Suspeitas atingem presidente do Senado e ministra da Casa Civil, aproximando-se perigosamente de LulaA chamada Operação Navalha da Polícia Federal segue o padrão dos inúmeros escândalos de corrupção que estremeceram o governo Lula. Mais uma vez, um caso aparentemente isolado revela-se, com um mínimo de aprofundamento das investigações, uma intrincada rede de corrupção enraizada em amplos setores do governo.

A mais recente operação da Polícia Federal estourou um esquema de fraude em licitação de obras públicas, concentrado no setor de energia e no programa Luz Para Todos. Aos poucos, revela-se que a grande preocupação de Lula com o setor, o maior privilegiado pelo PAC, não se resume a fornecer condições de infra-estrutura para o aumento dos lucros de usineiros e empresários.

Inúmeros parlamentares da base aliada do governo e da oposição se envolveram no esquema de fraude. O aparecimento de nomes de governadores de vários partidos deu a real dimensão do escândalo. Estão envolvidos Jackson Lago (PDT-MA), Teotônio Vilela (PSDB-AL) e Wellington Dias (PT-PI), além do governador da Bahia, o petista Jaques Wagner.

O ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau caiu acusado de receber propina de R$ 100 mil para favorecer a construtora Gautama, cujo dono, Zuleido Veras, está preso. Rondeau havia sido indicado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O ministro pediu demissão para evitar que as investigações avançassem sobre o governo.

No entanto, tal como um castelo de cartas, o escândalo foi se espalhando e atingiu peixes graúdos. Descobriu-se que a empresa de Zuleido mantém um lobby em vários ministérios, de Minas e Energia passando pelo Planejamento, até chegar à Fazenda. As atenções agora se voltam para Calheiros, acusado de receber dinheiro de Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior, aliada da Gautama.

Relações promíscuas
Segundo denúncias publicadas pela revista Veja, o lobista teria pago, em dinheiro vivo, uma pensão de R$ 12 mil à ex-mulher do senador, por um período de três anos. Além disso, Gontijo seria responsável pelo pagamento do aluguel da casa dela, no valor de R$ 4,5 mil. Amigo íntimo do senador, o lobista também teria financiado sua campanha eleitoral, de seu pai e de seu irmão.

O senador nega que tenha recebido dinheiro do lobista. Porém não explica de onde saiu o dinheiro da pensão, já que, como senador, recebe R$ 12 mil. Se os valores do repasse ilegal não parecem representar grandes fortunas, pelo menos evidenciam as relações promíscuas entre as empreiteiras e o governo. Em troca, Calheiros deveria trabalhar pessoalmente junto à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, para a liberação de licitações que favorecessem a construtora à qual é ligado.

Desta forma, um dos principais nomes da base de sustentação do governo Lula está seriamente ameaçado. Experiente, Calheiros integrou a linha de frente da tropa de choque do governo Collor, sendo posteriormente ministro da Justiça de FHC. No governo do PT, tornou-se líder da ala governista do PMDB.

“Uma cervejinha”
O exemplo mais pitoresco da estreita relação entre empreiteiros e políticos ocorreu na Bahia. O então recém-eleito governador do estado Jaques Wagner participou, em Salvador, de um “inocente” passeio de lancha ao lado da ministra Dilma, em novembro do ano passado. Ocorre que a lancha de R$ 2 milhões é propriedade do empresário Zuleido.

Perguntado sobre o fato, o governador afirmou não “se lembrar” quem era o dono da lancha. “Domingo de sol, você passeando de lancha, uma cervejinha…”, disse o governador, que ainda respondeu ser “hipocrisia” a condenação da prática de receber presentes de empresários. “Eu, como governador eleito, no fim de ano, deve chegar 30, 40 gravatas, agenda, uma garrafa de vinho, uma faca de churrasco”, declarou.

No entanto, mais do que meros presentes ou favores, tal relação íntima mostra a proximidade do governador com empreiteiras envolvidas em licitações públicas de milhões de reais. Wagner foi eleito governador sob grande euforia, pois estaria inaugurando uma nova fase no Estado após o domínio do clã de ACM.
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