De 10 a 5 de novembro, acontece em Mar del Plata, Argentina, a Cúpula das Américas, com a presença dos presidentes dos países do continente. Entre eles, George W. Bush. O discurso oficial diz que a reunião é para
“ver os caminhos para diminuir a pobreza e a injustiça social”. Mas, de fato, o chefe do imperialismo vem “passar em revista” seus “subalternos”. Em repúdio à “visita” já estão sendo programadas várias atividades na cidade, como a Cúpula dos Povos, e foram convocadas uma mobilização e uma paralisação pela CTA (Central de Trabalhadores Argentinos) para o dia 4 de novembro. A LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) chama a participação nessas atividades e na mobilização do dia 4 em repúdio à vinda de Bush à América Latina

Bush e o imperialismo conquistaram um profundo ódio dos trabalhadores e povos latino-americanos, que vêem neles os responsáveis pelo saque das riquezas, pela pobreza e miséria decorrentes e pela repressão que sofrem quando lutam contra esse estado de coisas.

São vários os caminhos que o imperialismo utiliza para saquear as riquezas do continente:

* Os pagamentos da dívida externa – grandes quantidades de dinheiro são destinadas a isso. Em muitos casos, os pagamentos são garantidos pelas leis do orçamento nacional (como na Argentina e no Brasil, que fixam porcentagens do PIB para esses pagamentos) ou por leis que asseguram uma parte importante dos ingressos das exportações (por exemplo, de petróleo no Equador). Tudo isso, controlado por “missões” e escritórios permanentes do FMI, verdadeiro “quarto poder” em todos os países latino-americanos. Na verdade, são eles que tomam as decisões econômicas em nossos países.

* Os lucros extraídos diretamente pelas empresas e bancos imperialistas, que, nos últimos anos, em meio a um período de expansão econômica, alcançaram recordes. A maioria desses lucros não são reinvestidos na América Latina, mas repassados para as matrizes nos países imperialistas.

* O saque de matérias primas e recursos naturais cresceu nos últimos anos. Por um lado, com a superexploração da terra pelo agronegócio, com cultivos como a soja, destinados ao mercado mundial. Por outro, dos minerais, petróleo e gás. Para legalizar esse saque, fazem acordos que “liberalizam” o comércio no continente (como a Alca e os TLCs) e planos de desenvolvimento infra-estrutural (Plano Puebla Panamá e a Iniciativa para a Integração Regional Sul-americana) como um corredor de recursos cujo destino final é o sul dos EUA.

Assim, o imperialismo leva as riquezas necessárias para aumentar os salários, manter e melhorar os serviços públicos, para fazer investimentos para modernizar os países. Por isso, inclusive os países mais desenvolvidos do continente, como Brasil, México e Argentina, têm altíssimas taxas de pobreza, miséria e desemprego.

A batalha dos hidrocarbonetos
No tema dos recursos naturais, a questão do petróleo e do gás é central. O imperialismo quer ter o controle absoluto da exportação dos hidrocarbonetos (derivados de gás e petróleo). Para os EUA, é um problema estratégico e de extrema urgência, porque sua economia tem uma profunda dependência da importação (60% dos hidrocarbonetos que consome). Em poucos anos, os EUA ficarão sem reservas de petróleo e todos os analistas consideram que a manutenção de seu nível de consumo atual os levará a uma crise de abastecimento.

Por isso, precisam garantir o abastecimento e usam seus métodos imperialistas de domínio colonial. Isso explica a invasão do Iraque e a sua política para a América Latina, que considera seu “quintal” e que lhe fornece 24% dos hidrocarbonetos que consome. Essa é a razão das privatizações de petroleiras estatais (como a YPF na Argentina) o fim do monopólio de outras empresas estatais (como a Petrobras, e a PDVSA venezuelana) e a entrega de áreas inteiras, com suas reservas, a multinacionais.

Mas os povos latino-americanos não estão passivos, e lutam a cada dia. Os processos revolucionários protagonizados pelos trabalhadores bolivianos, que derrubaram os governos de Sánchez de Lozada e Carlos Mesa, exigindo a nacionalização sem indenização dos hidrocarbonetos; a greve dos moradores e trabalhadores petroleiros de Sucumbíos e Orellana (na Amazônia equatoriana) contra a Occidental Petroleum; a luta dos desempregados e trabalhadores petroleiros argentinos contra a Repsol e suas contratistas (recentemente ocorreu uma grande greve por aumento salarial na Patagônia) e a permanente exigência da recuperação da YPF estatal; no Brasil, a luta contra a entrega de áreas de exploração de petróleo as multinacionais e a exigência de retorno do monopólio estatal de exploração do petróleo.

Essas lutas fazem parte de uma verdadeira “guerra dos hidrocarbonetos” que se dá em todo o continente contra o imperialismo e as burguesias nacionais. Uma parte dessa guerra foi a jornada continental pela nacionalização sem indenização dos hidrocarbonetos realizada em 17 de outubro.

Pela Segunda Independência da América Latina
Os trabalhadores e os povos latino-americanos mostraram, em sua história e sobretudo nos últimos anos, que não estão dispostos a aceitar passivamente um destino de escravos ou vassalos coloniais. Isso se vê nas lutas operárias e populares que agitam o continente, particularmente nos processos revolucionários que derrubaram presidentes (Bolívia, Equador e Argentina) e na derrota do golpe pró-imperialista na Venezuela.

Apesar da disposição e capacidade de luta das massas, esses processos não conseguiram reverter o domínio quase colonial que o imperialismo exerce sobre a América Latina. Seja por meio de eleições fraudulentas ou de “sucessões institucionais”, a “democracia colonial” conseguiu impor novos governos fantoches e manter esse domínio.

Contra os “cantos de sereia” das burguesias nacionais, que dizem que com “boas relações” com o imperialismo se pode reduzir a pobreza e, infelizmente, da maioria da esquerda, que chama a confiar nessa “democracia colonial”, a LIT-QI chama a romper esse dique de contenção.

É preciso unir as lutas em uma grande mobilização continental contra o imperialismo. Os atos em vários países pela nacionalização sem indenização dos hidrocarbonetos são uma pequena, mas valiosa experiência. As burguesias nacionais apenas se submetem ao comando do imperialismo. Só se poderá alcançar a segunda independência da América Latina expulsando definitivamente o imperialismo, se a luta dos trabalhadores e dos povos avançar rumo a uma revolução operária e socialista continental. É um bom momento para redobrar a luta, pois o imperialismo está se enfraquecendo diante da heróica resistência do povo e também começa a ter problemas sérios “em casa”.
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