleger socialistas revolucionários para as Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas ou Câmara de Deputados. Esses representantes nas trincheiras dos inimigos, diferentes dos reformistas, como dizia Lenin, devem constituir-se em combatentes revolucionários contra o capitalismo e a ordem burguesa no interior dessas instituições, que denunciem todas as conspirações e falcatruas contra os trabalhadores e o povo que são geradas aí, e se coloquem como uma força auxiliar da luta da classe trabalhadora contra o capital.

[1] Lenin, “As eleições para a Assembleia Constituinte e a ditadura do proletariado” (1919)

[2] “O partido comunista e o parlamentarismo”. Resolução do II Congresso da III Internacional. (1920)

[3] Lênin, “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”

[4] Lenin, “As eleições para a Assembleia Constituinte e a ditadura do proletariado” (1919)