Roberto Aguiar, de Salvador (BA)
Os metalúrgicos do Vale do Paraíba (SP), organizados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (SP), filiado à CSP-Conlutas, estão travando uma forte luta em defesa dos empregos e dos direitos. O movimento teve início no começo da pandemia, quando o sindicato fez uma em defesa da vida dos trabalhadores, que se concretizou numa greve geral em março com a participação de 86% da categoria. Os empresários têm aproveitado a pandemia para alegar crise econômica e, assim, impor demissões.
“Durante a pandemia, Bolsonaro editou medidas provisórias e projetos de lei dizendo que garantiria emprego. Na verdade, protegeram os empresários e nãos os empregos. Tanto é assim que batemos recorde de desemprego no país. Nesse cenário, é muito importante o processo de luta e de mobilização que está acontecendo aqui”, afirma Weller Gonçalves, militante do PSTU e presidente do Sindmetal SJC e Região.
Neste momento, três grandes e importantes empresas de São José dos Campos e Região estão em processo de greve e mobilização: Embraer, Johnson Controls-Hitachi e MWL Brasil.
Embraer: luta contra demissões
Desde o início de setembro, quando a Embraer anunciou a demissão de 2.500 operários, os demitidos seguem mobilizados pelo cancelamento da medida. Já foram realizadas duas manifestações em frente à prefeitura de São José dos Campos; uma manifestação em São Paulo, em frente à sede da Fiesp; e uma caravana a Brasília para cobrar do governo Bolsonaro a manutenção dos empregos.
“João Doria e Bolsonaro ainda não tiveram qualquer iniciativa para pressionar a empresa para que reverta as dispensas. A Embraer recebeu R$ 52 bilhões do BNDES, um banco público. Empresa que recebe dinheiro do povo não pode demitir”, diz Weller.
No último dia 29, aconteceu uma audiência de conciliação entre a empresa e o sindicato, mas terminou sem acordo. A direção da Embraer permaneceu inflexível e não aceitou nenhuma das propostas apresentadas pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª região. Ao final da audiência, o TRT deferiu liminar que garante aos demitidos a extensão do vale-alimentação e do plano de saúde até junho de 2021. A Embraer é obrigada a cumprir a decisão imediatamente.
Para o sindicato, a decisão é insuficiente. “A decisão liminar é insuficiente, pois não garante o sustento de milhares de trabalhadores jogados no olho da rua pela ganância da Embraer. A empresa não precisava demitir ninguém, recebeu milhões de reais de dinheiro público e ainda mantém para alguns magnatas salários astronômicos que ultrapassam R$ 1 milhão ao mês”, avalia o diretor do sindicato Herbert Claros.
A mobilização segue. Uma comissão de trabalhadores demitidos da Embraer está procurando os candidatos a prefeito de São José dos Campos para que firmem um compromisso contra as 2.500 demissões. A comissão de trabalhadores também está procurando parlamentares para cobrar uma ação mais firme contra a demissão.
Para garantir os empregos e a soberania nacional, o sindicato defende que a Embraer volte a ser uma empresa 100% estatal. A entidade já alertava sobre os riscos aos empregos gerados pelo acordo fracassado com a Boeing. Para que os trabalhadores não fiquem à mercê dos acionistas, é necessário transformar a Embraer novamente em empresa pública.
Demissões são anuladas na JC Hitachi
Outra empresa que demitiu em meio à pandemia foi a JC Hitachi. Cerca de 20% dos trabalhadores da fábrica foram demitidos. “A categoria trabalhou aos sábados, domingos e feriados para atender a demanda. O retorno da empresa foi a demissão de mais de 40 pais de família. Mas, junto com o sindicato, fomos à luta. Realizamos protestos, montamos um acampamento dos demitidos em frente à fábrica, foi um processo de mobilização diário, o que garantiu a vitória e revertermos as demissões. A justiça determinou a reintegração de todos os trabalhadores. Uma vitória muito grande”, afirma Helves Tavares, delegado sindical na JC Hitachi.
Weller disse que a JC Hitachi simplesmente demitiu sem chamar negociação com o sindicato: “Foi logo impondo a demissão em massa”. Também explica que a luta é um exemplo para todos os trabalhadores. “Essa importante vitória dá exemplo à nossa e às demais categorias, bem como, serve de exemplos aos patrões, pois não vamos aceitar demissões”, afirma.
Operários da MWL fazem greve contra o fechamento da fábrica
Em Caçapava (SP), os operários da MWL estão em greve desde o dia 21 de setembro. A fábrica tem uma dívida de cerca de R$ 11 milhões em aluguéis atrasados e enfrenta uma ordem de despejo. Os trabalhadores estão preocupados que ela feche a porta, demita todo mundo e não garanta sequer o pagamento das verbas rescisórias.
“Se a fábrica fecha as portas, serão centenas de demissões. A empresa está mal intencionada com os trabalhadores. Se ela for despejada, como ficam nossas verbas rescisórias? Exigimos um acordo com a empresa que garanta os empregos”, pontua Francisco Vieira Neto, o Chicão, ativista sindical na MWL.
No dia 8 de outubro, os operários ocuparam a fábrica, o que forçou uma reunião com representantes da empresa na qual os trabalhadores exigiram garantias de que os empregos e os direitos serão preservados. Após a ocupação, que foi encerrada às 11h, em assembleia os operários decidiram manter a greve.
“A ocupação foi um ato legítimo e forçou o diretor-presidente a nos atender. Vamos seguir com a greve e as mobilizações. Já realizamos passeata e protestos em frente à prefeitura, em frente à câmara de vereadores, estamos em mobilização permanente. Não vamos voltar a trabalhar nessa situação”, conclui Chicão.