A crise econômica internacional que se inicia chamou a atenção de muitos trabalhadores para a discussão sobre a economia marxista e, com ela, diversos termos como taxa de lucros e mais valia. Acompanhando a crise, nosso jornal dedicará muitas matérias sobNa sociedade capitalista, uma pequena parte da população – a burguesia- é dona das empresas. A burguesia contrata trabalha­dores para pôr em movimento as máquinas e transformar matérias primas em produtos. Isso é feito nas indústrias, nas minas, na construção e no setor agropecuário.

A palavra “capitalismo” vem de “capital”. O capital é constituído pelo conjunto dos meios de produção (maquinário, matéria prima etc) e a força de trabalho utilizada para a produção de mercadorias.

O capital se divide em constante e variável. O capital constante é o que se investe na compra de máquinas e matérias primas. É chamado de “constante” porque nem as máquinas nem as matérias primas criam sozinhas um valor novo.

O capital variável é o que é investido na contratação de mão de obra, os salários dos trabalhadores. Quem faz as máquinas se moverem e transformam as matérias primas em novos produtos são os trabalhadores. Isso acontece mesmo nas empresas mais modernas, cuja tecnologia reduz a quantidade de mão de obra.

Se não existem os trabalhadores, não existe a produção de novos valores. Por isto o capital gasto com os trabalhadores é chamado de capital variável, porque é a parte do capital que cria um valor novo.

Os produtos (como são chamadas as mercadorias), são então vendidos, e os burgueses ficarão com a maior parte do dinheiro resultante da venda. Darão aos trabalhadores uma pequena parte, sob a forma de salários.

Como surge a mais valia

Apesar de só os trabalhadores criarem novos valores, eles não são donos do que produzem. Os burgueses são os donos das empresas, e por isso se apoderam destes produtos e os vendem.

Como vimos, utilizam uma pequena parte do resultado da venda para pagar salários aos trabalhadores. A maior parte que sobra é chamada de mais valia.
Entre as confusões sobre o capitalismo está a idéia de que “são explorados os trabalhadores que recebem baixos salários”. Isso não é verdade, são explorados todos os trabalhadores, com maiores ou menores salários. E são ainda mais explorados os que recebem salários baixos. Vejamos um exemplo:

Digamos que cem operárias trabalham em uma fábrica produzindo camisas. Como cada uma produz 1.200 camisas por mês, neste período elas fazem 120 mil camisas. O burguês, dono da fábrica, vende cada camisa a cinco reais e recebe um total de seiscentos mil reais.

Desse dinheiro, paga 400 reais de salário a cada operária. Ou seja, como capital variável, gastou 40 mil reais (400 reais x cem). Além disso, o burguês utiliza 200 mil reais em matérias primas, no aluguel do local da empresa e nas máquinas. Significa que gastou como capital constante 200 mil reais, além dos 40 mil de capital variável.

A mais valia resultante é de 360 mil reais (600 mil do resultado da venda das camisas, menos 240 mil gastos em capital constante e variável).

Poderíamos contar a repartição do produto também através das camisas produzidas. Cada operária produziu 1.200 camisas por mês, mas ficou com o equivalente a 80 camisas (400 reais por mês, ou oitenta camisas a cinco reais cada). Já o burguês, mesmo sem trabalhar, ficou com o equivalente a 72 mil camisas (360 mil reais).

Mesmo que, com uma greve, as operárias conseguissem dobrar seus salários, a exploração seguiria sendo brutal: Vamos imaginar que, depois da greve, cada trabalhadora recebesse 800 reais por mês, e o capital variável seria de oitenta mil reais. A mais valia resultante para o burguês seria de 320 mil reais (600 mil menos 280 mil).

O fundamental da exploração é a apropriação por parte do burguês do fruto do trabalho alheio, ou seja, dos produtos resultantes dos que trabalham. Os trabalhadores são os que criam a riqueza, mas são os burgueses que os contrataram que ficam com o resultado da exploração, a mais valia. O objetivo fundamental da burguesia é obter os lucros que vêm da mais valia.

Como se mede a mais valia e os lucros
A taxa de mais valia é uma medida importante do grau de exploração. É o resultado da seguinte equação: mais valia / capital variável. Ou seja, no primeiro exemplo da fábrica de camisas, seria de 360 mil (mais valia) dividido por 40 mil (capital variável, o montante dos salários pagos). Essa divisão dá um resultado igual a nove. Em termos de porcentagem, teríamos então uma taxa de mais valia de 900% (nove x 100%).

A taxa de lucros é um pouco mais complicada. É o resultado da equação: Mais valia/capital constante + capital variável.

No caso citado, seria assim:
360 mil (mais valia) dividido pela soma de 200 mil (capital constante) + 40 mil (capital variável). Ou seja: 360 mil/ 240 mil= 1,5. Em termos de porcentagem, a taxa de lucros seria então de 150% (1,5 x 100%). Isso significa que o capitalista investiu 240 mil reais e teve um lucro de 360 mil. Ou seja, que recebeu 1,5 reais de lucro por cada real investido.

É isso o centro da preocupação do capitalista, o retorno em lucros do seu investimento. A produção capitalista não gira ao redor da satisfação das necessidades das pessoas, mas dos lucros dos burgueses. E toda a economia capitalista gira ao redor da taxa de lucros das grandes empresas.
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