Sobre Encontro Nacional de Movimentos Sociais promovido pelo MST

 
Aconteceu, no dia 5 de agosto, a Plenária Nacional dos Movimentos Sociais, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O objetivo era debater a situação atual do país e as tarefas dos movimentos sociais frente a ela. No entanto, a carta convite já adiantava uma avaliação e, principalmente, uma estratégia política frente ao cenário que se abriu no país com as manifestações de junho.
O encontro aprovou a realização de um plebiscito popular, organizado, coordenado e realizado por todas as forças populares, para convocar uma Assembleia Constituinte Exclusiva que tenha como meta a reforma política. “Não será pelo Congresso, pelos ministérios nem pela presidência. O plebiscito é o instrumento para arrancarmos uma Constituinte Exclusiva e soberana que possa debater com a sociedade as mudanças almejadas pelo povo”, diz matéria publicada no site do MST.
Na verdade, esse projeto desvia a atenção das manifestações de rua e coloca em segundo plano a ação direta. O MST propõe uma estratégia que passe pelas instituições, longe dos protestos das ruas. O objetivo é ajudar o governo. Hoje, as mobilizações e paralisações se chocam com o governo de Dilma Rousseff (PT). A matéria no site do movimento não diz uma palavra sobre o Dia Nacional de Mobilizações em 30 de agosto. Sequer a palavra paralisação é mencionada.
 
MST na contramão da realidade
Vivemos um momento em que diversos governos, acuados pelas mobilizações populares, se viram obrigados a não aumentar as passagens. Os companheiros do MST dizem que é preciso mudar o sistema político para que os trabalhadores possam obter vitórias econômicas.
Nós também consideramos importante promover mudanças no sistema político brasileiro, totalmente controlado pelos grandes grupos econômicos. Porém os trabalhadores querem medidas como redução dos salários dos políticos, prisão e confisco dos bens dos corruptos e corruptores, proibição de financiamento das campanhas por empresas, revogabilidade dos mandatos, entre outras coisas. Mas não é esse o debate que estará numa Constituinte Exclusiva.
Por outro lado, o Congresso Nacional, controlado por bancos e empresas, só vota projetos contra o povo. Por isso, estamos fazendo mobilização em todo o país para construir o Dia Nacional de Paralisações em 30 de agosto.
De qualquer forma, as questões mais importantes que são outras: é correto, num momento de ofensiva da luta dos trabalhadores no Brasil colocar em segundo plano as nossas reivindicações para lutar por uma Constituinte?
É preciso, mesmo, uma Constituinte para que Dilma suspenda o pagamento das dívidas externa e interna e invista estes recursos em melhorias na vida do povo? Para que Dilma suspenda os leilões das reservas de petróleo e pare as privatizações? É preciso uma Constituinte para que o governo Dilma decida investir 10% na educação pública? Ou para que Dilma pare de dar dinheiro para o agronegócio e invista na reforma agrária?
Todos sabemos, inclusive o MST, que a resposta a essas questões é não. Sabemos que estas são decisões de governo, que não as toma porque não quer. O argumento de Dilma em junho e de João Pedro Stédile agora, de que é preciso uma Constituinte, busca apenas livrar a cara do governo frente à cobrança das manifestações de rua e da luta dos trabalhadores, que avançam com o protesto de 11 de julho e a paralisação marcada para 30 de agosto.
 
Mudança da situação foi nas ruas e não no Congresso
Houve uma mudança na realidade política do país, com a entrada em cena de milhões de pessoas, com a juventude popular, estudantil e trabalhadora. Os governos estão na defensiva, inclusive o governo Dilma e partidos aliados.
As massas estão mais fortes agora, depois da entrada organizada dos trabalhadores na luta, em 11 de julho. Esta conjuntura coloca a possibilidade de uma greve geral que derrote o modelo econômico atual e aponte para um programa de ruptura com os interesses capitalistas. Isto não é pauta econômica. É a pauta mais política que se pode levantar neste momento: contrapor os interesses dos trabalhadores aos interesses do grande empresariado.
É deste problema que Dilma quer fugir. Seu governo tem atendido prontamente aos interesses dos grandes capitalistas, ignorando os interesses da classe trabalhadora – que o digam aqueles que lutam pela reforma agrária. Se a luta dos trabalhadores fizer avançar a busca por suas reivindicações, vai ameaçar, necessariamente, os privilégios da burguesia e vai chocar-se, portanto, com o seu governo, que sustenta o modelo econômico.
É preciso questionar o modelo econômico vigente e os governos que o aplicam. É isso que pode levar às mudanças que precisamos no país. A plataforma unificada da Jornada Nacional , promovida pela CSP-Conlutas, CUT Pode Mais, Feraesp, CNTA e Setor Majoritário da Condsef é uma referência para a construção deste programa.
 
*Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo

Post author Zé Maria de Almeida, presidente do PSTU, e Élio Neves, da Feraesp*
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