Na sua campanha eleitoral, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, expôs com todas as letras que pretendia reprimir os imigrantes ilegais no seu país. Antes mesmo das eleições, durantes o levante da juventude de origem imigrante nas periferias de Paris, em 2005, Sarkozy já tinha se referido aos jovens como “escória”.

Uma vez eleito presidente, o direitista pôs em marcha sua política racista e criou o Ministério da Identidade Nacional, Imigração e Integração, cujo objetivo – dito aos quatro ventos pelo ocupante da pasta, Brice Hortefeux – é expulsar 25 mil estrangeiros em situação irregular até o final de 2007. Algo que foi bastante elogiado pelo fascista francês Le Pen. Assim, pouco a pouco cai por terra o mito da França dos direitos humanos e de suas instituições de “referência mundial da cidadania”.

A absurda política de Sarkozy já fez sua primeira vítima. Segundo uma reportagem do jornal espanhol El Pais, uma criança de 12 anos foi parar num hospital depois de ter caído de um prédio, a 14 metros de altura, quando fugia da polícia, no meio de uma operação de expulsão. A operação ocorreu num subúrbio pobre da França e envolveu 15 agentes policiais. A criança, de origem chechena, tentou seguir seu pai que fugia da polícia pendurando-se na parede traseira do edifício, agarrado a tubos de canalização. No entanto, o jovem caiu e se encontra em estado grave num leito de hospital.

“Você acredita que era preciso mandar 15 agentes, bater violentamente na porta e reclamar os serviços de um serralheiro para forçá-la? Por acaso os Demski eram perigosos gangsters armados até aos dentes?”, questionou o advogado Jacques Vergès.

A esse exemplo de repressão aos imigrantes da Europa, cuja política de Sarkozy é a ponta de lança, pode se somar outros absurdos cometidos contra imigrantes na Espanha e Alemanha. Todos esses países gastaram milhões de euros e criaram organismos especiais para acabar com a imigração ilegal.

Segundo informações das agências de notícias internacionais, um de cada quatro nascimentos na Espanha em 2010 será de mães estrangeiras. Nesse contexto, o governo adota políticas repressivas cada vez mais duras, repatriando mais de 25 mil imigrantes que entraram de maneira ilegal no país, especialmente aqueles que fogem da miséria que assola os países da África subsaariana.

Outros ainda, encontram a morte ao tentar cruzar a fronteira. No ano passado, forças repressivas da Espanha e do Marrocos assassinaram a balas 15 imigrantes africanos, em Celta.

Ao longo dos anos 1980, os países africanos foram depredados pela exploração das multinacionais do “imperialismo civilizado” europeu. Graças ao receituário econômico do FMI, aplicado servilmente pelos governos da região, o continente africano se tornou depósito de lixo tóxico das grandes multinacionais, como é caso da Costa do Marfim. A ampliação da miséria resultou também em extensos campos de refugiados a céu aberto para conter os milhares de africanos que pretendem seguir para a Europa para viver de seu trabalho, em busca de “uma vida melhor”.

Um novo proletariado
Atualmente, os imigrantes são componentes de peso do proletariado europeu pauperizado e precarizado pela globalização. Nos anos 1980, passou a haver uma imigração massiva, tanto dos países semicoloniais como do Leste europeu – por causa da restauração do capitalismo -, como dos países africanos. Isso levou um fluxo impressionante de imigrantes aos países da Europa.

Esse processo impressionante causou modificações no proletariado a ponto de os imigrantes serem majoritários em alguns setores. Na Alemanha, existem 650 mil turcos, e as assembléias metalúrgicas são realizadas em duas línguas (alemão e turco). Na Espanha, a presença de marroquinos é maciça na construção civil.

Por outro lado, os governos imperialistas atuam de maneira dúbia em relação aos imigrantes. Como necessita da imigração para assegurar o funcionamento de suas empresas, por meio de uma mão-de-obra barata e dispensável, não aceita uma verdadeira integração, exatamente para que os imigrantes não tenham os mesmos direitos dos trabalhadores nascidos na Europa. Mas, ao mesmo tempo, a burguesia ataca e reprime os imigrantes para dividir politicamente os trabalhadores. Esse papel cabe normalmente à extrema-direita, com toda sua verborragia xenófoba de que “os imigrantes ocupam os empregos” dos trabalhadores nativos, que impedem o “desenvolvimento econômico” e uma porção de outras ideologias. Por isso, vêm sendo estabelecidas leis cada vez mais repressivas para expulsar os imigrantes.

Os bairros que explodiram na França, são bairros operários. Os que saíram queimando carros são franceses descendentes de imigrantes, entre os quais o desemprego alcança 40%.

Revoltas e manifestações como as que eclodiram na França em novembro de 2005 podem ter sido apenas o anúncio de algo maior que está por vir.