Vera Lúcia, de Aracaju (SE)

Ditadura nunca mais!

É simplesmente inaceitável, covarde e cruel a declaração de Bolsonaro sobre o pai de Felipe Santa Cruz, atual presidente da OAB, um dos tantos mortos e desaparecidos da ditadura militar. “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai [Fernando Santa Cruz] desapareceu no período militar, eu conto para ele”, disse à imprensa.

Como se não bastasse, após a repercussão da fala, declarou de forma cínica que Felipe fora executado pelos próprios companheiros. É oficialmente atestado, pelas próprias Forças Armadas, que o pai do atual presidente da OAB desapareceu enquanto esteve preso nos porões da ditadura. Foi executado e incinerado no forno de uma usina. Bolsonaro, assim, mente de forma descarada sobre o regime militar.

Bolsonaro construiu a sua vida política enaltecendo a ditadura, a tortura e todas as atrocidades cometidas durante o regime militar, além de espezinhar sobre as vítimas do período de exceção e suas famílias. Agora vai além. Em tom de ameaça e deboche, diz que sabe o que aconteceu com Fernando Santa Cruz, o então jovem de 26 anos que desapareceu após ter sido preso pelo DOI-CODI em 1974. Bom, se sabe e não diz, Bolsonaro é cúmplice.

Não se pode normalizar esse tipo de absurdo. A ditadura militar foi marcada por prisões ilegais, tortura, assassinatos, estupros e todo o tipo de perseguição. Ao contrário do que dizem seus apologistas, foi marcada pela corrupção que enriqueceu grandes bancos e empreiteiras.

Os trabalhadores e o povo pobre foram as principais vítimas. Sofreram com o arrocho e não podiam manifestar-se contra. Sindicatos foram fechados, sofreram intervenção e operários foram demitidos e perseguidos, quando não presos e torturados.

Bolsonaro, porém, vem mostrando que sua predileção pela ditadura vai além do discurso. Seu governo acaba de editar uma portaria que impõe a deportação sumária de estrangeiros considerados “perigosos”. Bolsonaro quer liberar o garimpo nas áreas indígenas e implementa política que estimula o extermínio dos indígenas no país. É o caso que acontece agora, na invasão de garimpeiros às áreas do povo Wajãpi no Amapá. Bolsonaro quer reeditar o genocídio indígena que os militares fizeram. E, assim como o governo militar, Bolsonaro é capacho dos norte-americanos.

É inaceitável que a própria imprensa e os parlamentares falem de “frase infeliz”. Essa não foi uma frase infeliz, foi uma fala criminosa e como tal deve ser tratada. É motivo inclusive de impeachment.

O PSTU vem a público se solidarizar com o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, com as vítimas da ditadura e suas famílias. Não podemos ficar calados diante desse crime. Temos de denunciar mais essa fala grotesca e criminosa desse presidente hipócrita que abriga milicianos e corruptos nos gabinetes e debocha de mortos e desaparecidos da ditadura. Bolsonaro precisa ser derrotado.

É preciso abrir os arquivos da ditadura para que a verdade sobre esses crimes venha à tona, bem como é necessário revogar a Lei da Anistia, que permitiu a impunidade de assassinos, torturadores e estupradores, para garantir, assim, a punição, ainda que tardia, desses criminosos.

Exigimos, ainda, o fim de qualquer ataque às liberdades democráticas. Pelo livre direito de organização, manifestação e liberdade de imprensa! Chega de Bolsonaro! Ditadura nunca mais!