Júlio Flores, de Porto Alegre (RS)

 

Em Porto Alegre (RS), desde muito cedo nossa militância se organizou nos piquetes das garagens de ônibus. As 3h30 da manhã chegamos à Carris e organizamos o piquete para impedir a saída dos ônibus. Pouquíssimos trabalhadores da empresa chegaram, indicando que havia uma forte adesão de motoristas e cobradores à Greve Geral.

De fato, por volta das 6h da manhã já constatávamos que a Greve Geral em Porto Alegre, nas principais cidades do interior e no país era uma realidade inquestionável. Não circulou um ônibus sequer na capital, e todas as 13 garagens estavam fechadas. O metrô que liga a capital a cidades da região metropolitana como Canoas, Esteio, Sapucaia estava totalmente parado, pois os trabalhadores votaram em assembleia sua adesão à greve, como fizeram inúmeras outras categorias. A Greve Geral tornou-se um fato irreversível.

Uma poderosa onda de lutas tomou conta do país! Milhões de trabalhadores e trabalhadoras de braços cruzados, de norte a sul do Brasil! Em Porto Alegre, as atividades da Greve Geral culminaram num ato e numa passeata que mobilizaram em torno de 30 mil trabalhadores e jovens que, com um largo sorriso de contentamento no rosto pelo triunfo alcançado, como uma onda, inundou as ruas da capital, bradando “Fora Temer” ou “trabalhador, sou radical, é fora Temer e o Congresso Nacional”.

Foram diversas categorias que aderiram a essa poderosa Greve Geral. Metroviários, rodoviários, professores do estado e do município, municipários, bancários, metalúrgicos, servidores da Justiça Federal. Mobilização construída pela classe explorada em protesto contra a destruição dos nossos direitos. Demonstração de resistência, de força, de vontade que tudo mude sem que a situação permaneça a mesma. Dia 28 foi, para alguns, um inédito e histórico dia. Para outros, um dia que reforça a compreensão de que a classe não está e nunca esteve derrotada e, muito menos, desmoralizada! Ou que estejamos numa correlação de forças desfavorável.

De fato, há um fio de continuidade com as jornadas de junho de 2013, mas esteve à altura das duas principais greves gerais da história de nosso pais: a de 1917, fundadora da classe operária brasileira, e aquela mais recente, a de 1989, que mostrou a força da nova classe operária brasileira que já tinha feito o regime ditatorial tremer uma década e meia antes.

Essa talvez tenha sido a mais forte greve geral de nossa história. Pelo contrário, o dia 28 demonstrou que a greve pode ter sido o ponto de virada para uma situação ainda mais favorável do que aquela que tínhamos antes para as lutas dos trabalhadores.

Que o dia 28 de abril seja apenas o primeiro de muitos que virão e que sirva para fazer refletir sobre uma análise conjuntural de fato baseada numa realidade concreta, como serve ao povo trabalhador reconhecer o seu poder. Mas também para que se possa tirar as lições históricas mais importantes das últimas quatro décadas: que as frentes populares só conduzem a tragédias para os trabalhadores e que não dá para governar com os partidos da burguesia como fizeram Lula e Dilma, o PT e o PCdoB.

Tampouco a saída, neste momento, é eleitoral com Lula ou Chico Alencar em 2018, como propõem o PT e o PSOL. Muito pelo contrário, a alternativa hoje é colocar em xeque o governo Temer e o Congresso dos ladrões e derrubá-los todos, para construir um governo socialista, dos trabalhadores, apoiados em conselhos populares. Com a força da classe operária e das mobilizações que inundaram as ruas do país, enchemos o peito para gritar mais alto: Fora temer! Fora todos eles! Operários e o povo no poder!