As mulheres do Pinheirinho – ocupação, que já completou cinco anos de resistência em São José dos Campos (SP) – atenderam em peso à convocação para o Encontro de Mulheres, que aconteceu no domingo, dia 25, no próprio acampamento.
Após a abertura e debate de conjuntura foram realizados vários painéis, grupos, dinâmicas e debates, desvendando o funcionamento da opressão e o papel fundamental que o machismo cumpre na manutenção da sociedade capitalista.
Em grupos e em plenária, as participantes debateram seus problemas, levantaram uma pauta de reivindicações e discutiram a organização do Movimento Mulheres em Luta. Cada grupo apresentou uma conclusão e, em seguida, foi eleita uma coordenação para organizar a luta por estas reivindicações, para organizar o Movimento e para se incorporar à preparação do Encontro de Mulheres da Conlutas do Vale do Paraíba.
Em debate, a exploração e a opressão
Para a coordenadora do Must Keiti Rodrigues, no seminário as mulheres puderam aprender e entender que o machismo não é natural, mas, sim, cultural, fruto da sociedade em que vivem. “Gostei especialmente do filme ‘Acorda, Raimundo’, em que o personagem do Paulo Betti sente na pele o que é o sofrimento da mulher”, conta Keiti.
Moradora do Pinheirinho há três anos, Ana Lúcia de Castro avaliou que o encontro esclareceu muitas dúvidas. “Nos dá outra visão do mundo. Acho que saímos daqui pensando diferente, sabendo quais são nossos direitos e como lutar por eles e, principalmente, como nos relacionarmos de forma diferente com nossos companheiros”.
Dona Elza Aparecida também reside no Pinheirinho há três anos e disse que a principal lição “é que dá para mudar a nossa vida”. “Se todo mundo que participou for à luta, abrir a boca, não aceitar a opressão, podemos melhorar ainda mais a nossa situação. Temos que lutar”, afirmou.
L., trabalhadora metalúrgica da zona Sul de São José dos Campos e membro da coordenação eleita no Encontro de Mulheres Metalúrgicas, realizado em setembro, também participou como observadora do encontro e se confessou surpresa ao encontrar tantas semelhanças. “Os problemas das mulheres da periferia e os das metalúrgicas são muito semelhantes, o que mostra que a nossa classe é uma só e que a nossa luta é uma só, por isso temos que organizar uma ferramenta de luta comum a todas as trabalhadoras: o movimento Mulheres em Luta, da Conlutas”.
Rosangela Calzavara, a Rô, da Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e do GT de mulheres da Conlutas, se disse impressionada com o nível de consciência das mulheres que participaram. “Saímos daqui com um saldo muito positivo, porque avançamos na organização do movimento Mulheres em Luta e na organização interna das mulheres do Pinheirinho. O Encontro das metalúrgicas já tinha demonstrado o potencial para a organização de lutas concretas por várias reivindicações. Agora, esse encontro do Pinheirinho veio reafirmar e fortalecer essa perspectiva, nos dando a certeza de que realizaremos um grande encontro em novembro, unindo as mulheres trabalhadoras, organizando o movimento e possivelmente tirando além de uma plataforma de reivindicações, um plano de lutas e mobilização”, resumiu.
Segundo Valdirene Barbosa, a Val, da Coordenação do Must-Pinheirinho e também do GT de Mulheres da Conlutas “o Encontro do Pinheirinho foi preparatório para o Encontro de Mulheres Trabalhadoras da Conlutas do Vale do Paraíba, que acontecerá no próximo dia 28 de novembro. E foi super-importante porque penso que será possível organizar o movimento e lutas concretas aqui na região. Ao nos organizarmos também enquanto mulheres aqui na ocupação e unirmos às demais mulheres trabalhadoras, especialmente às operárias, saímos mais fortes, mais conscientes e organizadas para enfrentar nossos problemas e a luta geral junto com toda a classe trabalhadora contra o capitalismo. Assim como os encontros realizados pelas trabalhadoras dos Correios e mulheres metalúrgicas, nosso objetivo é fortalecer a aliança do movimento operário e popular e a construção do movimento Mulheres em Luta, ligado à Conlutas”, afirmou.
Post author Mariucha Fontana e Rodrigo Pimentel, de São José dos Campos (SP)
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