PSTU-DF

Miltiantes protestaram na porta do Fórum de Ceilândia e pela internetForam dez anos de espera, de angústia que pareciam estar perto do fim, com o julgamento do policial civil Arnulfo Alves Pereira, nesta terça-feira, dia 8. No entanto, para decepção e revolta de militantes e parentes, o julgamento foi adiado no início da manhã, logo após o seu início.

A promotoria pediu o adiamento por causa de um dos jurados, que trabalha na SLU (Serviço de Limpeza Urbana) do governo do Distrito Federal, onde Gildo trabalhava. Por conhecer Gildo, obviamente, não poderia ter sido listado para fazer parte do júri. Novos jurados serão escolhidos e outro julgamento está marcado para o dia 29 de julho.

A servidora pública Gleicimar Souza Rocha, 40, viúva de Gildo, parecia não acreditar. “Ele trabalha lá há mais de vinte anos. Claro que conhecia o Gildo, me conhece também. Claro que não poderia estar entre os jurados”. Depois, ela perguntou ao jurado porque ele não avisou que conhecia Gildo. “Ele me disse que não sabia que o julgamento era o do Gildo”, afirmou.

Gleicimar conta que, nas últimas semanas, desde que o julgamento foi marcado, “só se fala nisso dentro da SLU. Todos os que conheciam Gildo querem um desfecho pro caso”. Muitos dos amigos de Gildo compareceram ao Fórum, para pressionar contra a impunidade. Eles participavam de um ato na entrada, com faixas, cartazes e camisas, exigindo justiça. Parentes de Gildo também viajaram, para acompanhar o julgamento. “Três irmãos de Gildo vieram de Aracaju esperando que a Justiça fosse feita”, conta Gleicimar.

O protesto na entrada reuniu cerca de 50 militantes do PSTU, sindicalistas do Distrito Federal. Eles foram impedidos de entrar com camisas exigindo justiça. Até mesmo a esposa de Gildo foi impedida. “Estava com uma camisa com uma foto do Gildo e me disseram que não poderia entrar daquele jeito”, conta.

Intimidação
Os manifestantes não puderam entrar com camisas, mas os policiais civis que foram até o julgamento exibiram armas e distintivos. Muitos teriam entrado armados no plenário e fizeram questão de que todos soubessem disso. “Eu estava lá na entrada e um policial que chegava perguntou ‘Pode entrar armado aqui? Porque eu tô armado´. Isso olhando pra mim”, contou Gleicimar. Ela reclama ainda que foi colocada em uma antesala, junto com testemunhas de acusação, tendo de ficar ao lado de policiais, no dia do julgamento.

Cerca de 20 policiais civis acompanharam o julgamento lá dentro exibindo seus distintivos. A tentativa de pressão fez com que até um promotor se manifestasse em plenário. “Há uma exibição de distintivo aqui hoje. Mas nada vai intimidar o Ministério Público.” O promotor lembrou que cabe ao Ministério investiga crimes de policiais e que isso vai continuar ocorrendo. Ao final, um promotor pediu que o próximo julgamento ocorresse em outro fórum, no plano piloto, e não no de Ceilândia.

Do lado de fora, o clima de intimidação era ainda maior, com ameaças. “Nós vamos matar todo mundo”, chegou a dizer um policial. Eles exibiam armas e intimidavam os manifestantes. “Em um momento, todos sacaram seus celulares e passaram a nos fotografar”, conta um dos manifestantes. “Entravam com pente de bala na meia”, conta.

REVOLTA E LUTA
A notícia do adiamento foi um banho de água fria. “Eu não entendi nada. Vi eles rindo do outro lado, comemorando. Aí percebi. Mas não podia fazer nada. Não podia chorar, porque não quero mostrar fraqueza nesse momento, não mostrei até agora. E nem podia protestar. Minha vontade foi de gritar, xingar”, conta Gleicimar. Mas ela garante que isso não impedirá de seguir buscando justiça. “Só vai adiar o meu sofrimento, mas não vai conseguir fazer com que eu desista. Meu sonho é ver ele preso”, afirma.

Ricardo Guilen, do PSTU de Brasília, conta que agora, com o adiamento, o partido deve intensificar a campanha contra a impunidade. “Estamos convidando todos os ativistas,, movimentos de Direitos Humanos, Sindicatos, todos, para nos unirmos nessa campanha, até o julgamento de 29 de julho. Não podemos permitir que esse crime do governo Roriz fique impune”, afirmou. Na internet, militantes do PSTU de outros estados começaram uma campanha, trocando suas fotos pela de Gildo. Eles devem manter essas fotos durante toda a semana.

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