Redação
Enquanto fechávamos esta edição, recebíamos a triste notícia da morte de Gal Costa, um ícone do tropicalismo que se mantinha como uma das maiores vozes da nossa música. Começamos este número prestando nossa homenagem à memória de Gal
Ainda no fechamento deste número, corriam as eleições nos EUA e, no Brasil, as Forças Armadas acabavam de divulgar o seu “relatório sobre as eleições”. Não podendo apontar qualquer irregularidade que desse base aos atos golpistas, o documento mantinha um tom dúbio, a fim de não desagradar Bolsonaro.
As manifestações e fechamento de estradas, exigindo golpe militar, coordenados por Bolsonaro, mereciam ainda maior repúdio, mas tiveram que recuar. Nada impede, porém, que os bolsonaristas continuem atiçando atos golpistas ou tentando outras surpresas.
Dedicamos esta edição a um balanço das eleições. Procuramos discutir o significado da derrota de Bolsonaro, as ameaças da ultradireita, que vão continuar, e os desafios colocados para a classe trabalhadora diante do governo Lula-Alckmin e suas alianças amplas com a burguesia.
Oposição de esquerda e de classe
Neste jornal, buscamos debater que a classe trabalhadora e seus setores mais oprimidos não podem depositar confiança no novo governo. Pelo contrário, a nossa tarefa, desde já, é avançarmos na organização e na mobilização independente da classe. E, a partir disso, construirmos uma oposição de esquerda e de classe, tanto para enfrentarmos a extrema-direita, quanto para defendermos nossas reivindicações e construirmos uma alternativa da classe trabalhadora, independente da burguesia.
Embora Bolsonaro ainda não tenha saído, o processo de transição já começou. E, agora, já se desenha o que será o governo Lula-Alckmin. Ao contrário de ser um governo da classe trabalhadora, aponta-se para um governo ainda mais amplo que a chapa apresentada nas eleições, indo do Centrão, de Arthur Lira, ao PSOL, com o predomínio de banqueiros neoliberais, como Henrique Meireles e Pérsio Arida, na equipe econômica; além de conversas com Trabuco, do Bradesco e o Itaú Unibanco. E, ainda, representantes dos grandes tubarões da Educação.
Sabemos que parte expressiva da classe trabalhadora tem expectativas no futuro governo. Respeitamos essas expectativas e compartilhamos do sentimento de vitória sobre Bolsonaro. O PSTU fez campanha em defesa do voto crítico em Lula justamente para derrotar Bolsonaro nas urnas.
Mas, é nossa responsabilidade dizer a verdade aos trabalhadores e trabalhadoras: será um governo feito com e para os bilionários, e que, ao administrar a crise capitalista, vai, inevitavelmente, atacar a classe.
Não é possível servir dois senhores
Isso porque não é possível governar para dois senhores. Se se governa para a burguesia, não é possível atender os trabalhadores. Quando muito, nos darão migalhas, sem resolver os problemas estruturais. São interesses antagônicos, inconciliáveis.
Um exemplo é a Educação. A equipe de transição é formada, em sua maioria, por representantes dos megagrupos da Educação privada, como o empresário Jorge Lemann, o segundo homem mais rico do país. Como investir na Educação pública e de qualidade e, ao mesmo tempo, atender aos tubarões do ensino?
O governo Lula-Alckmin é ainda mais controlado pelos bilionários do que seria um governo de colaboração de classes ou como foram os governos anteriores do PT. Apesar de fruto de uma vitória eleitoral das massas contra o governo Bolsonaro, é prisioneiro das alianças com os bilionários.
Não vai querer revogar as Reforma da Previdência e a Trabalhista, garantir a Petrobrás 100% estatal, ou enfrentar o agronegócio. Então, na medida em que ele se instala, acabará por atacar a nossa classe.
Nos governos anteriores do PT, onde nem havia uma aliança tão ampla, vimos que, na “hora H”, primou a política de encarceramento em massa da juventude pobre e negra da periferia e foram feitas concessões às bancadas conservadoras em relação aos direitos das mulheres e às pautas LGBTIs.
Em defesa das liberdades democráticas, contra Bolsonaro e a ultradireita, não titubearemos em estar na primeira linha da resistência a eles. Só a mobilização independente da nossa classe unida, inclusive com autodefesa, tem poder para derrotá-los.
Há setores da esquerda que pensam ser possível disputar o futuro governo e que as organizações revolucionárias devem participar dele. Ou, ainda, mesmo que de fora, atuar como “conselheiras” do governo.
A força da nossa classe está na sua independência em relação à burguesia e aos governos de aliança com a patronal, e na mobilização e organização independentes, em prol de nossas reivindicações mais sentidas e de uma alternativa dos trabalhadores e dos setores populares e oprimidos para o Brasil.
Nós do PSTU continuamos afirmando que tanto a derrota definitiva da ultradireita quanto as mudanças que o país precisa exigem uma mudança radical na sociedade. Exige a construção de uma sociedade fraterna, igualitária e socialista.
Avançar na organização e mobilização independente
Nesse período de transição, está colocada a tarefa de nos organizarmos enquanto classe, votarmos nossas pautas, exigi-las do novo governo, ao mesmo tempo em que nos preparamos para nos mobilizarmos por elas, de forma independente.
Precisamos lutar pela revogação completa das reformas Trabalhista e Previdenciária. Em defesa do emprego, com carteira-assinada e direitos plenos a todos e todas, inclusive aos trabalhadores de aplicativos. Redução da jornada, sem redução dos salários. Aumento geral dos salários, com a duplicação do mínimo, rumo ao mínimo do Dieese.
Temos que lutar por educação, saúde, moradia e serviços públicos de qualidade, suspendendo o pagamento da dívida aos banqueiros.
É preciso deter a destruição ambiental, com a demarcação das terras indígenas, titulação dos territórios quilombolas e contra o Marco Temporal. Temos que parar com a destruição ambiental.
É urgente lutarmos contra o machismo, o racismo, a LGBTIfobia e a xenofobia, que se acirraram sob Bolsonaro, combatendo todas formas de discriminação e violência, impedindo, também, que haja ainda mais retrocessos nesta área.
Temos que reverter a entrega do país, parando as privatizações e reestatizando o que já foi entregue, como a Eletrobrás, colocando-a sob controle dos trabalhadores. Da mesma forma, lutarmos por uma Petrobras 100% estatal, sob controle operário.
Por fim, precisamos exigir a investigação e punição exemplar de Bolsonaro, sua família, e seus cúmplices, por todos os crimes cometidos, desde a corrupção até as atrocidades cometidas durante a pandemia.