Nas últimas eleições da Fiesp, a maior e mais importante entidade da burguesia industrial do país, foi eleita a chapa de oposição liderada por Paulo Skaf. A novidade é que Skaf representa um dos setores da burguesia que apoiou Lula nas eleições de 2002. Sua campanha contou com o apoio de figurões do PT, como o senador Aloísio Mercadante.

Foram-se os tempos em que Mario Amato, então presidente da Fiesp, ameaçava com a debandada do país de grandes empresas, caso Lula ganhasse as eleições. Agora, com o PT no governo federal, o presidente da Fiesp é um cabo eleitoral de Lula.

Mudou a Fiesp ou mudou o PT? Mudaram os dois, mas sem nenhuma dúvida a principal mudança é do PT. A Fiesp muda por integrar em sua direção um setor da burguesia que apoiou diretamente o PT. Mas foi essencialmente a mudança do PT que possibilitou isso. Foi o programa neoliberal, assumido por Lula ainda em sua campanha eleitoral, ao avalizar o acordo com o FMI, que permitiu o acordo com setores importantes da burguesia brasileira. Esses acordos incluíam o vice-presidente José de Alencar, dono da Coteminas, grande empresa da área têxtil, o mesmo setor de Paulo Skaf, que era até agora dirigente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.

O vice de Skaf é outro peso-pesado da burguesia que apóia o PT: Benjamin Steinbruch, dono da CSN. Para quem não lembra, a CSN era uma das mais importantes empresas estatais, a maior produtora de aço do país. Foi vendida por R$ 1,05 bilhão e esse valor foi pago com R$ 1,01 bilhão em “moedas podres”, ou seja, títulos do próprio governo sem valor no mercado. O governo recebeu só R$ 38 milhões por uma empresa que valia U$ 1 bilhão. Steinbruch é estreitamente ligado a Aloísio Mercadante e financiou sua campanha eleitoral.

Não se trata de nenhum setor da burguesia “ligado ao mercado interno”, que irá defender na Fiesp posições nacionalistas. Segundo Eliane Castanhêde, da Folha de S.Paulo: “Skaf é do setor têxtil, que ganhou competitividade e é importante exportador. Steinbruch é do setor do aço, também exportador e sujeito a pesadas barreiras americanas. Ambos vão engrossar a grita contra os juros altos e têm muito interesse na Alca”.

Ou seja, assume a direção da Fiesp um setor da burguesia muito interessado nas exportações e na Alca: um símbolo muito mais da mudança do PT do que da mudança da própria Fiesp.
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