Todos os setores da burguesia do país estão tentando convencer o povo de que só existem duas alternativas para a atual crise: ou governo ou a oposição de direita. Hoje, diante da profunda crise do governo Lula, buscam construir uma “polarização”, apresentando o bloco PSDB-PFL como uma alternativa a ele. Esta seria uma situação que poderia permanecer sob o controle da burguesia, porque qualquer uma dessas alternativas manteria o plano econômico neoliberal e os altos lucros atuais da burguesia.

Não é por acaso que a oposição burguesa se definiu contra o impeachment de Lula, apesar de todas as evidências. Não foi por acaso, também, que o governo e a oposição burguesa se uniram na Câmara para derrubar o modesto aumento do salário mínimo votado no Senado, permitindo a primeira vitória do governo em meio a esta crise. A luta feroz entre o governo e a oposição restringe-se a uma disputa pelo controle do aparato do Estado, e não por programas, de fato, distintos.
O dia 17 de agosto, no entanto, trouxe um elemento novo para o cenário político. Foi apresentada uma alternativa dos trabalhadores para a crise atual: uma terceira força, distinta dos dois blocos burgueses. Uma força que entrou em cena para começar a responder à falta de alternativa que assombra as mentes de milhões de trabalhadores que estão rompendo com o PT e a CUT.

Três profundas lições foram dadas no dia 17. A primeira é que as organizações tradicionais do movimento de massas no Brasil – a CUT e a UNE – e os dois maiores partidos reformistas (PT e PCdoB) já não podem falar em nome das massas no país. Esta já era uma realidade palpável em greves nas quais, a partir da base, se produziam rebeliões contra essas direções; ou em eleições sindicais, em que oposições obtiveram votações expressivas, mesmo contra o grande aparato dessas direções.

O dia 17 de agosto, no entanto, trouxe esta realidade à tona, para todo o país. Mesmo com o grande aparato de CUT e UNE, o ato da Conlutas teve duas ou três vezes mais gente. Pode-se dizer que esta foi uma vitória que sinaliza a profunda reorganização que começa a existir no movimento de massas no país. Uma vitória com sabor histórico.

A segunda lição é que a marcha trouxe à luz do dia a política defendida pelo PSTU, na defesa do “Fora Todos!”. Em um momento em que os dois blocos burgueses se apresentam como única alternativa, os trabalhadores e estudantes disseram: “Chega, é preciso mudar radicalmente tudo e, para isso, fora todos. Fora Lula, o Congresso, o PFL, o PSDB…”

A terceira lição é que está surgindo uma nova direção: a Conlutas. Perante a falta de alternativas que existe no país, o surgimento de uma nova alternativa de direção tem um enorme significado político.

A Conlutas aponta para uma nova perspectiva, que inclui a continuidade das mobilizações contra o governo e o Congresso, com uma jornada de lutas que vai incluir atos nas principais capitais do país, com a mesma configuração do dia 17 de agosto. Inclui, também, o apoio às mobilizações salariais que vão ocorrer agora, no segundo semestre. Estas são propostas que a Conlutas iria começar a discutir em seu II Encontro Nacional, no momento em que fechávamos esta edição do jornal.

Além das lutas, esta perspectiva também exige que a esquerda olhe os limites da democracia burguesa. A construção de uma alternativa dos trabalhadores só pode ser feita dentro de uma perspectiva de ação direta, a partir do impulso às mobilizações, e não apelando para o chamado às eleições gerais ou qualquer outra forma de adaptação à democracia burguesa.

É hora de reflexão entre os militantes de esquerda do país, porque esta nova direção que está surgindo necessita ser fortalecida. Por isso, também, conclamamos que todas as direções sindicais combativas, que estão rompendo com a CUT, venham para a Conlutas para ajudar a construir esta alternativa.

Da mesma forma, em termos partidários, também temos um chamado para os ativistas que estão rompendo com o PT e querem lutar pela revolução socialista: venham para o PSTU. O papel do PSTU na convocação e garantia da marcha do dia 17 indica a importância da existência de um partido revolucionário com suas características. É hora de construir esta nova direção.

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 229
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