No início de julho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que junho teve o maior número de alertas de desmatamento para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015. Segundo o instituto, foram desmatados mais de 1,3 mil quilômetros quadrados.

Somado o desmatamento de todo o semestre, chegamos a 3.069,57 quilômetros quadrados devastados na Amazônia, um aumento de 25% em comparação ao primeiro semestre de 2019. Significa que foi desmatada, só nos primeiros seis meses, uma área que é o dobro do tamanho da cidade de São Paulo.

Esses dados servem de indicação para as equipes de fiscalização sobre onde pode haver crime ambiental, mas, no governo Bolsonaro, quem faz o seu trabalho é demitido. Fiscais que combatiam o desmatamento em terras indígenas foram exonerados após exibição de uma reportagem no Fantástico. Recentemente, também foi exonerada a coordenadora-geral de Observação da Terra do Inpe, Lubia Vinhas. Foi sua equipe que divulgou os dados acima e que, em plena pandemia, os alertas de desmatamento cresceram 64% nos últimos onze meses. Foram mais de 7,5 mil quilômetros quadrados de floresta com sinais de desmatamento. No período anterior, eram 4,5 mil quilômetros quadrados. Tudo indica que este ano o desmatamento vai ser muito maior, escancarando que a jagunçada não faz quarentena.

Investidores pressionam governo, que aprofunda desmonte da fiscalização ambiental

Recentemente, executivos de 38 grandes empresas brasileiras e estrangeiras enviaram uma carta ao governo cobrando ações concretas de combate ao desmatamento conforme noticiou o jornal Valor Econômico. Sobre a política ambiental brasileira, os empresários dizem que a “percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”. Nos bastidores, diz-se que há uma pressão pela demissão de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente.

O vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia, formado por mais 19 militares (sem Ibama e sem Funai, diga-se de passagem), foi obrigado a fazer uma videoconferência com os capitalistas. O temor é que o aumento do desmatamento provoque retaliações econômicas, principalmente ao agronegócio. Bolsonaro até admitiu que a imagem do Brasil no exterior está negativa por causa da questão ambiental, mas disse que isso é uma visão distorcida do governo e que vai investir em publicidade.

(São Paulo, 12/11/2019) Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão Foto: Bruno Batista /VPR

O governo não pretende reativar os órgãos de monitoramento e fiscalização ambiental. O que ele realmente quer é “passar a boiada” na legislação, como confessou o criminoso Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, na famosa reunião ministerial de 22 de abril. Querem mesmo é intervir no Inpe, desmontar a estrutura histórica criada para a o monitoramento da Amazônia e impedir a divulgação de dados que possam causar prejuízos ao agronegócio.

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo de 20 de maio mostrou que o Exército mobilizou agentes, helicópteros e dezenas de viaturas em Mato Grosso para uma operação que terminou sem multas, prisões ou apreensões. Enquanto isso, o Ibama havia sugerido outro alvo na região com evidências de ilegalidade, mas foi ignorado. Fazem um circo, chamam a imprensa para tirar foto, mas na prática deixam as queimadas correrem soltas enquanto os desmatadores continuam impunes.

Isso não é tudo. O Ibama pode perder até 20% de seu orçamento no ano que vem segundo aviso da direção da autarquia a servidores do órgão. É assim, desmontando, exonerando servidores e censurando dados, que o governo pretende mostrar aos grandes capitalistas que essa história de desmatamento na Amazônia simplesmente não existe.

GENOCÍDIO

Exército despeja cloroquina em indígenas

No dia 1º de julho, uma comissão interministerial de emergência de combate à pandemia foi a Roraima para ver o que ocorre com as populações indígenas do estado. A comissão teve a presença do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e de representantes do Ministério da Saúde. Umas das barbaridades da dita missão foi levar 66 mil comprimidos de cloroquina para o tratamento de indígenas de nove etnias das terras indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol. A droga, que foi produzida aos milhares pelos Exército, não tem eficiência comprovada no combate a COVID-19 e, ao contrário, pode resultar em graves problemas cardiovasculares.

Azevedo soltou uma pérola durante a visita: “Não é um caso de uma pandemia que está atingindo os índios.” A negação farsante do ministro fez com que as entidades dos povos indígenas de Roraima repudiassem publicamente a fala do militar (leia a nota aqui ).

O pior é que uma nova viagem está sendo planejada pelos ministérios da Defesa e da Saúde para uma terra indígena em plena pandemia e preocupa os habitantes do Parque do Tumucumaque, no Pará. Os indígenas temem a distribuição indiscriminada da hidroxicloroquina.

No passado, a ditadura militar exterminou civilizações inteiras na Amazônia para construir estradas e abrir a região para mineração e pecuária. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, mais de 8 mil indígenas foram liquidados na época. Agora os militares desencalham seu estoque de cloroquina em cima dos indígenas. Seu papel sobre esse novo genocídio indígena será cobrado com juros e correção.