Enquanto em outras cidades as grandes montadoras iniciaram as demissões, no ABC Paulista os desligamentos começaram pelas autopeças fornecedoras. Esse setor concentra um alto índice de mão-de-obra feminina. O Opinião Socialista entrevistou Sueli Freitas*, operária da fábrica Kostal, em São Bernardo do Campo. No dia 30 de janeiro, a empresa demitiu 30 operárias. Em 6 de fevereiro, foram mais 106 trabalhadores, a maioria esmagadora de mulheres. O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, filiado à CUT, não tomou nenhuma providência, segundo a trabalhadora.

Opinião – Como vocês ficaram sabendo das demissões?
Sueli –
As demissões já estavam sendo esperadas, porque o povo lá colocou na cabeça que há crise e vai ter demissão para todo mundo. Todo mundo já estava naquela expectativa de ser demitido. Foi de repente. Na semana, a gente voltou a trabalhar. Na sexta-feira, logo cedo, não esperou nem o final do expediente. Normalmente, demissão é no final do expediente. Nesse dia, foi bem no início. O pessoal ficou mal, mas ninguém fez nada. O pessoal aceitou porque coloco na cabeça que é culpa da crise.

O que o sindicato fez?
Não fez nada.

Como era o clima entre as trabalhadoras que saíram?
Umas saíram tristes, outras já estavam mais ou menos engatilhadas. Tinha as que iam embora achando que não têm mais chance. Mas quem está indo sabe que é a crise, acha que não vai mais ter emprego em lugar nenhum.

E as que ficaram?
Agora é questão de sobrevivência. Um querendo passar por cima do outro, querendo mostrar que é o melhor, mostrar para a empresa que é um ótimo funcionário. Mostrar quem é o melhor para sobreviver lá dentro. Como essa crise não melhora, vai mais gente [pra rua]. Ainda não existe redução de salários, essas coisas, mas existem boatos.

Das mulheres da fábrica, inclusive entre as demitidas, muitas são responsáveis pela família?
Sim, muitas são chefes de família. Até porque as demissões atingiram homens e mulheres, muitos homens ficaram desempregados também. Então muitas delas assumiram a casa.

Você acha que a crise é pior para as mulheres?
Claro. Nas empresas onde tem mais mulheres, mandam as mulheres e os homens ficam, porque acham que a mulher fica em casa e não trabalha. Com certeza a mulher é a primeira a sair, porque tem o problema da licença-maternidade, o número de faltas é maior porque fica mais doente, tem criança doente em casa, enfim. Eles acham que o homem é mais produtivo.

*Para evitar retaliações por parte da empresa, substituímos o nome da operária por outro fictício.
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