Vera durante Convenção Nacional do PSTU. Foto Romerito Pontes
Redação

Leia o editorial do Opinião Socialista nº 562

A classe trabalhadora conhece bem a metáfora do bode na sala. Quando as coisas estão muito ruins e a classe trabalhadora se revolta e quer mudança, vem a patronal com algo ainda pior para ver se nos contentamos com a situação ruim.

Assim é a candidatura de extrema-direita de Bolsonaro: o bode na sala. E outros, que são muito ruins, aparecem como um mal menor.

Desde 2013, pelo menos, a classe trabalhadora e a juventude brasileira lutam e demonstram que a vida está ruim, que ninguém quer a situação que vivemos hoje, que só piora. Porém os sucessivos governos capitalistas – Dilma, Temer e a maioria dos candidatos atuais – só têm coisa ainda pior a nos oferecer.

Você está enfurecido, porque quase todo mundo está desempregado na sua família, porque querem rebaixar seu salário, estão confiscando seus direitos trabalhistas e querem acabar coma sua aposentadoria. Você ainda encontra pela frente um candidato que defende torturador, que é machista, homofóbico e racista, defende a tortura, seu vice diz que família só de mãe e avó (isto é, sem homem) é fábrica de bandido! Algo realmente asqueroso.

Aparece, então, aquele pessoal que te deixou sem emprego, sem salário, numa escola com goteira, com dívida para pagar e promete tirar o bode da sala. Você pensa que, tirando o bode, já trará algum alívio.

Mas espera aí! Não temos de aceitar nem bode na sala, nem que tirem só o bode e tudo continue muito ruim. A classe trabalhadora, unida e em luta, pode expulsar o bode e também dizer um basta a tudo que está ruim.

Você pode pensar: será que votar no menos pior não seria evitar um mal maior?

Entendemos e compartilhamos da rejeição a Bolsonaro, mas não derrotaremos de verdade esse sujeito e o que ele representa com eleições. Derrotaremos o bode na ação direta. Se ao invés de fortalecermos a união dos de baixo, nossa organização e nossa consciência, apoiarmos candidatos comprometidos com o sistema, com grandes empresários e banqueiros, estaremos enfraquecidos e desguarnecidos diante de candidatos que vão nos atacar no primeiro dia do novo governo.

Bolsonaro é a cara mais nítida da crise do sistema capitalista que expõe suas vísceras em meio a uma profunda crise estrutural. Ele também é expressão da falência do modelo econômico e político aplicado pelo PSDB e pelo PT nos últimos 20 anos. A crise da democracia dos ricos, esse sistema de representação burguesa comprado pelas grandes empresas e pelos bancos, expressa-se no PSDB, no PMDB e no PT e num Judiciário também a serviço dos bandos burgueses. Todos disputam quem vai controlar a economia e o Estado no próximo período e que setor da patronal será mais beneficiado.

Bolsonaro expressa a cara mais perversa de uma burguesia servil, de origem escravocrata, que entrega o Brasil para os países ricos, suas multinacionais e bancos. Uma burguesia que é sócia-menor do imperialismo, às custas da rapina do país, da superexploração dos trabalhadores e da miséria da maioria da população.

Bolsonaro é a expressão mais profunda da política dos ricos para a crise do sistema capitalista. Eles querem entregar tudo o que resta no país para o capital estrangeiro e aumentar a exploração. Seu ódio aos de baixo, seu racismo, seu machismo e sua homofobia, seu amor aos latifundiários e à violência contra os pobres, tudo isso é a cara mais abominável do projeto capitalista de jogar a crise nas costas da classe trabalhadora e dos oprimidos. Eles querem nos dividir para aumentar a exploração.

Sendo Bolsonaro, a cara mais abominável do capitalismo em crise, ele não é o único candidato que defende um programa capitalista, de guerra social contra os pobres.

Representando o apoio de diferentes setores do mercado e com diferentes propostas entre si, as demais candidaturas que hoje disputam a ida a um segundo turno – Alckmin, Marina, Ciro e Haddad – estão a serviço do sistema e dos banqueiros. Todos eles vão atacar nossas aposentadorias, manter o grosso da reforma trabalhista de Temer, realizar privatizações e parcerias público-privadas, que são privatizações disfarçadas. Todos se comprometem a garantir a disciplina fiscal, ou seja, ter como prioridade o pagamento da dívida aos banqueiros.

Qualquer um deles que ganhe as eleições, assim como Bolsonaro, vai nos atacar brutalmente. Devemos nos preparar desde já. Vamos unir os de baixo para não aceitar nenhum ataque, para fazer greve geral.

Uma coisa é certa, mesmo com diferenças entre si, eles têm um acordo: atacar a classe trabalhadora e aumentar a entrega do país.

Bolsonaro é um bode na sala e precisa ser enxotado, mas não vamos mudar nada votando em Alckmin, Marina, Ciro ou Haddad. Pior ainda: não estaremos nos preparando para derrotar na luta as reformas contra a nossa classe que todos eles vão fazer em favor dos banqueiros.

Para mudar de verdade o Brasil, precisamos fazer uma rebelião operária e popular para que os trabalhadores governem em conselhos populares e façam uma transformação social no Brasil.