O Fórum Social Mundial (FSM) vai ser realizado entre os dias 26 e 31 de janeiro de 2005. Será um bom momento para uma avaliação das propostas até hoje hegemônicas nas edições anteriores do Fórum, em essência, de humanização do capitalismo.

A expectativa da maioria do FSM se sintetizava na eleição de Lula. “Um outro mundo é possível” é a frase símbolo do Fórum, e esse mundo, para essa maioria, poderia ser alcançado por eleições, sem nenhuma necessidade de uma ruptura com o capitalismo.

Com Lula, ao invés das mudanças apregoadas, veio a continuidade do neoliberalismo. Os planos de reforma defendidos pela maioria do FSM servem hoje como parte das políticas sociais compensatórias, utilizadas para mascarar a política econômica neoliberal.

Mesmo assim, as políticas sociais compensatórias implementadas por Lula ocupam um papel ultra-secundário. As verbas para programas como Fome Zero (uma das estrelas do Fórum anterior), foram ridículas. Mesmo nestas propostas limitadas, o governo não aplica os recursos necessários, que são consumidos com o pagamento dos juros aos banqueiros. É por esse motivo que Oded Grajew, um dos organizadores do Fórum, saiu do governo, assim como Frei Betto e tantos outros.

A experiência com Lula comprova que, uma vez no poder, os governos social-democratas se dedicam a continuarem com o plano econômico neoliberal. Como o neoliberalismo não permite uma política social sequer reformista, temos o dilema criado para a maioria do Fórum: são reformistas quando estão na oposição, neoliberais no governo. E isso gera a crise atual entre as ideologias e propostas reformistas de antes e a prática atual implementada por Lula (e pela social-democracia européia).

É muito interessante ver como correntes que antes tinham como referencial o socialismo revolucionário, como a Democracia Socialista (DS), hoje serem partes dessa maioria reformista do FSM. A DS é coerente com essa postura, sendo parte do governo neoliberal de Lula, tendo um ministro da reforma (ou contra-reforma) Agrária.

Dois símbolos marcam a crise desta edição 2005 do Fórum. Na edição de 2003, Lula passou triunfalmente por Porto Alegre, em direção a Davos, onde se realizava um outro Fórum, o dos banqueiros. Passou em Porto Alegre só para cumprir tabela, participou mesmo para valer do Fórum de Davos. Em janeiro próximo, nem isso acontecerá. Lula não vai a Porto Alegre, seguirá direto para Davos.

O segundo símbolo da crise é a derrota do PT em Porto Alegre. Será a primeira edição do FSM em uma cidade não administrada pelo PT. No momento em que o Fórum estiver se realizando, os militantes petistas estarão ainda chorando as mágoas da derrota. Em particular, os cerca de 700 que tinham cargos comissionados, muitos deles da chamada “esquerda petista”.

Um outro mundo só é possível com o socialismo

Vai existir, nesta edição do Fórum, uma alternativa pela esquerda. A Conlutas vai realizar atividades, que incluem um grande debate sobre o governo Lula e as perspectivas da esquerda no Brasil (estão sendo discutidas também outras propostas de atividades). No Fórum também será realizado o Encontro Nacional da Conlutas, onde serão discutidos os rumos de uma nova alternativa à CUT governista, com ativistas e dirigentes sindicais.

A revista Marxismo Vivo vai promover um debate sobre a democracia burguesa na América Latina, contando com a presença de James Petras (ver entrevista ao lado), Fidel Nieto (ex-dirigente da Frente Farabundo Martí de El Salvador), de um representante da esquerda revolucionária uruguaia, e de Valério Arcary, do PSTU.

Vão existir também diversas atividades importantes da Campanha contra a Alca e do Tribunal contra a Dívida Externa.

Nessas atividades, apontar-se-á para um sentido distinto ao da maioria do FSM, o de que “um outro mundo só é possível com o socialismo”.

Onde está o pluralismo?

A direção do FSM afirma defender o pluralismo e a democracia. Nem tanto. Na prática parece existir, ao contrário, uma preocupação em evitar a expressão de uma postura crítica.

A edição de 2005 do FSM poderia ser muito rica em ensinamentos a partir das experiências negativas do governo Lula, se essa fosse a proposta de sua direção. Não parece que seja assim.

A Conlutas tinha marcado suas atividades no Ginásio Araújo Viana, um amplo local que, em edições passadas do Fórum, abrigou iniciativas do MST. Já estava com o contrato praticamente assinado (pagando o caro aluguel desse espaço), quando o ginásio foi confiscado pela direção do FSM, sem qualquer explicação. Até o momento em que fechávamos esta edição, a direção do Fórum ainda não havia definido um local alternativo para as atividades a serem desenvolvidas pela Conlutas e pela revista Marxismo Vivo.

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