Nas ruas do bairro de Pinheiros, em São Paulo, novos buracos apareceram na semana passada, relacionados às obras do Metrô. A lembrança da tragédia de janeiro passado levou uma enorme insegurança a todos os moradores da região.

Os abalos financeiros nas bolsas de valores estão também causando instabilidade nos governos de todo o mundo. São os sinais de uma nova crise cíclica da economia internacional que está se aproximando, cada vez mais rapidamente. Esses abalos não são, necessariamente, o início da crise de imediato, que pode, mais uma vez, ser adiada. Mas eles apontam para um começo inevitável da crise, já que esta é parte da própria essência da economia capitalista.

A crise passada, em 2000 e 2001, esteve na origem de grandes convulsões políticas na América Latina. A economia argentina explodiu e uma insurreição derrubou o governo De La Rúa. No Equador e na Bolívia, outros governos caíram.

Em todo o continente, a crise cíclica gerou um desgaste enorme dos planos neoliberais e dos governos que os sustentavam, o que possibilitou as derrotas eleitorais dos partidos de direita. Aqui no Brasil, a crise foi uma das explicações centrais da vitória eleitoral de Lula em 2002, assim como o crescimento econômico posterior favoreceu sua reeleição no ano passado.

Assim, os sinais da próxima crise cíclica anunciam novas convulsões políticas e sociais no continente. As conseqüências políticas não dependem mecanicamente da economia, embora sejam fortemente influenciadas por ela. Mas já se pode esperar uma maior polarização e radicalização das lutas.

Lula está se preparando para enfrentar a crise. Por um lado, vai mais à direita para tentar manter o apoio da grande burguesia. O ministro Luiz Marinho está prometendo para setembro a apresentação do plano de reforma da Previdência. Por outro lado, o governo investe na criminalização dos movimentos sociais: prepara uma lei antigreve, na mesma linha de José Serra (PSDB), que demitiu 61 pessoas no Metrô de São Paulo.

O movimento também se prepara para grandes lutas. A Conlutas, o MST, a Intersindical e a Assembléia Popular estão organizando o plebiscito da Semana da Pátria, com as quatro perguntas contra o pagamento das dívidas e os altos preços da energia elétrica, contra a reforma da Previdência e a favor da reestatização da Vale.

Depois do plebiscito, a segunda grande atividade deste segundo semestre será a marcha a Brasília em outubro. Junto com isso, as campanhas salariais podem adquirir uma importância ainda maior que no primeiro semestre. Afinal, estão envolvidas algumas das categorias fundamentais dos trabalhadores, como metalúrgicos, petroleiros e bancários.

Derrotar o governo e sua proposta de reforma da Previdência não será fácil. Esse é o projeto de toda a burguesia e do imperialismo, e que já está envolvendo todos os jornais e tevês.

A primeira batalha será pela consciência dos trabalhadores e do povo. Eles vão querer ganhar a opinião pública a favor da reforma, tentando mostrar os que têm aposentadoria como privilegiados. E nós mostraremos que não existe déficit da Previdência, que serão os banqueiros mais uma vez os beneficiários dessa reforma.

O plebiscito de setembro será um primeiro teste. Vamos ligar a batalha contra a reforma da Previdência à luta pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. O Opinião Socialista dedica as páginas centrais da edição 310 ao tema da Vale.

É possível vencer. O primeiro teste de nossa força será a quantidade de votos que conseguiremos recolher no plebiscito. Isso indicará o tamanho do trabalho de base feito pela campanha, o primeiro resultado da batalha pela consciência dos trabalhadores e estudantes.

Um grande plebiscito possibilitará a preparação de uma grande marcha em outubro. Pode ser que realizemos a maior manifestação contra o governo Lula. Será um grande ato nacional, num momento em que Lula poderá lançar o seu mais duro ataque contra os trabalhadores desde sua posse, com o anúncio da reforma da Previdência.

Voltemos agora aos sinais de crise econômica próxima. O Brasil pode afinal entrar no rumo das grandes convulsões sociais da América Latina. As lutas deste segundo semestre podem ser os primeiros sinais dessa tendência.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 310
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