Luis Fábio* sentiu na pele o crescimento da montadora General Motors, em São José dos Campos (SP), nos anos que antecederam a crise econômica, quando a o ritmo de produção estava bastante elevado. Sofreu uma lesão no ombro esquerdo, embora não tenha sido considerado como acidente de trabalho. “Com a crise”, conta Luis, “as linhas pararam e o clima de insegurança tomou conta dos trabalhadores”. Os lesionados foram os que sofreram mais, pois sentiam medo que a empresa falisse e se dedicavam além do que seus corpos suportavam.

Segundo Luis, depois da crise e da falência da matriz, a produção foi retomada nos mesmos patamares anteriores, mas com um agravante: a GM começou com uma forte política de redução de custos, deixando faltar, inclusive, equipamentos de proteção individuais (EPIs). O que tem gerado mobilização entre os trabalhadores, organizados pelo sindicato. Para ele, pelo fato de no Brasil as vendas continuarem crescendo, diferentemente do que acontece nos EUA, “a gente tem que mandar o dinheiro para a matriz. De onde o dinheiro está saindo? Das nossas costas”.

Antes de trabalhar para GM, Luis vendia sua força de trabalho à cervejaria AmBev, onde a cultura de “células de trabalho é mais forte”, segundo ele.
Comparando as duas empresas, Luis diz que na GM existem outras formas de pressão, porém, um pouco mais veladas, inclusive pela atuação que o sindicato dos metalúrgicos tem lá dentro, o que impede que a empresa explore ainda mais a categoria.

Mesmo com essa organização, Luis denuncia a dramática quantidade de lesionados dentro da empresa. Ele percebe isso quando vai ao ambulatório que sempre está lotado a qualquer hora do dia. São companheiros com radiografias, colar cervical, coletes para a coluna, numa cena que se assemelha a um hospital comum.

Luis conta que existem partes do carro que só o trabalhador consegue soldar, usando a pontiadeira. Ela é uma das máquinas que mais lesiona os metalúrgicos, segundo ele, pois tem a regulagem de altura imperfeita obrigando o trabalhador a fazer força para que ela se adapte a sua altura. “Você se arrebenta de todos os lados, além do peso, o ritmo é muito grande, 30 ou 35 carros por hora”, disse, e completa: “A General Motors é um verdadeiro moedor de carne”.

O metalúrgico acredita que é necessária e importante a organização dos trabalhadores junto ao sindicato. Luis percebe que ao ler o jornal da entidade a sua situação é comum em todas as fábricas: “O sindicato somos nós… e temos que brigar, porque, o que interessa para a empresa são pessoas cordeirinhas, que aceitem tudo de cabeça baixa”.

*o nome verdadeiro foi omitido para evitar perseguições
Post author Cae batista, de São Paulo
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