Contra as direções governistas, categoria avança na construção da maior greve da históriaA campanha salarial dos funcionários dos Correios se fortaleceu nesta semana. Ocorreram assembléias da categoria por todo o país no dia 10 de setembro, que reafirmaram o indicativo de greve, rejeitando o arrocho imposto pela Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). Pouco antes das assembléias, a empresa apresentou uma nova proposta, aumentando de 6% para 8% o índice de reajuste. Entretanto, todas as assembléias a rejeitaram e confirmaram as assembléias marcadas para o dia 13 de setembro e o indicativo de greve para o dia 14. A greve está se construindo contra a vontade das direções governistas.

Em algumas assembléias também se expressou o descontentamento da base da categoria com a CUT. Quando o presidente da CUT/RJ, Jaime, foi falar na assembléia do Rio, um setor, entre os 1.200 presentes, questionou se ele deveria falar ou não. A direção do sindicato impôs a fala dele. Os ativistas da oposição, ligada à Conlutas, ficaram de costas e um setor da assembléia aderiu ao gesto. Uma outra grande parte vaiou o dirigente cutista durante todo o seu discurso.

Em São Paulo, os dirigentes governistas realizaram uma assembléia relâmpago e burocrática. Um acordo entre o PT e o PCO limitou as falações aos membros do comando que estão participando das negociações. Com isso, os militantes do PSTU não puderam falar. A assembléia durou pouco e muitos trabalhadores chegaram após o seu término.

Arrocho dos trabalhadores X lucros da empresa
Apesar dos lucros recordes, a direção dos Correios oferece apenas 8% de reajuste. A direção do movimento, encabeçada pela Articulação e pelo PCdoB, tenta manobrar uma contraproposta para impedir a greve.

Os trabalhadores acumulam uma defasagem enorme nos últimos dez anos. A reivindicação salarial necessária para recompor as perdas da categoria, de 10 de junho de 1994 a 31 de junho de 2004, é de 52,23% (dividido em três parcelas de 15,04%) + 6,61% de reposição da inflação do período de agosto de 2004 a julho de 2005 + 20% de reajuste real.

Articulação Sindical pede ajuda a Lula
Os pelegos da Articulação chegaram a ponto de agir como verdadeiros agentes da ABIN (serviço de inteligência do governo) para tentar impedir um grande movimento de greve do setor. Dois membros do comando de negociação, Rogério Queiroz Trabuco, de São Paulo, e João Maurício Gomes da Silva, do Rio, encaminharam um documento à presidência da República, relatando detalhes do movimento sindical e entregando organizações operárias diretamente ao chefe do corrupto governo Lula.

O documento defende Lula e mostra-se temerário quanto à deflagração de uma greve, que pode ocorrer partindo da insatisfação da base da categoria. Os dois dirigentes, em nome da Articulação Sindical, deixam claro que são contra a greve, que, segundo eles, “na atual conjuntura será extremamente prejudicial à estabilidade do governo Lula”, e temem que essa possa ser “a maior greve da história dos Correios”.

Traição
Na mesma ocasião em que entregaram o documento à presidência, os dois dirigentes da Articulação aproveitaram para negociar o índice de reajuste diretamente com o governo, passando por cima das assembléias de base realizadas em todo o país.

Rogério Trabuco e João Maurício apresentaram uma proposta ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, de 6% de reajuste, mais um abono de R$ 600.

O documento dirigido ao presidente e as negociações que os dois fizeram diretamente com o ministro, apresentando proposta diferente da aprovada nas assembléias, são fatos que não deixam dúvidas quanto às intenções dessas direções governistas de barrar a greve da categoria.

Diante dessas atitudes, uma reunião ampliada do Comando Nacional, realizada em Brasília no dia 3 de setembro, aprovou destituir os dois dirigentes de seus cargos no comando. A reunião contou com a presença de pelo menos um representante de cada um dos 34 sindicatos dos Correios espalhados pelo país.

A Articulação e o PCdoB, por sua vez, resolveram não acatar a decisão e se retiraram da reunião ampliada do comando. Diante disso, é preciso divulgar essas traições em todas as assembléias e lutar para que a mobilização da categoria passe por cima dessas direções, construindo, de fato, a maior greve da história dos Correios.

Conlutas enfrenta boicote nas negociações
Além dos trabalhadores dos Correios, diversas outras categorias de peso estão em plena campanha salarial, como bancários, metalúrgicos e petroleiros. As oposições sindicais, impulsionadas pela Conlutas, enfrentam os patrões, o governo e as direções sindicais governistas.

Temendo a Conlutas, essas direções boicotam os sindicatos ligados à Coordenação, não deixando que participem das negociações. Em petroleiros, por exemplo, a direção da Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada à CUT, excluiu da mesa de negociação todos os sindicatos ligados à Conlutas.

Post author Yara Fernandes, da redação, e Guilherme Fonseca, do Recife
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