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Dr. Ary Blinder, médico do SUS em São Paulo (SP)

Ary Blinder

A pandemia do coronavírus está chacoalhando muitas “certezas” que a burguesia se esforçou para enfiar na cabeça da classe trabalhadora e do povo. A primeira “certeza” que ruiu como um castelo de cartas foi a ideia de que um Estado mínimo é o melhor para o conjunto da sociedade. Ficou claro rapidamente que a contínua retirada de direitos sociais e trabalhistas que se deu na maioria dos países deixou a classe trabalhadora e o povo pobre profundamente vulneráveis às consequências da pandemia. Os governos burgueses foram obrigados a deixar de lado seu ideário neoliberal e partir para a execução emergencial de planos de proteção social a estes setores vulneráveis da sociedade, que são a grande maioria da população.

Outra “certeza” que caiu por terra foi de que os serviços públicos são piores do que aqueles oferecidos pela iniciativa privada. O país mais rico do mundo, os EUA, estão agora pagando caro por terem um fraco sistema público de saúde, pois priorizaram o setor privado por anos a fio. Os mortos já se contam aos milhares, a rede de atendimento está abarrotada e os planos privados simplesmente não dão conta do serviço, apesar do alto montante de dólares que a sociedade americana transfere anualmente para eles. Um sistema de saúde voltado para o lucro simplesmente não sabe lidar com a complexidade de situações criadas por uma epidemia deste porte, que necessariamente exige para seu enfrentamento uma visão mais abrangente e social .

No Brasil, apesar do presidente de ultradireita diariamente tentar desqualificar a importância da epidemia, o fato de existir o SUS permite que o governo tenha alguns instrumentos para enfrentar a crise, desde uma rede de atendimento espraiada por todo o país, vigilância sanitária, agentes de saúde que visitam os  bairros mais carentes, uma quantidade de centros de estudo epidemiológico com razoável conhecimento da realidade social diferenciada pelas regiões do país. Tanto isso é verdade que o próprio ministro da Saúde, Henrique Mandetta, notório defensor  dos planos de saúde privados, pode se apoiar nesta rede do SUS para monitorar a crise do coronavírus e se enfrentar (de forma parcial e insuficiente) com seu chefe Bolsonaro, principalmente na discussão da importância do isolamento social como forma de enfrentamento à Covid-19.

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Isso não significa que não estejamos enfrentando grandes problemas no SUS, fruto de anos seguidos de subfinanciamento através de vários mecanismos impostos pelos seguidos governos, inclusive por aqueles que diziam defender o SUS. Os baixos salários, jornadas de trabalho estafantes, a falta de equipamentos de proteção individual para os trabalhadores da saúde, a falta absoluta de  testes para diagnosticar a Covid-19 (que gerou até agora uma importante subnotificação de casos e de óbitos com diagnóstico correto), o desmonte do Mais Médicos sem a implantação de outro projeto que assista a um estrato da população ultracarente, são todos fatores que levarão a nossa sociedade pagar um preço maior em vidas do que ocorreria se tivéssemos um SUS realmente turbinado com verbas, controle social, plano de cargos, carreira e salário e principalmente com um governo realmente preocupado com o povo.

É para defender o SUS e lutar pelo seu fortalecimento que o PSTU se juntou à Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde no chamado a usar o 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, para manifestações pelas redes sociais, debates, panelaços para defender este programa. Defender um verdadeiro Sistema Único de Saúde, 100% público, gratuito e estatal. Contra qualquer tipo de privatização. Para dobrar as verbas para a saúde pública, acabar com o teto de gastos públicos, derrubar a Desvinculação das Receitas da União (DRU), cancelar a Lei de Responsabilidade Fiscal que na prática dificulta as contratações públicas de trabalhadores para o SUS e estimula as contratações pelas terceirizadas como as Organizações Sociais.

Fortalecer o SUS já significa exigir dos governos a compra imediata de milhões de testes laboratoriais para a Covid-19, o fortalecimento da capacidade operacional dos laboratórios que vão executar os testes, contratação imediata de trabalhadores da saúde nas diversas áreas de atuação para que 100% da população do país seja coberta e que a jornada de trabalho seja menos extenuante. Compra de equipamentos de proteção individual e de respiradores. Centralização das vagas de UTI incluindo as das redes privadas. Para aqueles que pagam os planos de saúde privados o mínimo que se exige é o congelamento do preço e a isenção de pagamento para os trabalhadores que perderam seus empregos ou tiveram sua renda diminuída.

Fortalecer o SUS já significa que temos de exigir imediatamente um plano de obras públicas de construção de hospitais, unidades básicas de saúde e aumento de leitos para UTI, o que gerará um grande número de vagas na construção civil para os desempregados. O mesmo no tocante ao saneamento, pois boa parte do povo brasileiro não tem água encanada e esgotos decentes.

Fortalecer o SUS é também apresentar um plano para as fábricas serem úteis no enfrentamento da pandemia, se convertendo em produtoras de respiradores, aventais, luvas e protetores faciais.

Por fim, fortalecer o SUS para enfrentar a Covid-19 implica em lutarmos pela ampliação do isolamento social por mais um período, pois o desastre sanitário está nos rondando. Não queremos milhares de mortos pelo coronavírus! Ainda estamos numa fase inicial de testes de medicamentos e vacinas. Exigimos que os trabalhadores não sejam bucha de canhão, usando serviços de transporte lotados e trabalhando sem nenhuma proteção contra a contaminação pelo virus. Só os ramos realmente essenciais devem trabalhar (e com uma jornada mais reduzida). Os demais devem permanecer em casa e se proteger, para proteger a sociedade de conjunto.