Nos últimos dias, a derrocada das bolsas em todo o mundo mostrou o rápido avanço da crise econômica e financeira, que têm origem na economia norte-americana. Apesar das medidas desesperadas dos governos imperialistas para conter a crise, despejando bilhões nos mercados, ela se aprofunda cada vez mais e força os mais otimistas representantes do capital a mudar o discurso.

Apagando o fogo com gasolina
No dia 16 de março, em pleno final de semana, o Fed (Federal Reserve), o banco central norte-americano, anunciou um socorro de emergência ao banco de investimentos Bearn Stearns. Diante da falência do quinto maior banco do setor, o Federal Reserve articulou sua compra pelo banco JP Morgan por um valor irrisório, de US$ 236 milhões, abaixo até mesmo do valor do prédio que abriga sua sede, avaliado em US$ 1,5 bilhão. Para viabilizar a operação, o Fed liberou US$ 30 bilhões de empréstimo para tapar o rombo do banco falido.

A medida, no entanto, ao invés de tranqüilizar os mercados, gerou uma onda de pânico no sistema financeiro. Se o Bearn Stearns estava à beira da bancarrota, nada impedia que os outros grandes bancos também estivessem. A onda de desconfiança se espalhou por todo o planeta. E o imperialismo, mais uma vez, teve que agir.
O presidente norte-americano convocou um comitê da crise para gerir a turbulência, composto por autoridades econômicas, entre elas o secretário do Tesouro, Henry Paulson e o presidente do Fed, Ben Bernanke. Como mais uma medida emergencial, o Fed anunciou o corte dos juros em 0,75 ponto, reduzindo a taxa para 2,25%. Isso fez com que a taxa de juros dos EUA seja “negativa”, ou seja, menor que a inflação anual. Com isso, as autoridades pretendem facilitar o empréstimo e estimular o consumo.

O banco, porém, emitiu uma nota apontando novos cortes no futuro e reconhecendo a atual conjuntura de crise. “O consumo enfraqueceu e o mercado de trabalho também. Os mercados financeiros continuam sob considerável estresse, e o aperto das condições de crédito e o aprofundamento da contração imobiliária deve pesar sobre o crescimento econômico”, apontava a nota.

Já os bancos centrais de Europa, Japão e Austrália seguiram o exemplo do Fed e injetaram bilhões para impedirem a bancarrota dos bancos. Está em curso uma espécie de mega-Proer repetindo o plano de FHC para salvar os bancos do Brasil, em 1995. Os governos norte-americanos, europeu e japonês agem de forma desesperada para salvar os grandes bancos do mundo.

O que está por vir
A mais recente onda de pânico dos mercados obrigou grande parte dos analistas a reverem suas projeções para o futuro. O diretor-gerente do FMI afirmou, durante conferência do fundo com a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que a crise atual vai “durar bastante, com graves conseqüências”.
O diretor do FMI desmente ainda a tese do “descolamento” da economia dos chamados países emergentes e a crise norte-americana. “Não há desconexão, mas tempo diferente”, afirmou. Isso explicaria o fato de que, apesar da economia dos EUA já estar em recessão, economias como a da China ou do Brasil ainda registrarem crescimento.

O ex-presidente do Fed, Alan Greenspan que antes afirmava serem de 51% as chances de uma recessão, já afirma que a crise já é a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Isso equivale a dizer que a atual crise, para o homem que ditou as regras da economia mundial por vinte anos, é a mais grave desde a grande depressão de 1929. Para Paul Krugman, do New York Times, o Mercado repetiu os erros daquela crise: “Tocávamos a festa como estivéssemos em 1929-1930. Enfim chegou.”
E o Brasil?

A turbulência dos mercados financeiros ocorre poucos dias depois do anúncio do crescimento do PIB do país em 2007, de 5,4%. O resultado reforçou o discurso dos que pregam um suposto “descolamento” da economia brasileira, principalmente pelo fato de que o crescimento desta teria sido provocado pelo aumento do consumo interno. No entanto, com o estouro da crise dessa semana, que afetou as bolsas no país, o discurso começa a mudar.

O ministro da Fazenda Guido Mantega, admitiu a “gravidade” da atual crise. O Comitê de Política Econômica (Copom), indicou um aumento dos juros no próximo período, o que vai na contramão do otimismo do governo. O preço das commodities, produtos primários de exportação cujo crescimento embalou o último período de crescimento do país, sofreu forte queda nos últimos dias.

Investidores estrangeiros, diante da turbulência no exterior, tiraram dinheiro daqui para cobrir prejuízos. O preço dos produtos primários teve a maior desvalorização em 52 anos. Ações da Vale do Rio Doce e da Petrobrás tiveram baixa, derrubando as ações na Bovespa no dia 19. As ações da Petrobrás caíram 11,43% e as da Vale, 10,47%.

Os últimos acontecimentos provam que a recessão já é realidade e que a economia brasileira, dependente, não está descolada do resto do mundo. O que se discute é a profundidade de suas conseqüências por aqui.

Recessão se aprofunda nos EUA
Na economia do coração do império, os sinais de recessão se aprofundam e a discussão é até onde ela vai e quanto tempo durará. Os pedidos de seguro-desemprego nos EUA tiveram forte alta, atingindo níveis parecidos aos do período que sucedeu o desastre provocado pelo furacão Katrina.

De acordo com pesquisa publicada pelo jornal Financial Times, a inflação faz com que os norte-americanos reduzam o consumo de produtos essenciais.

Além da gasolina, cujo preço subiu por causa da alta do petróleo, os consumidores norte-americanos estão tendo que cortar gastos com comida e medicamentos.Cerca de 30% dos entrevistados afirmaram que foram obrigados a economizar nesses produtos essenciais.

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