Em todo o mundo, a crise financeira está se agravando e começa a dar sinais de que também chegou ao Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa, trilhões de dólares do dinheiro público foram despejados no sistema financeiro para salvar os banqueiros em crise.

O presidente Lula antes dizia que a crise não chegaria ao Brasil. Agora, imita os governos americano e europeus. O governo brasileiro também está abrindo os cofres públicos para socorrer os bancos no país. Já foram disponibilizados R$ 160 bilhões dos compulsórios. Os depósitos compulsórios são realizados no Banco Central, diariamente, pelas instituições. Com essa isenção, os bancos possuem mais dinheiro em caixa.

E não pára por aí. Estão queimando as reservas cambiais para segurar o preço do dólar e garantir que as empresas que especulavam com o real não quebrem também. É a velha história de toda crise. Para os patrões e banqueiros há muito dinheiro. Para os trabalhadores, nada.

Um acordo dos bancos públicos (BB, CEF, Basa e BNB) custaria muito menos que os gastos com o socorro ao mercado que Lula está fazendo. No entanto, a agilidade demonstrada para socorrer os especuladores é totalmente oposta à iniciativa de negociar um acordo com os bancários.

O sindicato de São Paulo, ligado à CUT, afirma que a crise não afeta os bancos brasileiros. Um engano ou uma manobra? A entidade vinha segurando a greve desde o final de setembro e polemizava com o Movimento Nacional da Oposição Bancária (MNOB) dizendo que não havia problemas com a crise que vinha se desenvolvendo no cenário internacional.

Agora, os banqueiros já estão afirmando que a crise chegou ao Brasil. Há boatos de uma forte queda nos papéis do Unibanco e do Safra, o que poderia estar dificultando o acordo da campanha salarial na Fenaban (Federação Nacional dos Bancos).

O próprio governo está jogando bilhões no mercado para tentar amenizar os efeitos da crise, antes que haja um processo de quebradeira no sistema financeiro nacional. Mas o sindicato continua dizendo que não há problemas com os bancos brasileiros porque eles estão com seus ativos ligados aos papéis nacionais.

Com esse posicionamento, o sindicato não ajuda os trabalhadores a se prepararem para a crise. Faz um discurso nefasto, semelhante ao do governo Lula, que serve para enganar a categoria.

A oposição não concorda com isso. Em nossa opinião, é preciso debater os problemas de forma séria e preparar a categoria para a grande crise está por vir. É preciso esclarecer a real situação para os trabalhadores e não enganá-los. É necessário cobrar que os responsáveis, os grandes capitalistas e banqueiros, paguem pela crise.

Como se não bastasse, o sindicato cutista também não está escondendo o fato de o governo Lula estar despejando dinheiro no mercado financeiro.

Como acha que tudo vai bem no mundo dos negócios, o sindicato afirma que os bancos vão especular e ganhar mais com o dinheiro liberado pelo governo. Bem, se isso é verdade (e faz sentido), o sindicato deveria exigir do presidente Lula que parasse de enviar esse dinheiro para socorrer os especuladores e que realizasse uma estatização do sistema financeiro e o colocasse sob o controle dos trabalhadores.

Mas esse é o problema do sindicato e da CUT. Sua ligação com o governo Lula os impede de defender uma política coerente que prepare os trabalhadores para a crise e que fortaleça a luta pelos nossos direitos e salários.

Única saída
MNOB defende, em seus jornais e panfletos, a estatização do sistema financeiro. Evidentemente, quando os bancos estavam ganhando rios de dinheiro e as idéias liberais estavam em alta, nossa proposta parecia ser loucura.

Hoje, a crise escancarou o que representa o sistema financeiro sob o controle do mercado. Uma imensa massa de papéis podres, algo em torno de US$14 trilhões, que nenhum governo, ou nem todos os governos juntos, pode salvar.

Trilhões serão jogados no fosso aberto pelo sistema financeiro mundial. Dinheiro dos contribuintes, recursos oriundos da riqueza produzida por milhões de trabalhadores que vão se evaporar e desaparecer nesse enorme buraco.

A estatização do sistema financeiro seria uma medida séria e responsável para evitar todo esse gasto e acabaria de vez com a especulação. Mas essa medida teria de ser feita sob o controle dos trabalhadores para que fossem assegurados todos os direitos trabalhistas e um bom funcionamento do sistema estatizado.

Greve continua
Durante o fechamento desta edição, a continuidade da greve era confirmada pelas assembléias dos bancários de todo o país.

Os bancos apresentaram uma proposta ridícula, oferecendo 9% de reajuste para quem ganha até R$ 1.500 e 7,5% para quem ganha acima disso. A categoria, porém, rejeitou.

Apesar de a greve seguir forte país afora, os sindicatos da CUT fazem de tudo para manter o controle burocrático do movimento.

Em São Paulo, a diretoria do sindicato impede o debate, a apresentação e a votação de propostas necessárias para fortalecer a greve. Esse método de fazer assembléias atropelando a base se repetiu no último dia 20 e serve apenas para enfraquecer o movimento e fortalecer os patrões.

Os bancários não podem permitir que o sindicato continue com esses métodos burocráticos. É preciso se organizar e exigir democracia e respeito aos trabalhadores.

Post author Wilson Ribeiro, do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB)
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