O último dia do Encontro Nacional de Negros e Negras da Conlutas foi destinado à Plenária Final. A principal resolução do encontro foi fazer um chamado à construção de um movimento negro independente, classista, anticapitalista e de oposição ao governo Lula. Este chamado será feito através de um manifesto que começa a ser divulgado nesta semana, após o encontro, até o Congresso da Conlutas em 2008, quando se dará forma organizativa ao movimento.
Além desta resolução, a Plenária também aprovou outros pontos consensuais de conjuntura e as propostas encaminhadas pelos 10 grupos temáticos no dia anterior, como saúde, educação, comunidades quilombolas, cultura afro, funcionamento e estrutura do Grupo de Trabalho, movimentos sem-teto e sem-terra, mulheres negras, raça e classe e reformas do governo, reparações cotas e políticas afirmativas, e violência e juventude.
Depois da leitura e aprovação das propostas que foram consensuais nos grupos, foi aberto o debate sobre as propostas polêmicas. Uma questão importante foi o tema das cotas, com uma primeira proposta a favor das cotas e reparações, conforme as teses do MTL e “Uma luta de Raça e Classe”. O CCI defendeu que a Conlutas não deve lutar por cotas, mas pelo fim do vestibular. Ana Vera defendeu as cotas, afirmando que também é preciso defender o fim do vestibular. Isso foi aprovado por ampla maioria.
Já sobre o Estatuto da Igualdade Racial, houve uma proposta de que a Conlutas reivindicasse o texto original do Estatuto, antes de ele sofrer alterações em sua passagem pelo Congresso Nacional. Wilson Silva falou contra o estatuto, dizendo que “uma das grandes vitórias deste encontro é colocar a luta anti-racista no marco da luta de classes” e que a proposta de defesa do estatuto rompe com isso, na medida em que o estatuto é uma forma de o governo se apropriar de reivindicações do movimento, deturpando-as, para cooptar os lutadores.
“O verdadeiro estatuto da igualdade racial está sendo construído aqui e agora, um estatuto de raça e classe”, afirmou. Wilson disse ainda que “o mesmo governo que apresenta um estatuto da igualdade racial com uma mão, rasga com a outra, quando apresenta as reformas previdenciária e sindical e trabalhista, que acabam com qualquer possibilidade de igualdade”.
Uma das principais polêmicas foi sobre o direito de sindicalização da polícia e de participação deste setor na Conlutas. Leonardo lembrou que “cada um aqui neste plenário deve ter inúmeras histórias de repressão policial para contar”. Cyro Garcia, porém, defendeu o direito de organização e de desmilitarização desses setores, lembrando que uma das principais greves dos últimos tempos foi a de um setor militarizado, os controladores de vôo.
“Não estamos defendendo a polícia como instituição. Sabemos aqui que quem empunha aquelas armas são filhos da classe trabalhadora, que passam por uma verdadeira lavagem cerebral nos treinamentos, mas, se queremos fazer revolução, é preciso lembrar o hino da Internacional Comunista, que afirma que queremos que nossas balas se virem contra nossos generais e que sejam a favor da classe trabalhadora”, finalizou Cyro. A plenária aprovou a defesa do direito de sindicalização da polícia, da participação na Conlutas, e também o apoio da Conlutas às greves de policiais.
Depois das polêmicas e votações, o evento teve um encerramento que emocionou os participantes. Julinho, do MTL, fez uma saudação final da tese, dizendo que nos últimos anos, “houve um silenciamento de um setor do movimento negro e construir este encontro foi uma grande vitória, e foi também um farol para despertar a consciência de muitos”. Elias, integrante da tese “Uma luta de Raça e Classe”, afirmou que “estamos construindo um quilombo do século XXI aqui neste encontro”.
Foi aprovado, por unanimidade e de pé, o manifesto com o chamado a um novo movimento. Foi cantada uma estrofe da Internacional e houve uma belíssima apresentação de dança afro do Movimento Cultural Vai-Vai Brasil, coordenada por Liberto Solano Trindade, filho do poeta Solano Trindade.
NÚMEROS DO ENCONTRO:
11 estados e o Distrito Federal representados
469 delegados inscritos
86 convidados
33 observadores
22 crianças assistidas pela creche
610 participantes no total