Destroços de explosão provocada pelos ataques israelenses

A atual ofensiva de Israel à faixa de Gaza só pode ser compreendida no marco da estratégia geral deste estado nazi-sionista: a de eliminar o povo palestino e, consequentemente, sua heroica resistência contra a ocupação dos territórios da palestina histórica que já dura mais de 60 anos. Neste sentido, é importante afirmar que não passa de uma utopia reacionária a busca da paz no Oriente Médio com a preservação de um Estado cuja natureza é racista e militarista a serviço de proteger, a qualquer custo, os interesses da burguesia imperialista no Oriente Médio.

Nunca é demais partir desta caracterização, pois milhões de pessoas comovem-se com os atentados sofridos pela população palestina que vive enclausurada na faixa de Gaza, sob terríveis condições. No entanto, ao mesmo tempo, carregam várias dúvidas sobre se é correto ou não apoiar a luta do povo palestino, já que também condenam os métodos terroristas de alguns setores que compõem um amplo movimento de massas, que é a resistência palestina.

Soma-se a isso o papel criminoso da mídia mundial ao cobrir o conflito árabe-israelense como se fosse uma luta entre iguais, ou então uma luta do “barbarismo mulçumano contra a única democracia do médio oriente” ou da “intolerante cultura árabe contra as vítimas do holocausto”. Neste sentido, em cada novo capítulo deste conflito, faz necessário reafirmar quem é o Estado de Israel, sua natureza, quando, como foi criado e suas consequências para a população árabe palestina. A resposta de cada uma dessas perguntas nos leva a apoiar a luta dos oprimidos contra um Estado racista opressor, coloca-nos, categoricamente, do lado da resistência palestina.

Desde que a situação em Gaza voltou a tornar-se mais tensa, a imprensa internacional vem agindo a favor do lobby sionista. Enquanto os 600 ataques aéreos israelenses já deixaram mais de 40 mortos, sendo 8 crianças e 300 feridos, o maior periódico espanhol, o El País, destaca o aumento do poder de alcance dos foguetes do Hamas. O maior site de notícias do Brasil (Folha UOL) segue a mesma linha. Deixou como manchete em seu portal, por quase 10 horas, um artigo intitulado “pela primeira vez na história, Jerusalém é atingida por um foguete palestino.” E assim poderiam ser dados outros tantos exemplos que confirmam de que lado as empresas de comunicação estão neste conflito.

Toda esta ladainha tem objetivos claros: reforçar o mito israelense da segurança nacional, convencer as massas de que Israel tem o direito de “defender-se” contra um inimigo muito “perigoso e inculto” (o Hamas e o povo palestino) e preparar uma ocupação terrestre em Gaza, que poderia terminar em mais um banho de sangue palestino. Mais do que nunca, o sionismo precisa colocar seu lobby em ação, comprando a imprensa, fabricando notícias, fatos e buscando o apoio irrestrito das potências imperialistas, pois, pela primeira vez história, Israel nunca se encontrou tão isolado. O imperialismo americano, através de seu principal representante, Obama, já defendeu o direito de defesa do povo de Israel e colocou seu sistema de defesa de morteiros e mísseis a serviço do estado judeu, enquanto o mesmo já detonou mais de 600 ataques aéreos em Gaza.

Crise econômica, revolução árabe e eleições legislativas
A ofensiva em curso ocorre num cenário que antecede as eleições legislativas em Israel. O primeiro ministro do país, Benjamin Netanyahu, preparou, conscientemente, as provocações que deram origem a nova escalada de violência. O objetivo é o de desviar a atenção das massas israelenses às vésperas das eleições.

Israel sofre com os efeitos da atual crise econômica mundial. Hoje, 1/4 de sua população vive abaixo da linha de pobreza, a inflação está alta (o preço dos bens de consumo custam o dobro quando comparado com o continente europeu), o desemprego entre os jovens é alarmante, o acesso à moradia é outro problema e direitos sociais estão na mira do governo.

No início de setembro do ano passado, manifestações de massas, contra a deterioração do nível de vida e aos planos econômicos de Netanyahu, ocorreram nas principais cidades Israelenses (Haifa, Jerusalém e Telavive). É por isso que o Likud busca recompor, artificialmente, a popularidade de Netanyahu sob o manto de reforçar o sentimento de unidade dos colonos judeus e proteger os cidadãos israelenses em meio à onda de “ataques do Hamas”.

A ação de Israel é tão descabida que, segundo o ativista israelense Gershon Baskin, o ex-principal líder militar do Hamas, Ahmed Jabari, estava trabalhando num acordo de paz permanente entre Israel e Palestina momentos antes ter sua vida ceifada por um ataque aéreo sionista. Jabari estava formulando um documento de cessar fogo mesmo diante da intensificação da escala de violência sionista em Gaza. De acordo com Baskin, as autoridades israelenses sabiam disso e, mesmo assim, autorizaram o ataque.

Fica claro que o inimigo de Israel não é o Hamas. É todo o povo palestino. Basta ver o caráter dos ataques, o que é destruído e quem são as vítimas. O combate ao Hamas e ao terrorismo é uma desculpa para seguir o genocídio e a pilhagem das riquezas do povo palestino com o apoio interno da maioria da população judia e externo dos estados imperialistas.

Não é a primeira vez que Israel faz isso. Em 1981, Menachem Begin atacou Badgá a apenas meses dos comícios. Shimón Peres também estava a alguns meses das eleições durante a operação Uvas da Ira no sul do Líbano em 1996. Em 2009, o então primeiro ministro Ehud Olmert iniciou a operação Chumbo Fundido que resultou no assassinato de quase 2000 palestinos, no cerco à Gaza e na destruição de sua já frágil rede de infraestrutura. Na ocasião, houve manifestações de solidariedade ao povo palestino em todo mundo, que ganharam caráter de massas nos países árabes.

Outro elemento de desestabilização de Israel, que o leva a reforçar o mito da segurança nacional, é seu crescente isolamento político no Oriente Médio causado pela situação revolucionária aberta no norte da África e Oriente Médio. A luta contra o Estado de Israel e a causa palestina é uma bandeira que unifica as massas árabes. Desde de sua criação, Israel vive em guerra permanente contra o mundo árabe para defender os interesses do imperialismo norte-americano na região.

A partir da decadência do nacionalismo árabe, coroada com a capitulação da direção da OLP (Organização de Libertação para a Palestina) nos acordos de Oslo, a maioria dos regimes árabes acentuou seu giro à direita, reconhecendo o Estado de Israel, abandonando a luta por sua destruição e transformando-se em sócios-gerentes dos negócios das multinacionais do petróleo no Oriente Médio. Neste sentindo, traindo as massas árabes, em especial o povo palestino.

No entanto, a revolução árabe voltou a levantar com força e de forma unificada a bandeira da causa palestina e a luta contra o Estado de Israel. As mobilizações que varreram Marrocos, Tunísia, Líbia, Egito e os países da península arábica denunciaram a conivência destes regimes com a política e os massacres impetrados por Israel na região. Não é a toa que o presidente eleito do Egito, Mohamed Mursi do partido da Irmandade Mulçumana, viu-se obrigado a visitar Gaza em meio aos ataques, abrir as fronteiras e condenar os ataques publicamente. Bem diferente do que ocorreu aos ataques à Gaza em 2009, quando ex-presidente Mubarak atuou abertamente de forma criminosa a favor de Israel e do imperialismo, fechando a fronteira entre Gaza e Egito.

A atual situação de isolamento político de Israel detonada pela revolução árabe, em meio a uma grave crise econômica internacional, a queda no nível de vida de sua população e as eleições legislativas leva o estado sionista a voltar seus esforços para reforçar o sentimento de unidade interna ao redor da suposta defesa de sua população contra o terrorismo.

O tiro de Israel pode sair pela culatra
Todo apoio ao povo palestino!

Porém, esta nova agressão é uma faca de dois gumes e pode gerar o efeito oposto do esperado pelo Likud e Netanyahu. Em 2009, apesar do número de mortos do lado palestino, a heroica resistência desse povo e a solidariedade internacional derrotaram os planos sionistas. Caso Israel invada por terra Gaza e promova um novo massacre, pode detonar um movimento de massas maior do que presenciamos há três anos, acentuar a situação revolucionária no mundo árabe, aumentar a unidade das massas árabes e enfrentar um questionamento de massas dentro do seu território.

É tarefa de todas as organizações sindicais, populares, de direitos humanos e partidos de esquerda organizarem uma ampla campanha de solidariedade (política e material) ao povo palestino e de denúncia de Israel. Precisamos exigir dos nossos governos, em nosso caso do Governo Dilma, o rompimento das relações diplomáticas e comerciais com Israel. É necessário avançar na campanha de boicote aos produtos israelenses. Assim como ocorreu em 2009, os sindicatos dos portuários e estivadores em países da Europa devem orientar suas categorias a não desembarcar nenhum produto israelense em seus países. Organizemos comitês em defesa do povo palestino que cumpram o papel de tocar a campanha nas grandes cidades do país.

Estamos diante da mais longa ocupação colonial da história moderna e da tentativa de exterminar todo um povo. A população palestina resiste bravamente a esse plano. É hora da classe trabalhadora mundial dá uma resposta altura da resistência do povo palestino.

Contra um novo massacre de Israel Gaza, somos todos palestinos!

*Membro do PSTU e professor da rede pública estadual do Ceará.

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