No último fim de semana, a revista Veja publicou um artigo em que revela que o empresário Marcos Valério, o operador do mensalão, telefonou para o deputado petista João Paulo Cunha e disse que iria estourar tudo. “Vocês vão se ferrar. Avisa o barbudo que tenho bala contra ele”, disse Valério. O barbudo em questão era Lula. De acordo com a revista, o empresário picareta exigia como condição para não “estourar” a blindagem do presidente a liberação de R$ 200 milhões e a garantia de que, de acordo com suas próprias palavras, não seria “enjaulado”.
A chantagem foi feita dias antes das grotescas confissões de Valério e Delúbio sobre o caixa dois em entrevistas à TV Globo. Nas entrevistas, Delúbio e Valério apresentaram versões idênticas sobre o esquema de financiamento de campanhas eleitorais do PT. Dessa forma, buscavam limitar as falcatruas ao financiamento de campanha do PT, trazendo a responsabilidade para si, preservando desse modo a imagem de Lula.

Em outra entrevista, realizada em Paris, ao que tudo indica dirigida pelo publicitário Duda Mendonça, Lula embarcou na combinação e reiterou a mesma versão do ex-tesoureiro do PT. Assim nasceu a farsa das verbas ilegais de campanha petista combinada entre Delúbio, Valério e Lula, que tinha como objetivo blindar o presidente e varrer para debaixo do tapete o escândalo do mensalão. A estratégia, porém, fracassou. A revelação do listão do mensalão, na semana passada, pôs por terra a farsa governista.

Outro episódio que evidencia que Lula estava envolvido com as falcatruas foi revelado pela Folha de S.Paulo. De acordo com o jornal, Lula teria sacado um empréstimo de R$ 29 mil concedidos a ele pelo PT e que foi quitado de forma absolutamente suspeita. No mesmo dia em que uma das parcelas do empréstimo tomado por Lula foi quitada, R$ 100 mil foram sacados nas contas de uma das empresas de Valério, no Banco Rural. O beneficiário dessa retirada continua sem identificação, pois o documento que permitiria fazê-la (um fac-símile e a cópia de um cheque) simplesmente desapareceu da CPI dos Correios.

Contudo, esse episódio, assim como outros como os que envolvem os filhos de Lula em falcatruas com empresas de Marcos Valério e a Telemar, não ganham a proporção devida em função da relativa blindagem em torno do presidente.

Como Collor no passado, Lula sabe de tudo. Ele é o chefe político do governo, portanto, é impossível que não soubesse das escusas negociatas de seus auxiliares. Combinou com Delúbio e Valério a versão do caixa dois do PT. Não respondeu porque seus filhos, da noite para o dia, enriqueceram tanto e nem quem pagou seu empréstimo junto ao PT. As pessoas que ainda acreditam em Lula estão cada vez mais sem argumentos para defendê-lo. Deveriam seguir os conselhos do escritor João Ubaldo Ribeiro, que, em um de seus artigos, diz que Lula “sabia da bandidagem de seus auxiliares e, vai ver, tacitamente a aceitava, ou seja, calava” e “que corrupto não é só quem frauda diretamente ou põe dinheiro no bolso: é também quem vê e, ou finge que não vê, ou não liga e não faz nada”.
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