Para quem não se conforma com o fato da principal cidade do país estar a serviço dos ricos, as eleições municipais de São Paulo já começaram em clima de tragédia. Com o auxílio da mídia, já vai se instalando uma falsa polarização na cidade entre as candidaturas Serra (PSDB) e Haddad (PT). Minha candidatura vai apresentar um programa com medidas que signifiquem inverter as prioridades da prefeitura, hoje controlada pelos ricos, e colocar São Paulo a serviço dos trabalhadores. Ao debater essas idéias, pretendo demonstrar que, apesar do vale tudo para ganhar as eleições, em matéria de programa, Serra e Haddad mais concordam que discordam.

Serra com Kassab
A candidatura Serra é expressão da mais privilegiada burguesia paulistana. O tradicional candidato do PSDB pretende ser prefeito de São Paulo pela segunda vez. Naquilo que é essencial, Serra pretende que tudo continue como está em São Paulo: uma cidade governada para os ricos, onde eles tudo podem e não perdem nunca.
Em sua aliança mais simbólica, Serra ganhou o apoio do atual prefeito, Gilberto Kassab – que foi seu vice, na ocasião em que ganhou as eleições. Sua gestão foi marcada por uma espécie de cruzada contra os pobres, uma política de coturno e porrete, sistematicamente levada a cabo em acordo com o governador Geraldo Alckmin. Foi o que vimos nos episódios da “cracolândia”, na perseguição aos camelôs ou no fechamento de albergues no centro da cidade.

O último episódio da guerra aos pobres de Kassab chega a soar como anedota. Recentemente, foi anunciado pela imprensa que o prefeito pretende proibir a distribuição de sopa aos moradores de rua no centro de São Paulo. Instituições filantrópicas que por acaso insistam com suas atividades podem ser enquadradas “administrativa e criminalmente”.

A ameaça de proibição do Sopão é o cúmulo da política higienista de um prefeito dos ricos, que não enfrenta os problemas criados e aprofundados por sua própria administração. Em vez de acabar com a pobreza, Kassab quer é expulsar os pobres do centro da cidade para as periferias e tornar suas vidas um inferno ainda pior. Tudo isso se justifica pelo compromisso da prefeitura com a especulação imobiliária – um compromisso que se renovará, caso Serra seja eleito.

Haddad com Maluf
Mas em matéria de alianças espúrias, a candidatura petista não deve em nada à do PSDB. Em uma cena que pareceria impossível há alguns anos, posaram Lula, Haddad e Maluf para fotos, com largos sorrisos em seus rostos. A imagem estampou capas de jornais, correu redes sociais e vai entrar para história como um dos símbolos de um PT domesticado e fisiológico. Outrora inimigos irreconciliáveis, Lula e Maluf estão juntos no apoio à corrida de Haddad à prefeitura de São Paulo.

Em troca do apoio de Maluf e do 1min35’ de tempo de TV de seu partido, o PT ofereceu como pagamento uma secretaria do Ministério das Cidades a um dos apadrinhados do PP. Dono de bordões deprimentes, como “estupra, mas não mata” ou “rouba, mas faz”, Maluf é um dos mais fortes símbolos da corrupção no país – além de constar na lista de procurados da Interpol. O Brasil é um dos poucos lugares onde ele pode andar livremente, sem ser preso.

Se a aliança de Haddad com Maluf deixa a sensação de que “desta vez, passou dos limites”, não chega a ser exatamente uma novidade. O PP sempre esteve na base aliada do governo Lula, e agora no de Dilma. A coerência e o discurso da “ética na política” já foram há muito abandonados pelo PT, em favor do puro “vale tudo para eleger”. São suas alianças com ruralistas, banqueiros e evangélicos conservadores que explicam porque, em 10 anos de governo, o Partido dos Trabalhadores não promoveu uma única mudança estrutural no país.

Mas essa aliança também nos permite tirar conclusões políticas sobre a própria candidatura de Haddad. Apresentado pelos marqueteiros do PT como “o novo” para São Paulo, o ex-ministro da Educação de Lula não poderia ter o apoio de nada mais velho e ultrapassado que Maluf. Governando e distribuindo cargos junto com esse tipo de gente, Haddad não pode trazer nenhuma novidade a São Paulo.

Por outro lado, basta observar a atual greve nacional das universidades públicas para entender o balanço de Haddad à frente da Educação no país. Péssimos salários, salas superlotadas, prédios inacabados e desvalorização de professores e funcionários são o motor da mais forte greve nas universidades brasileiras da última década. Se isso não é sua responsabilidade, o que fazia, então, Haddad à frente do MEC?

São Paulo para os trabalhadores!
Quem anda com Kassab ou Maluf não vai governar para atender as necessidades de quem precisa de verdade. O prefeito que voa de helicóptero não está interessado no que acontece com os “de baixo”. Não é afetado pela Educação precária, não precisa usar o sistema público de saúde e está comprometido com a especulação imobiliária no centro.
Na política, ou você luta contra a direita, os ricos e poderosos, ou se alia a eles. O PT, há muito, já escolheu o seu lado. Ingenuidade é achar que abraçado a Paulo Maluf é possível mudar alguma coisa.

Essa falsa polarização entre Serra-Kassab e Haddad-Maluf reforça a necessidade de virarmos essa prefeitura de cabeça para baixo. É o que, se eleita, pretendo fazer. De uma prefeitura dos ricos para uma prefeitura voltada aos interesses e necessidades da maioria da população. E, assim, fazermos uma São Paulo para os trabalhadores.
Post author Ana Luiza, candidata a prefeita de São Paulo pelo PSTU
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