Não foram apenas nos estudos dos alunos da rede estadual que a greve dos professores provocou estragos. O movimento expôs a tensão entre os dirigentes da CUT do Rio, que divergem sobre como a entidade deve se comportar diante de um governo petista, seja na esfera estadual ou numa possível relação com um presidente da República do PT.

– A CUT do Rio está rachada desde o dia 1º de maio, devido às concepções de alguns companheiros sobre a relação da entidade com o governo estadual. Naquela data, a maioria da executiva decidiu comemorar o dia dos trabalhadores com o governo – protesta o secretário-geral da CUT-RJ, Ronaldo Moreno, ligado ao PSTU.

De acordo com Moreno, o esvaziamento da greve dos professores apenas refletiu a postura que os diretores adotaram durante o dia do trabalhador.

– Esses setores fizeram corpo-mole na condução da greve. A executiva da CUT decidiu não soltar uma nota de apoio à greve e contra o governo Benedita. Essa visão de que a greve é uma coisa esquerdista é a mesma concepção que a direita tinha sobre o PT – afirma.

Moreno, que apoiou a volta ao trabalho dos professores, reconhece que houve um desgaste da greve, mas ressalta que a adesão da categoria ao movimento nunca foi menor do que 40%.

Apesar de convocar os aliados para resistir dentro da CUT contra as tentativas de setores do PT em tornar entidade “chapa-branca“, Moreno reconhece que alguns militantes já falam em fundar uma nova central de trabalhadores.

– Alguns companheiros pensam assim, mas acho que temos que ficar dentro da entidade e resistirmos para que a CUT não se submeta nem ao governo da Benedita, nem a um futuro governo Lula. A não ser que algum setor do PT nos expulse, se não nos comportarmos bem – ironiza Moreno, cujo partido surgiu após a expulsão da corrente Convergência Socialista do PT.

Ligado a Corrente Marxista, grupo minoritário do PT, o presidente da CUT-RJ, Antônio Carlos Carvalho, o Carlinhos, também não mede palavras para rebater as críticas de Moreno.

– Essa é uma posição estreita e irresponsável. O PSTU tem se comportado dessa forma. Não temos a preocupação em fazer greve nesse ou naquele governo. A independência da CUT é fundamental tanto em relação aos governos, quanto aos partidos. No entanto, alguns companheiros acham importante segurar a greve em determinados governos, para se afirmarem. O radicalismo do PSTU esvaziou a greve – alfineta Carvalho, que acha que a greve dos professores deveria ter terminado uma assembléia antes da realizada ontem.

Apesar de defender a total independência da entidade e de garantir que apoiou e participou da greve dos professores, Carvalho não esconde que defenderá uma postura diferente da entidade diante de governos petistas.

– É um novo momento. Com a aproximação de Lula do Planalto Central, será um tempo de negociação e não faremos greve para afirmar nenhum partido – dispara Carvalho, mirando os companheiros do PSTU, a quem acusa de tentar ocupar o papel de PT no movimento sindical.

A corrente política petista Articulação, ligada a governadora Benedita da Silva, conta com apoio de 48% da diretoria, a CUT Rio ainda comporta entre suas lideranças militantes petistas ligados a correntes minoritárias como a Democracia Socialista, Tendência Marxista e a Corrente Socialista dos Trabalhadores. Além do PSTU, ainda possuem representação na entidade o PC do B, representado, pela Corrente Sindical Classista.

Apesar do futuro do sindicalismo fluminense parecer nebuloso, o próximo embate entre os diretores já tem data, ou melhor, greve marcada: a dos profissionais da saúde.

– Estamos tentando mobilizar, mas os companheiros ligados ao governo estão passando nos hospitais e centros de saúde dizendo que essa não é a hora para o movimento – lamenta Moreno.