Existe uma combinação complicada para o governo Dilma: tendência à estagnação da economia, greves e escândalos de corrupção. Há uma pequena aproximação da situação brasileira com a instabilidade mundial. Como se explica então a continuidade da popularidade do governo? Quais são as perspectivas para o segundo semestre?A economia brasileira é parte da economia mundial. Embora tenha características especiais, o país está inserido numa economia global em crise.
A crise mundial, a pior desde 1929, vive momentos decisivos na Europa, com sua evolução ligada à luta de classes. O epicentro da crise se deslocou da Grécia para a Espanha (leia página 14). A perspectiva de uma “nova Grécia” na quinta economia europeia abala o conjunto do continente.

Já existe uma recessão, ainda leve, na Europa. Houve uma queda do PIB de 0,2% na zona euro no segundo trimestre. Oito países, incluindo Inglaterra, Itália e Espanha, estão em recessão aberta. A França tem a economia já quase em recessão (dois trimestres sucessivos de crescimento zero) e a Alemanha está em desaceleração.
A recuperação capitalista necessitaria de uma severa derrota do proletariado. As lutas atuais não conseguem impedir a implementação dos planos de austeridade, mas vão impondo um clima de instabilidade e crise política que desgastam os governos de turno e limitam a possibilidade de recuperação. Trata-se de uma crise que não deve ter resolução rápida e está levando a abertura de situações revolucionárias no continente, como Grécia e, agora, Espanha.

A Europa absorve 38% das importações mundiais e a crise atual já determina hoje uma desaceleração em todo o mundo. Existia uma contradição entre o crescimento dos EUA e a crise europeia. Enquanto a Europa está em crise, os EUA confirmam sua desaceleração. Apesar de golpear fortemente o proletariado aumentando a taxa de mais valia, não existe um reflexo direto na acumulação de capital, nos investimentos, em função da crise mundial. O resultado é que o crescimento dos EUA decaiu de 3,1%, no último trimestre de 2011, para 2%, no primeiro, e 1,5% no segundo trimestre de 2012.

Os BRICS também seguem em uma dinâmica de desaceleração. A China cresceu 7,6% no segundo trimestre, o menor índice desde a crise de 2009. A Índia cresceu 5,3% no primeiro trimestre, pior resultado desde 2003. A desaceleração brasileira é parte desse quadro mundial.

Não existe ainda uma recessão mundial, como em 2008 e 2009, que é possível, ou não, de ocorrer caso se aprofunde a crise europeia.

Economia brasileira: da desaceleração para a estagnação
Existe uma desaceleração da economia brasileira. O PIB caiu de 7,5% (2010) para 2,7% (2011), e isso se aprofundou ainda mais no primeiro trimestre deste ano: 0,2%.
Podemos chamar isso de uma tendência para a estagnação, com previsão do PIB para esse ano entre 1 e 2%. Existem desigualdades que incluem uma perspectiva recessiva na indústria e continuidade de crescimento em outros setores.

Os pólos da economia (a exportação de commodities, e a produção de produtos industriais) estão sendo afetados pelo mesmo problema. As grandes multinacionais que decidem os rumos do país estão desacelerando os investimentos.

A queda do preço das commodities tem no minério de ferro uma de suas principais expressões: redução de 30% desde o ano passado, com reflexos imediatos nos lucros da Vale, que reduziu os investimentos. A balança comercial brasileira caiu, entre janeiro e julho desse ano, 38,2% em relação a 2011.

A Petrobras apresentou prejuízo no segundo trimestre desse ano (o primeiro em 13 anos), já ameaçando diminuir também os investimentos. A produção industrial teve um recuo de 3,8% no primeiro semestre. Existe um peso crescente de produtos importados no país, agravando a queda da produção industrial.

A construção civil apresentou uma desaceleração em maio e junho com índices de 47,7%. Mas a construção pesada segue crescendo em função dos investimentos estatais e da preparação para Copa e Olimpíada.

Montadoras
O setor automobilístico vive um momento contraditório. As multinacionais continuam investindo e lançando novos modelos, na perspectiva de disputa do quarto maior mercado do mundo. Estavam previstos investimentos de US$ 22 bilhões, entre 2012 e 2015, mas já existem sinais de redução. O setor teve uma queda no primeiro quadrimestre do ano (10,1%), com estoques enchendo os pátios das concessionárias. O governo então reduziu o IPI e as vendas voltaram a crescer, desovando os estoques. A produção só volta a subir em junho (3%), ajudando a indústria a ter um primeiro resultado positivo (0,2%) no ano. Em julho a produção cresce ainda mais (8,8%) em relação ao mês anterior. Mas a produção automobilística, mesmo com o crescimento dos últimos meses, ainda está 8,5% abaixo em relação a 2011.

Qual será a dinâmica nesse setor de ponta da economia? Vai retornar ao crescimento de 2011? Ou essa recuperação conjuntural vai perder força, seja pelo fim da redução do IPI, seja pelo aumento na inadimplência nos consumidores? O ritmo de investimentos das multinacionais automobilísticas vai seguir o mesmo, ou vai se reduzir? Essas são perguntas ainda sem respostas claras. É possível que a estagnação atinja o conjunto na indústria (menos construção civil pesada), incluindo o setor automobilístico. Pode ser que o setor siga crescendo e atinja as projeções da patronal de expansão em 2%. É essa situação que leva a GM a querer desativar uma parte da planta de São José e investir em outras regiões. Trata-se de uma combinação dos problemas e incertezas da economia com a reestruturação produtiva.

A indústria vai continuar com a queda, terminando o ano com índices negativos, ou seja, já em recessão? Ou vai voltar a crescer, ainda que de forma anêmica?
Já existem sinais recessivos industriais em muitas cidades com demissões, ainda que pontuais. Não se há uma recessão aberta com demissões generalizadas, mas crises em algumas empresas.

Existe, portanto, uma tendência a estagnação da economia brasileira, o que aproximaria o país da situação mundial. É pouco provável uma recessão de conjunto no Brasil em 2012. Mas há a possibilidade de uma recessão em 2013, caso a economia mundial caminhe para isso. Pode ser também que, mesmo no caso de uma recessão mundial, o Brasil alongue uma estagnação ainda sem recessão.

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