Os metroviários de São Paulo realizaram no dia 14 uma das mais fortes greves da categoria. A paralisação, que teve início à meia-noite, atingiu as estações de todas as linhas da capital paulista. Foram quase 14 horas sem funcionamento dos trens, deixando aproximadamente três milhões de pessoas sem transporte.

A categoria apresentou uma pauta de reivindicações com 17 itens, entre eles: reajuste de 3,09%; aumento real de 9,98%; reintegração dos diretores demitidos; salário igual para funções iguais; 36 horas para o quadro operativo em vez das 40 horas atuais; concurso interno e para contratação de pessoal.

Traição
Após o início da greve, em uma reunião com uma comissão representativa da categoria, a direção do Metrô apresentou uma proposta que concretamente representava apenas 1% a mais no salário dos metroviários. Dos 17 itens da pauta apresentada, 14 foram respondidos com evasivas promessas de negociação que dificilmente serão cumpridas.

Para conceder esse ínfimo reajuste, a empresa exigiu que fosse antecipada para as 10h a assembléia que estava marcada para as 17h, apostando no esvaziamento da mesma. A maioria da direção do sindicato, ligada ao PCdoB, aceitou.

Os representantes da Conlutas e da Intersindical (que compõem a direção minoritária do sindicato) foram contrários à proposta da empresa, pois havia muito mais a conquistar e a categoria estava disposta a manter a luta até a vitória. Mas a posição da direção majoritária venceu e a assembléia foi antecipada. A maioria dos metroviários foi pega de surpresa com a mudança de horário e muitos sequer ficaram sabendo. O resultado foi uma assembléia com cerca de 200 pessoas, bem aquém do que seria possível reunir se fosse mantida a convocatória inicial.

Na assembléia, a maioria da direção do sindicato indicou a aceitação da proposta do Metrô. Os ativistas da Conlutas e da Intersindical foram contra, alegando que quase nada fora atendido. Devido ao esvaziamento e à manobra, a proposta rebaixada obteve aproximadamente 65%.

“Tinha muitas outras reivindicações, como a carga horária de 36 horas para operação, a contratação de funcionários para acabar com a sobrecarga, a readmissão dos diretores do sindicato demitidos. Nada disso foi atendido. Havia disposição da categoria para arrancar isso e a direção majoritária, do PCdoB, serviu para impedir esta luta”, disse Alexandre Leme, diretor do sindicato e integrante da oposição à direção majoritária.

Uma trabalhadora chegou a fazer um comparativo, referindo-se ao desconto que sofreria por conta da paralisação e reclamando do fim da greve: “vou perder quase R$ 100 pelo dia de greve e ganhar só R$ 16 a mais no meu salário, quando a gente podia ter conseguido muito mais”.

Demonstração de força
Apesar das manobras da direção majoritária, a greve fez com que a categoria se reerguesse perante a empresa e o governo Serra, que vêm atacando os metroviários. “A ação unitária da categoria contra o Metrô foi determinante para erguermos a cabeça e demonstrarmos a nossa força”, declarou Leme. “Esperamos que esse sentimento se reverta em mais luta e resistência e na construção de uma nova direção nas eleições sindicais”, completou.

O processo eleitoral para a direção do sindicato se inicia no próximo dia 27. A oposição à atual diretoria está construindo uma convenção aberta de toda a categoria, com representantes eleitos diretamente pelos trabalhadores em cada local de trabalho, para oferecer uma alternativa combativa de direção .

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