Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB) lança exigência a Lula para abertura de negociação nos bancos públicosA greve nacional bancária entra em sua segunda semana com toda força. Bancários de todo o país decidiram cruzar os braços no último dia 24. Foi a primeira vez em anos que os bancários de todos os estados deflagram uma greve unificada.

A decisão de ir à greve foi a única alternativa encontrada pelos bancários diante do impasse provocado pela Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) na mesa de negociação. Apesar dos lucros conquistados pelo setor, só nesse primeiro semestre os maiores bancos tiveram mais de R$ 14 bilhões, a proposta dos banqueiros aos trabalhadores foi de um reajuste que mal repõe a inflação do período. Os bancos oferecem apenas 4,5% de reajuste.

Os bancários, por sua vez, além do arrocho, sofrem com as demissões no setor provocadas pela recente onda de concentração, como a compra do Banco Real pelo Santander e a incorporação do Unibanco pelo Itaú. Além disso, penam com a sobrecarga de trabalho, como no caso dos bancários da Caixa Econômica Federal, que precisam atender a demanda provocada pelo programa “Minha Casa, Minha Vida”, sem que o governo tenha suprido a necessidade de mão de obra demandada pelo programa.

Como se isso não bastasse, a proposta de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) realizada pelos banqueiros é ainda pior que a do ano passado. Enquanto que, em 2008, os bancos pagaram o limite de 15% do lucro líquido em PLR, neste ano, eles querem pagar apenas 5,5%. Segundo cálculo do Dieese, essa proposta retiraria R$ 1,2 bilhão dos bancários, considerando o valor pago em PLR no ano passado pelos seis maiores bancos.

A reposta da categoria foi uma greve que, de adesão, já supera a greve de 2008. Os dois primeiros dias de paralisação contaram com o fechamento de mais de 4.700 agências bancárias e centros administrativos. “A greve está muito forte, atingiu até agora 80% dos locais de trabalho no país, só em São Paulo mais de 35 mil bancários pararam” avalia Wilson Ribeiro, bancário do Banco do Brasil e dirigente da Oposição.

Defasagem
Enquanto os bancos têm lucros recordes ano após ano, principalmente sob o governo Lula, os bancários sofrem com uma profunda defasagem salarial. De julho de 2004 a agosto de 2009, os bancários dos bancos privados amargam 24% de defasagem.
No caso dos funcionários dos bancos públicos a situação é ainda mais dramática. Os bancários de bancos como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal sofrem com perdas de, respectivamente, 80% e 90% nesse período.

Apesar disso, a direção da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro) e os sindicatos cutistas reivindicam reposição salarial de apenas 10%, menos da metade do arrocho sofrido pela categoria. Já a Contec (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito, a outra confederação, originada da antiga CGT) reivindica 25% de reajuste.

O Movimento Nacional de Oposição Bancária e sindicatos como o do Rio Grande do Norte e Bauru (SP), e Maranhão, por sua vez, lutam por um reajuste de 30%, que cubra a defasagem sofrida pelos trabalhadores e ainda garanta aumento real. O MNOB também exige que 25% do total dos lucros dos bancos sejam repartidos para todos os bancários em PLR.

Não à mesa única da Fenaban
Em todos os anos, a direção do movimento tenta “esconder” o governo atrás da mesa única da Fenaban. Impede, assim, a discussão sobre a absurda defasagem dos bancários dos bancos públicos e protege o governo do desgaste, além de estender os reajustes rebaixados dos bancos privados a toda categoria.

Por isso, o MNOB está exigindo mesas específicas de negociação, para que os trabalhadores dos bancos públicos possam reivindicar suas perdas. “Mesmo que por enquanto ainda não tenha se definido nada no âmbito da Fenaban, orientamos desde já que os bancários dos bancos públicos continuem a greve por suas reivindicações”, afirma Wilson.

Lula, negocie com os bancários!
Diante da intransigência dos banqueiros, as negociações na Fenaban estão completamente travadas. Por isso, o MNOB propôs na reunião do Comando Nacional de Greve em Brasília nesse dia 28, a aprovação de uma moção exigindo de Lula a abertura de negociação no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. A abertura de negociação nos bancos públicos ajudaria a pressionar pela negociação nos bancos privados.
“Estamos orientando que os bancários aprovem a moção em todas as assembleias da categoria”, afirma o dirigente do MNOB.

LEIA A MOÇÃO APRESENTADA PELO MNOB

Moção dos Bancários ao Governo Lula

Os bancários de todo o país iniciaram uma greve geral da categoria no último dia 24. Os bancos receberam mais de 200 bilhões de reais de vosso governo, no final do ano passado, por conta da crise econômica que se abateu sobre o mundo.

No primeiro semestre deste ano, o sistema financeiro brasileiro alcançou o estrondoso lucro de 14 bilhões de reais, e pode dobrar este valor até o fim do ano.
No entanto, a Fenaban mantém uma postura tacanha e intransigente nas negociações. Depois de sua oferta e da recusa dos trabalhadores em aceitá-la, com a greve, cessaram as negociações e não estamos com perspectivas de retomá-las.

Por isso, entendemos ser muito importante a retomada das negociações nos bancos públicos e um possível acerto, com uma proposta satisfatória, para se destravar as negociações na Fenaban.

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