Foto Sindmetal/SJC
Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU

Marcela Azevedo, executiva nacional do MML  e Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU

O último dia 28 de abril registrou um importante marco na luta das mulheres trabalhadoras brasileiras, através da Live Nacional de comemoração dos 15 anos de existência do Movimento Mulheres em Luta. Um momento de muita emoção com o resgate histórico da origem do movimento, mas também, de reafirmar os princípios e a estratégia que guia a nossa intervenção até os dias atuais.

 

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Em 2008, quando cerca de mil mulheres se reuniram em São Paulo, tinham como expectativa organizar um movimento de mulheres trabalhadoras que pudesse enfrentar o machismo e a exploração capitalista. Na época, muitos ataques aos direitos da classe de conjunto estavam se dando, bem como pautas históricas das mulheres, como a legalização do aborto, serviam de moeda de troca com setores conservadores.  Havia disposição de questionar os papéis tradicionalmente delegados às mulheres e toda a desigualdade imposta, porém os principais movimentos feministas do país estavam atrelados ao governo e freavam as lutas. Era preciso apontar um novo caminho.

Vanessa Portugal, professora e ativista de Belo Horizonte relembra esse Encontro “o que nos motivava a essa organização era unir forças das secretarias de mulheres dos sindicatos em um movimento mais amplo, que apontasse o classismo na luta contra o machismo”, e segue afirmando que “o espaço contou com uma diversidade de mulheres que já demonstrou o potencial de luta contido na iniciativa.” Assim surgiu o MML, há 15 anos atrás, um movimento de mulheres, que com independência dos governos e da burguesia pudesse organizar as mulheres trabalhadoras, da cidade e do campo, desempregadas, donas de casa, aposentadas, etc, para lutar contra o machismo e a exploração capitalista.

Com o passar dos anos, o MML foi conquistando seu espaço no cenário nacional do movimento de mulheres do país. A partir dessa localização de classe, não se furtou em debater todas as questões que afetam a vida das mulheres trabalhadoras. Desenvolveu campanhas de combate à violência machista e contra os assédios, pelo fim dos estupros e dos feminicídios, pelo direito ao aborto e por creches para as filhas e filhos da classe trabalhadora; atuou em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e de valorização do SUS;  participou do debate sobre gênero nas escolas; exigiu emprego, salário e direitos para as mulheres e trabalho igual para salário igual; lutou contra as contrarreformas sociais e se posicionou contra as terceirizações e ataques aos direitos trabalhistas; apoiou a luta das mulheres do campo por terra e da cidade por moradia;  apoiou diversas greves; mas sobretudo atuou com independência frente aos patrões e aos governos: federal (Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro) e locais (governos estaduais e municipais), o parlamento e a justiça burguesa, dispensando a cada um deles as denúncias e exigências necessárias.

Ao longo de sua trajetória o movimento também foi avançando na compreensão de como dialogar com a diversidade de mulheres da nossa classe, entendendo as críticas das mulheres negras ao feminismo branco; considerando a concepção de organização e luta das mulheres indígenas; valorizando a visibilidade das mulheres LBTs. Além de discutir resoluções em seus demais encontros nacionais sobre mulheres aposentadas, do campo, das que lutam por moradia, das operárias, de combate à outras formas de discriminações como a gordofobia e o capacitismo.

A Live relembrou o Seminário de mulheres negras que encheu de orgulho todas que ali estiveram. A companheira Elizabeth Martinho (Bete), auxiliar de serviço básico da educação e lutadora de Juiz de Fora, que entrou no MML em 2015, frisou “eu como mulher preta, me sinto fortalecida pelo movimento, porque aqui as mulheres negras, brancas, indígenas e as demais são trabalhadoras e têm o mesmo objetivo que é construir outra sociedade”. Bete está compondo a exposição sobre mulheres negras na cidade, como parte da programação Julho das Pretas. É um orgulho para nós! E o Encontro de 2013, organizado sob a influência das mobilizações de massa ocorridas em junho daquele ano, quando o MML reuniu mais de 2 mil mulheres que buscavam conhecer a organização e se colocarem em movimento.

Como representante da executiva nacional na mesa pude ressaltar  o desafio da construir um movimento de mulheres trabalhadoras frente a todas as barreiras impostas pelo machismo e pelo capitalismo: “Foram 15 anos de altos e baixos, mas sempre com a certeza de que nos interessava organizar as mulheres da nossa classe, já que mesmo sofrendo machismo as mulheres ricas se utilizam dele pra manter seus privilégios” e falei ainda da importância de fazer a luta combinada contra  a opressão e a exploração, sobretudo com o aprofundamento da crise econômica mundial, que intensifica a violência e a opressão.

Através das falas e comentários no chat, que vieram de todas as partes do país, foi possível ver a força do movimento e a possibilidade de seguirmos apresentando uma alternativa para a parcela feminina da classe trabalhadora. A companheira Rosângela Calzavara, operária de SJC e uma das fundadoras do MML expressou sua satisfação em ter feito parte dessa história “foi uma construção árdua, mas riquíssima, com muito debate ideológico e sobre as condições de vida das mulheres. Valeu e vale muito a pena seguir com essa organização porque o machismo prevalece”.

Luciane Silva, diretora do Sindmetal SJC e ativista do MML, destacou a importância da atuação conjunta do movimento com o sindicato “eu cheguei aqui dirigente sindical e logo me apresentaram o MML. No momento que mais precisamos, quando 420 metalúrgicas ficaram desempregadas pelo fechamento de suas fábricas, o MML esteve conosco nos piquetes, nos acampamentos e no suporte as trabalhadoras”.

Um dos pontos altos da noite foi a aparição dos locais onde as pessoas se reuniram para assistir juntas a Live: Manaus, Belém, João Pessoa, Recife, São Luíz, São José dos Campos, Porto Alegre. E não deu para conter a emoção com o vídeo que trouxe imagens dessa rica trajetória.

É essa tradição que queremos manter. De mulheres reais, que estão na base, construindo seu cotidiano no enfrentamento às mazelas do capitalismo. De mulheres lutadoras e destemidas que enfrentam a repressão, os governos e os patrões. De mulheres que sabem que é preciso combater o machismo no interior da classe para garantir a unidade de todos os trabalhadores. De mulheres que sonham e se dedicam a construir a possibilidade de uma sociedade sem machismo, sem violência e sem exploração. Uma sociedade socialista! Que venham os próximos 15 anos, estamos preparadas!

A campanha de 15 anos do MML vai durar ao longo de todo o ano e contará com atividades presenciais nas cidades, lives e plenárias nacionais, campanhas financeiras e lançamento de uma revista de memórias.

Assista

Live de 15 anos do MML