Amanda Gurgel participa de ato
Vittor Gois

Os ventos da indignação parecem ter voltado a soprar em Natal (RN). Nos dias 29 e 31 de agosto, estudantes universitários e secundaristas foram às ruas da capital potiguar para protestar contra o aumento na tarifa de ônibus, de R$ 2,20 para R$ 2,40, anunciado pela prefeitura no último dia 27. O anúncio pegou a população de surpresa, já que a prefeita Micarla de Sousa (PV) havia prometido não aumentar a passagem, o que desencadeou o início de uma revolta na cidade. Nos dois protestos ocorridos até agora, convocados pelas redes sociais, ruas e avenidas de Natal foram tomadas por mais de duas mil pessoas que exigiam a revogação imediata do aumento, de quase 10%, e o passe-livre estudantil. Um novo protesto está marcado para a manhã de terça-feira, dia 4, em frente à Câmara Municipal.

“O povo na rua, Micarla a culpa é sua!”
Na noite do dia 29, a primeira manifestação contra o aumento da tarifa fechou a BR-101 e toda a extensão da Av. Salgado Filho, uma das principais vias de acesso à cidade. Vestidos de preto, com cartazes e os rostos pintados, os estudantes manifestavam indignação em palavras de ordem e responsabilizavam a prefeita pelos transtornos causados pelo aumento. Logo após o novo valor da passagem entrar em vigor, vários passageiros foram surpreendidos e barrados nas catracas por não terem toda a quantia. “O povo na rua, Micarla a culpa é sua!” e “Mãos ao alto, esse aumento é um assalto!”, eram as palavras de ordem mais ouvidas durante a caminhada dos manifestantes.

Mesmo sendo um protesto pacífico, a Polícia Militar, comandada pela governadora Rosalba Ciarlini (DEM), acionou a Tropa de Choque e não poupou bombas de efeito moral e balas de borracha para reprimir a manifestação. Os estudantes responderam com pedras à ação brutal da PM. Ferido por estilhaços, o estudante de jornalismo Marcelo Lima foi preso por desacato à autoridade ao simplesmente questionar quem era o responsável pela operação. Ele foi levado para uma delegacia de plantão, mas já está em liberdade. “O governo mandou a polícia para reprimir o movimento e garantir os interesses dos donos das empresas de ônibus. Ao lado dos estudantes e trabalhadores, nós, do PSTU, não aceitamos mais um aumento. Vamos seguir lutando” , comentou Juary Chagas, bancário e militante do PSTU.

Na tarde do dia 31, cerca de dois mil estudantes voltaram novamente às ruas em um novo protesto. Dessa vez, eles se concentraram em frente à Prefeitura de Natal e seguiram em caminhada pelas ruas do centro da cidade em direção ao Seturn, o sindicato dos empresários do transporte. Mas não pararam por aí. Demonstrando muita disposição de luta nesse que é um dos maiores protestos estudantis já realizados em Natal nos últimos anos, os manifestantes seguiram numa longa caminhada até a BR-101, fechando o trânsito por horas. Ao final do ato, com o apoio da população e dos motoristas, alguns ônibus tiveram suas catracas liberadas e as pessoas puderam voltar para casa sem pagar a passagem.

Segundo Géssica Régis, estudante de História da UFRN e militante da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (ANEL), os protestos vão continuar até que o aumento seja revogado. “Isso é o mínimo que nós podemos fazer para mostrar a nossa revolta. O que o povo de Natal é para essa prefeitura?! Não somos um bando de ignorantes e não vamos aceitar o aumento. Queremos a revogação desse aumento já e o passe-livre para estudantes e desempregados”, exigiu. Na terça-feira, dia 4, uma nova mobilização promete agitar outra vez a capital potiguar, em frente à Câmara Municipal.

Não bastasse o aumento da tarifa, a população também enfrenta a redução da frota de ônibus. No início de agosto, a empresa Riograndense decretou falência e surpreendeu motoristas, cobradores e usuários. As linhas 03, 45 e 28 foram extintas, prejudicando toda a população do conjunto Nova Natal e muitos estudantes da UFRN. Agora, os trabalhadores rodoviários demitidos lutam para terem garantidos seus direitos, enquanto os ônibus seguem mais superlotados e em menor quantidade.

Revogação já!
Com o aumento na tarifa, Natal agora tem a segunda passagem mais cara do Nordeste, atrás apenas de Salvador, e bem acima dos R$ 2,15 de Recife. Além de pagar mais por um serviço de péssima qualidade, os trabalhadores e estudantes ainda foram obrigados a ouvir declarações cínicas da Prefeitura. “Se não houvesse esse reajuste, haveria possivelmente um reflexo negativo na qualidade do serviço prestado.”, chegou a dizer o superintendente da Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), Márcio Sá.

Candidata a vereadora em Natal pelo PSTU, a professora Amanda Gurgel criticou o aumento em seu programa de TV. “A gente dorme pagando R$ 2,20 e acorda pagando R$ 2,40. Mas isso não cai do céu. Por trás disso, existem uma Câmara de Vereadores e uma prefeita que castigam a população para agradar os empresários”, disse Amanda no vídeo. Junto com o candidato a prefeito da Frente Ampla de Esquerda, Robério Paulino (PSOL), e o vice Dário Barbosa (PSTU), a professora tem participado ativamente dos protestos.

Insatisfeita com o péssimo serviço oferecido pelas empresas, que ela também utiliza para ir ao trabalho, Amanda defende a revogação imediata do aumento da tarifa de ônibus, a redução do valor da passagem e um novo sistema de transporte. “Precisamos de uma empresa municipal de transporte público, que possa oferecer um transporte de qualidade e a preço de custo, enfrentando a ganância sem limites das empresas privadas”, destaca. A professora também propõe o passe-livre estudantil, para que os estudantes possam ter o seu direito de ir à escola.