Policiais militares e soldados do Exército cercam ocupação de sem-teto em São José dos Campos (SP), invadem casas, revistam e agridem moradoresNa noite do dia 8 de março, bandidos roubaram sete fuzis no 6º Batalhão do Exército, em Caçapava, no Vale do Paraíba. A resposta dos militares e das autoridades foi a de sempre. Ocuparam uma favela na cidade e mantiveram um cerco sobre três bairros pobres de São José dos Campos, a 20 quilômetros dali, até o dia 12. Entre eles, o acampamento Pinheirinho, na zona sul da cidade, com mais de duas mil famílias.

Oito caminhões do Exército chegaram à comunidade levando cerca de 90 soldados, vindos de Osasco. Armados com fuzis, o grupo percorria as ruas da ocupação com motos e revistava todos que entravam e saíam. No alto, dois helicópteros sobrevoavam a área, e um deles realizava rasantes sobre os moradores. Do lado de fora, a Polícia Militar dava cobertura à operação.

A polícia invadiu moradias e agrediu um senhor dentro de sua própria casa. A revista ostensiva não respeitava as mochilas das crianças que iam para a escola. Todos eram tratados como bandidos. “Eu fui revistado 27 vezes em um mesmo dia. Muitas vezes, eram os mesmos soldados que tinham acabado de parar meu carro”, disse Marrom, uma das lideranças da ocupação e do Must (Movimento Urbano de Trabalhadores Sem Teto).

No dia 10, além do cerco e das ações militares, os moradores assistiram a uma “invasão” do Garra, grupo especial da PM. Segundo testemunhas, a operação aconteceu a pedido da imprensa, já que as TVs da região não haviam filmado os invasores em ação.

Ocupação do Pinheirinho comemora cinco anos

No dia 28 de fevereiro, a ocupação do Pinheirinho comemorou mais um ano de existência. São cinco anos de muita luta e resistência por moradia e condições dignas de vida. A comemoração reuniu cerca de 300 pessoas, entre ativistas e dirigentes de várias categorias. Houve também uma apresentação da peça Foices, Facões e Fuzis, do grupo de teatro Trabalhadores da Arte. Nos anos anteriores, o tradicional bolo aumentava um metro com cada ano completado pela ocupação. Neste ano, porém, teve apenas meio metro, simbolizando a crise econômica.

Após dezenas de incursões e de um cerco permanente, nada foi achado. Só no dia 15 a polícia de Guararema, cidade próxima, localizou peças dos sete fuzis roubados num terreno baldio.

Abaixo a criminalização
A operação militar tratou o movimento sem teto como formado por bandidos. A ocupação do Pinheirinho fez com que Marrom recordasse do Haiti, país que visitou em 2007, numa caravana da Conlutas. “Cheguei ao Pinheirinho e vi todos aqueles homens fardados. Imediatamente me veio a lembrança do que vimos no Haiti. De como os soldados tratam os negros haitianos nas favelas da capital”.

Os moradores mantêm-se mobilizados, já que, a qualquer momento, a ocupação pode voltar a ser alvo das forças de repressão.
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