Em 1985, os metalúrgicos da GM de São José realizaram uma das mais importantes mobilizações operárias da década, tanto pelas bandeiras, quanto pelo método. Vinte e três anos depois, em meio à grave crise econômica, é fundamental relembrar essa greve que dOpinião Socialista – Como teve início a greve?
Ivan Trevisan
– Estávamos em campanha salarial e, no ano anterior, já havíamos realizado uma greve vitoriosa. Tinha ajudado a organizar a Cipa e a comissão de fábrica, que foram fundamentais para a greve.

Como reagiu a empresa?
Trevisan
– A GM partiu para a retaliação. Demitiu primeiro 90 funcionários, entre trabalhadores da comissão, cipeiros e os principais ativistas. Quando ela demite, o movimento radicaliza, ocupa a fábrica e incorpora a exigência da reintegração dos companheiros. A partir daí, tivemos de organizar a ocupação. Foi um tempo de muita mobilização. Tomamos a portaria e confiscamos os carros da empresa para as atividades do sindicato, como a comunicação.

E a repressão?
Trevisan
– Aí a empresa endureceu e o governo Montoro entrou no jogo. Veio polícia, tropa de choque para nos cercar. Foi o pico da mobilização. Tivemos de organizar nossa autodefesa. Para isso, tínhamos de tomar o controle da fábrica por completo. A empresa tinha gerente, supervisor, cujo objetivo era desmontar nossa mobilização. A vanguarda, então, localizou essas pessoas, desmontou o quartel-general da empresa dentro da fábrica e os colocou num local onde todos pudessem observá-los. Só aí tivemos total controle da fábrica. Outra tática para nos proteger era a ameaça de botar fogo na fábrica caso a polícia invadisse. Esse era o maior medo da empresa. Dizíamos, “se houver invasão da PM, vai tombar gente dos dois lados”.

Como terminou?
Trevisan
– A empresa endureceu e demitiu mais de 400 pessoas. Diante da ameaça de invasão, a maioria da direção do sindicato na época, que viria a ser depois a Articulação, orientou a desocupação. A empresa, depois que retomou o controle da produção, colocou um forte aparato repressivo na fábrica. A PM controlava a entrada, os operários tinham de entrar em fila indiana.

Qual o balanço que você faz desse movimento?
Trevisan
– Foi, com certeza, uma das principais mobilizações da década. Se não fomos vitoriosos num primeiro momento, ele foi fundamental para a conquista das 40 horas semanais, pois manteve forte a luta pela redução da jornada. Ela foi conquistada na Constituição de 88, mas na GM veio antes. A mobilização também inspirou outras ocupações, como na Mannesman e na Philips.

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