Na semana passada, as bolsas desabaram, pelo temor de uma nova recessão mundial. Em vários países, a queda anulou o crescimento do último ano, voltando a patamares de 2009.

O temor é justo. Já existia uma desaceleração da economia mundial antes da intensificação atual da crise. Na Europa, o primeiro trimestre de 2011 mostrou crescimento importante na Alemanha (1,5%) e França (1%), com estagnação na Inglaterra (0,5%), Espanha (0,3%), Itália (0,1%) e recessão em Portugal (-0,7%) e Grécia (-4,5%). Nos EUA, o primeiro semestre de 2011, como já vimos, apresentou uma desaceleração, com crescimento de apenas 0,9% do PIB. O Japão já vivia uma retração desde o último trimestre de 2010 (-1,1%), agravado pelo tsunami no primeiro trimestre de 2011 (-3,7%).

Sobre essa desaceleração vão recair os efeitos dos planos de austeridade que são claramente recessivos. Está colocada no horizonte a possibilidade de uma nova recessão mundial. A crise da dívida dos EUA pode ter sido um marco, semelhante à falência do Lehman Brother em 2008, de uma virada em direção a uma nova recessão.

Desigualdade
Existe ainda uma desigualdade marcante, com duas velocidades, na economia mundial. A China segue crescendo forte (9,7%, no primeiro trimestre, e 9,5%, no segundo). Não se trata de nenhum mistério, mas da continuidade da aposta do imperialismo em produzir para todo o mundo, na China, com salários baixíssimos e uma ditadura repressiva. A China não é um país imperialista ascendente, são as filiais das multinacionais que estão decidindo manter esse investimento. Isso vai seguir enquanto for possível manter as exportações para o mercado mundial e, em particular, para os países imperialistas. Durante a recessão de 2008-2009, depois de uma pequena queda, a economia chinesa seguiu crescendo. Será necessário ver como evolui agora, caso se imponha uma nova recessão mundial.

Um novo cenário
Caso ocorra uma nova recessão, a situação política já não será a mesma de 2008. Existe uma polarização da luta de classes que não existia naquela época. Isso inclui o ascenso do movimento de massas em vários países europeus, além da revolução árabe. Por outro lado, existe um grau muito maior de divisão nas burguesias dominantes. O comando imperialista está golpeado pela crise política nos EUA e o enfraquecimento de Obama, além de crises em vários dos principais governos europeus.

A crise econômica vai ter uma dinâmica completamente interligada à política. Caso o proletariado europeu consiga derrotar algum dos planos imperialistas de austeridade, ou o proletariado dos EUA entre em cena, veremos a crise econômica se aprofundar.

Cartas esgotadas
Por outro lado, o grande capital vai esgotando sua capacidade de tirar coelhos da cartola para escapar da crise. A grande cartada da injeção de dinheiro público já foi usada. Parte importante da crise atual relaciona-se com a instabilização do sistema financeiro pela crise das dívidas dos estados e o rebaixamento da dívida norte-americana. A grande bolha financeira gerada pela política anti-crise de 2008-2009 se transformou em combustível da crise atual. Não se pode subestimar a capacidade da grande burguesia imperialista em gerar iniciativas que possam adiar a crise. Mas uma parte de seu arsenal já foi usado. E está se virando contra ela.

A crise econômica recoloca a necessidade do socialismo. A economia mundial estremece mais uma vez. O caráter parasitário do capital financeiro aparece com sua verdadeira face. Mais uma vez a miséria se espalha em todo o mundo para preservar os lucros altíssimos das grandes empresas, o luxo extravagante de uma minoria de magnatas.
É possível viver em um mundo sem crises. Elas não são fenômenos da natureza, como as enchentes ou tsunamis. São um resultado periódico do domínio das grandes empresas sobre a sociedade. É necessário acabar com a propriedade privada dos bancos, indústrias e grandes comércios para poder planificar a economia em função das necessidades da população. Essa é a proposta socialista, mais atual que nunca.
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