Aldo Rebelo (PCdoB) com Thomaz Nonô (PFL), candidato da oposição de direita
Agência Brasil

Deputado do PCdoB irá garantir a recuperação da ‘credibilidade´ do Congresso e o fim da crise políticaA Câmara dos Deputados foi palco, nesse dia 28 de setembro, das cenas mais explícitas de fisiologismo e picaretagem já protagonizadas pelo governo Lula. Se as imagens das malas de dinheiro sendo distribuída para os deputados do mensalão não foram registradas, não se procurou esconder as cenas vergonhosas das negociatas entre governo e praticamente todos os partidos do Congresso.

A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, longe de configurar uma oposição radical entre governo e a oposição de direita, resumiu-se tão somente à definição sobre quem vai ter o controle da pizza. Os principais candidatos foram Ciro Nogueira (PP), afilhado político de Severino Cavalcanti, o pefelista José Thomas Nonô, ex-collorido que substituiu Severino e o candidato oficial do governo, o “comunista” Aldo Rebelo.

Negociatas bilionárias
Só em emendas parlamentares, o governo liberou mais de R$ 500 milhões para comprar o apoio dos deputados ao candidato Aldo Rebelo (PCdoB). As promessas para liberação de verbas para os ministérios controlados pelos partidos do mensalão foram então bilionárias. Só para o Ministério dos Transportes, que tem à frente Alfredo Nascimento, do PL, o governo prometeu liberar nada menos que R$ 1 bilhão. Até ministérios, como o da Educação, foram prometidos.

O Planalto jogou pesado na vitória de Aldo. Lula pessoalmente comandou todos os esquemas de negociatas para garantir a posse de seu candidato. Todos os ministros dos partidos que encabeçam o escândalo do mensalão pressionaram seus deputados. Além do ministro dos Transportes, o ministro das Cidades, Márcio Fortes (PP) e Walfrido dos Mares Guia (PTB) também puseram a mão na massa e articularam a votação no candidato do PCdoB. Relatos dão conta que as reuniões entre líderes partidários e deputados tiveram até mesmo constrangedoras cenas de choro.

As negociatas envolveram diretamente até mesmo os parlamentares já condenados por corrupção, como o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto e o ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e os que ainda serão julgados.

Votação apertada
Mesmo com toda a máquina a favor de seu candidato, o governo venceu com uma estreitíssima vantagem. Aldo Rebelo empatou com José Thomaz Nonô no primeiro turno da votação, tendo 182 votos cada um. No segundo turno, o deputado do PCdoB venceu com apenas 15 votos de vantagem, tendo 258 votos contra 243.

Em seu discurso de posse, Rebelo não escondeu o principal motivo pelo qual fora eleito. “Terei coragem de defender os inocentes”, afirmou, deixando claro que sua principal missão à frente da presidência da Câmara será a de preparar a pizza e absolver os deputados envolvidos no mensalão. Para angariar votos, os candidatos do PFL e do governo não pouparam elogios nem mesmo a Severino Cavalcanti. De olho nos votos do “baixo clero”, Rebelo elogiou o projeto de Cavalcanti que garantiu anistia simbólica a Frei Caneca.

No segundo turno, os votos de Severino foram para o candidato do governo. Enquanto Aldo Rebelo e demais parlamentares governistas comemoravam efusivamente o resultado da votação, o deputado ameaçado de cassação, José Janene (PP) recebia, da mesa da Câmara, uma ligação do próprio Severino. Sem o mínimo pudor, parabenizou o companheiro de partido: “- Parabéns, presidente. Ganhamos. Vai tudo dar certo.”

Uma pizza vermelha?
Não seria exagero afirmar que o PCdoB atingiu o fundo do poço. Desde o início do governo Lula, o partido ocupou um lugar marginal na máquina, beneficiando-se das migalhas das benesses do poder e abrindo mão de uma diferenciação política e de um perfil próprio neste governo de Frente Popular.

Agora, o partido jogou todos os escrúpulos às favas e assumiu com todas as forças as práticas clientelistas e fisiológicas dos mais corruptos partidos de direita. Hoje, o PCdoB não se diferencia em nada dos demais partidos, como transparece claramente nas imagens de Aldo se confraternizando com os parlamentares ícones da direita.

Para os que ainda se surpreendem, será um deputado do PCdoB que irá prestar o desserviço de recuperar a ‘credibilidade´ do Congresso. Depois de uma crise que fez com que 90% da população declarar não confiar nos políticos, caberá ao deputado Aldo Rebelo o papel de tentar devolver a este antro de corrupção um pouco de confiança dos trabalhadores e jovens.

Um dos primeiros objetivos dos revolucionários, ao assumir um mandato, é a denúncia permanente e implacável do parlamento burguês. Não esperemos que esse ensinamento de Lenin seja seguido pelo PCdoB. Em vez de denunciar as falcatruas e gerar ainda mais desconfiança com a principal instituição, Aldo e os parlamentares do PCdoB fazem o oposto, dando condições para que a crise possa ser encerrada e para que mais e mais pessoas voltem a acreditar que sua vida possa ser mudada pelo voto. A democracia dos ricos agradece.

Oposição ‘responsável´
Já o PSOL também cumpriu um lamentável papel na legitimação da eleição do candidato do governo e na preparação da pizza. Apesar de o PSOL ter declarado que anularia seus votos, os deputados recém-saídos do PT que aderiram ao partido, Ivan Valente (SP) e a deputada federal Maninha (DF) declararam apoio ao candidato do governo Lula. Valente afirmou que “combinou” com a direção do PSOL que haveria um período de “moratória” nas decisões da Executiva do partido. O deputado Chico Alencar (RJ) também declarou o voto em Aldo.

Fora Todos!
Por isso o PSTU chama o “Fora Todos”, a fim de expressar o repúdio da população às instituições corruptas da democracia burguesa, e aponta para a necessidade da construção de uma alternativa dos trabalhadores e da juventude à crise. Agora, é Fora Aldo também!