Decepcionado com o governo Lula, Luis Fernando Verissimo “mata” personagemNo dia 25 de agosto, dois dos principais jornais do país, O Globo e O Estado de S. Paulo, trouxeram a nota de falecimento da Velhinha de Taubaté, uma das personagens mais conhecidas por quem acompanha a obra do cronista Luis Fernando Verissimo.
Falecida aos 90 anos, a Velhinha ganhou notoriedade em 1983, sob o último governo militar, o do general Figueiredo, e, desde então, era o maior símbolo da boa-vontade e da confiança quase infinita alimentadas por uma significativa parcela do povo brasileiro em relação aos seus governantes.

Como Verissimo ressaltou na nota fúnebre, “a Velhinha sempre acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de Getúlio Vargas”, sendo a última pessoa a abandonar os mais do que furados barcos de Itamar, Sarney e Collor. Durante todos estes anos, a Velhinha resistiu bravamente a quase tudo, apesar de já ter quase morrido na época do Sarney e ter sofrido um acidente vascular por ocasião da compra de votos para a reeleição de FHC. Contudo, no dia 19, “ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia”, ou, ainda segundo Verissimo, “pode ter sido suicídio”.

Apesar do mistério, sabe-se que a Velhinha “acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente em Palocci”, mas, para o espanto de muitos, ultimamente, até ela começara a dar sinais de desânimo e descrença. Uma situação que, depois de mais uma leva de denúncias e esfarrapadas justificativas do governo e do PT, deve ter levado a pobre Velhinha a seu limite.

A ironia em suspenso
A morte da Velhinha, evidentemente um personagem fictício, teve repercussão nacional. Não poderia ser diferente. Como Verissimo declarou nos últimos dias, o “assassinato” foi a forma que encontrou para manifestar sua própria indignação e decepção com o governo Lula. Um protesto, é verdade, de alguém que acreditou no governo e, agora, se vê, como a maioria dos intelectuais, literalmente desamparado.
Um protesto, contudo, que dá a exata dimensão do significado histórico da traição.

Ao lançarem o país na lama, Lula & Cia. jogaram junto a esperança de muita gente e até mesmo a vontade de se ver a história toda somente com a ironia.

Uma situação que, evidentemente, não irá permanecer assim por muito tempo. Assim como é inevitável que surjam novos caminhos e alternativas de organização para aqueles que querem seguir lutando, certamente uma nova “encarnação” da Velhinha de Taubaté há de ser menos crédula e mais crítica do que a saudosa falecida.

  • Leia uma crônica de Veríssimo sobre a Velhinha de Taubaté

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