Maria Psoa, de São Paulo (SP)

Maria Psoa, metroviária e militante do Quilombo Brasil

O dia 25 de julho é marcado como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, e o dia 31 de julho como o Dia da Mulher Africana. O “Julho das Pretas” é marcado por debates e atividades em torno ao tema da mulher negra.

A data surgiu do 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado em 25 de julho de 1992. No Brasil, se instituiu uma lei em 2014 (Lei nº12.987) criando o Dia Nacional de Tereza de Benguela, lembrada em nossas memórias como uma grande lutadora quilombola, rainha e liderança de seu Quilombo Quariterê, comunidade negra e indígena que resistiu à escravidão até 1770, ano em que foi morta.

Já o Dia da Mulher Africana já estava instituído no 31 de julho por conta da Conferência das Mulheres Africanas ocorrida na Tanzânia em 1962. Participaram 14 países e 8 movimentos de libertação nacional com o objetivo de discutir o papel da mulher na reconstrução da África, além de diversos outros temas. Com a influência que este continente tem em nossa cultura e a relação direta devido à escravidão dos africanos trazidos ao Brasil, nosso país tem muito a discutir e relembrar nesta data como mais uma de luta e organização das mulheres negras.

Mulheres negras no transporte público

As mulheres negras são as que mais utilizam o transporte público, por isso estão mais vulneráveis a sofrerem violência sexual. Pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo (2019), mostra que o perfil de 64% dos paulistanos que utilizam transporte público é formando por mulheres de 55 anos e mais, escolaridade média, com renda de até dois salários mínimos e que se autodeclaram pretas ou pardas.

Também são as mais expostas às demais violências. Dados do Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz mostram que, em relação à violência doméstica, as mulheres negras representam 58% das ligações ao Disque Denúncia 180. Em relação ao feminicídio (assassinato em função da condição de gênero), entre os anos de 2003 e 2013, representam 54%, enquanto o de mulheres brancas diminuiu 10%.

As notícias mais atuais é que as mulheres negras são as mais atingidas com a pandemia da Covid-19, vide o primeiro caso ter sido uma mulher negra, empregada doméstica no Rio de Janeiro que se contaminou pelos seus patrões enquanto trabalhava, um caso bem emblemático.

Em relação à violência policial são as que choram pelos seus maridos e filhos, mas também são executadas pelas polícias a mando dos governos, como foi com Claúdia Silva Ferreira em 2014, arrastada pelo camburão e, mais recentemente, a mulher que teve seu pescoço esmagado por um policial em São Paulo. O governo Bolsonaro personifica o racismo e a misoginia em suas falas o que reforça essa ações e vem desmontando as poucas conquistas que esses setores tiveram ao longo de suas histórias de luta e resistência.

Outro dado alarmante pelo Ministério da Justiça em 2014 é o número de encarceramento feminino que cresceu 567%. As mulheres negras são quase 40.000 mil presas, representando 70% do encarceramento total feminino. Em relação ao saneamento básico, as mulheres negras são 40% que tem mais dificuldade em acessar este serviço. Ou seja, a desigualdade social no Brasil, tem raça, classe e gênero.

As mulheres são as que mais utilizam o transporte público e as que mais reclamam do serviço, devido à falta de combate ao assédio sexual. Quando olhamos para a localização de partida desses passageiros, observamos que em sua maioria se encontram nas periferias, pois 58% dos paulistanos que utilizam o transporte público gastam em média 2 horas por dia com destino à sua principal atividade.

É necessário considerar que esse problema é mais sentido pelas mulheres, pois precisam caminhar trajetos longos até o ponto de ônibus, por morarem longe, acarretando inseguranças nas ruas que também clamam por iluminação. Portanto, a questão do transporte não deve ser apenas considerada dentro dele, mas também no trajeto até ele.

Além de serem as principais usuárias, quando falamos de emprego é a maioria que ocupam os piores postos de trabalho, assim como também estão no topo do desemprego no país. As mulheres negras são as que recebem os salários mais rebaixados e as que mais são responsáveis por chefiar suas famílias.

Para as trabalhadoras do Metrô de São Paulo não é diferente. Estas são as que menos representam o corpo de empregados da empresa. De 8.817 trabalhadores, apenas 1.713 (19%) são mulheres e a cada ano esse número diminui. Os negros em geral ocupam 2.334 (26%) dos empregados. Infelizmente, não temos a quantidade exata de mulheres negras na empresa, mas não precisa ser muito bom em matemática para concluir que os números são baixíssimos (Relatório Integrado do Metrô de São Paulo, 2018).

Esses números são opostos quando falamos das trabalhadoras terceirizadas na empresa, em sua maioria são mulheres e negras, de renda baixa, recebem baixíssimos salários e tem menos estabilidade no emprego, além dos inúmeros assédios morais que sofrem cotidianamente.

Portanto, a luta e a necessidade de organização das mulheres negras passam pela sua sobrevivência. Todo dia é uma batalha para poder viver, resistindo a todos os ataques do sistema capitalista que nos utiliza para dividir a nossa classe e explorar, sugando todo nosso sangue. Fazem isso pois se utilizam das opressões para lucrar em cima de nosso trabalho e nossas vidas. O lucro está acima de tudo! Mas não vamos nos curvar, o mês de julho, assim como todos os outros meses, são de muita luta, memória daquelas que já foram e nos deixaram legados de resistência. Lembramos de Dandara, Luiza Mahin, Acoatirene, Tereza de Benguela, Maria Carolina de Jesus, Marielle Franco e todas as mulheres negras vítimas da Covid-19.

A nossa luta é todo dia, contra o machismo, racismo, lgbtfobia e a exploração capitalista.

  • Por estabilidade no emprego, pela efetivação e direitos iguais das trabalhadoras terceirizadas e por contratações.
  • Equiparação na composição do quadro de trabalhadores, entre homens e mulheres.
  • Contra o assédio sexual e a importunação nos transportes públicos, por uma política pública eficaz que garanta a segurança das mulheres nas viagens.
  • Contra o assédio moral e sexual dentro da empresa.
  • Fora Bolsonaro e Mourão, quarentena geral já e renda digna a todos!