O PSOL vai realizar seu congresso no início de junho. É um bom momento para discutir os rumos da oposição de esquerda, espaço político no qual os maiores partidos são PSTU, PSOL e PCB.

Dizemos que é um momento apropriado porque o segundo mandato de Lula acaba de começar, e já se pode perceber a possibilidade de que estejamos perante uma realidade completamente diferente do primeiro. Apesar do crescimento econômico e dos índices de popularidade ainda em alta, podemos apostar em um espaço crescente para uma alternativa à esquerda do governo.

As mobilizações de 23 de maio indicaram um fortalecimento das lutas salariais e da campanha política contra as reformas neoliberais do governo. Além disso, um novo escândalo de corrupção atinge não só o governo como a oposição de direita. Está se abrindo assim um cenário mais rico do que o que vinha se desenhando no início deste ano para uma alternativa de esquerda, dos trabalhadores.

Todos os que participaram do Encontro Nacional Contra as Reformas do dia 25 de março sentiram este novo momento. Ali se estabeleceu uma plataforma de frente única contra as reformas do governo com cerca de seis mil participantes, o que já indicava esse espaço crescente. Foi possível garantir a unidade entre os setores participantes – com destaque para a Conlutas e a Intersindical – e, além disso, estabelecer o Fórum de Mobilizações, que permitiu concretizar uma unidade de ação com o MST, além de lançar crise sobre a CUT e o PCdoB.

De lá para cá, pudemos comprovar a importância da frente única para responder a este momento. Os atos de 1° de Maio – alternativos aos da CUT e da Força Sindical – foram os maiores desde o início do governo Lula, disputando em tamanho com os da CUT em todo o país, com a exceção óbvia de São Paulo. Agora conseguimos fazer do dia 23 de maio a maior mobilização de massas em muitos anos. Conseguimos transformar as resoluções do encontro em um movimento real de massas, pela primeira vez em muito tempo. E isso é apenas o início de um plano de lutas contra a reforma da Previdência, que pode tomar dimensões muito maiores.

Esse novo momento é uma base muito importante para, com uma política clara de frente única, construir uma alternativa forte ao governo e à oposição de direita. É isso que queremos discutir com os companheiros – a necessidade de uma frente de esquerda entre nós para fazer avançar as lutas das massas e apresentar uma alternativa política e eleitoral.

Uma alternativa unitária
A falência da CUT como uma central de lutas é absolutamente clara. O peleguismo chapa branca de seus dirigentes esvaziou a central e impede qualquer possibilidade de construir uma alternativa em seu interior. A traição sistemática das greves, a aliança com a patronal para a demissão de ativistas de oposição e a sustentação das reformas neoliberais do governo são visíveis para os ativistas. Tudo isso tem uma base material, com as verbas e os cargos do Estado, que solidificou uma burocracia sindical.

Agora dois fatos a mais comprovam essa caracterização. O primeiro é a manobra contra o dia 23, quando a CUT tentou transformar um dia de luta contra o governo em atos de apoio ao veto de Lula à Emenda 3. Essa manobra stalinista não teve, no entanto, peso suficiente para impor a mentira ao movimento de massas. O dia 23 foi uma mobilização contra o governo e a CUT terminou derrotada, demonstrando sua crise. Em boa parte do país, as mobilizações conjuntas realizadas foram claramente contra o governo, e os atos que a CUT promoveu em separado foram menores que os nossos.

O segundo fato é que até o PCdoB abriu a possibilidade de romper com a CUT, o que esvaziaria ainda mais a central, que passaria a ser somente da Articulação (e também do PCO, completamente degenerado).
Esses fatos, a nosso ver, deveriam levar os setores do PSOL que ainda defendem a permanência na CUT a reverem sua posição, que agora se torna diretamente insustentável.

A Conlutas se firmou como a alternativa majoritária para a reorganização sindical, estudantil e popular. Desde o encontro de Luziânia (2004) e o CONAT (2006), vem se firmando com um pólo aglutinador de distintas correntes, com um funcionamento democrático.

Os ataques de que “a Conlutas não passa de uma colateral do PSTU” foram desmentidos pelos fatos: a importância da convivência e a colaboração fraternal entre militantes do PSTU, setores importantes do PSOL e independentes são reconhecidas por todos os que intervêm na Conlutas.

A Conlutas foi a matriz das principais ações do movimento de massas contra o governo, como foram as marchas à Brasília. E foi também, como sabemos todos, a principal impulsionadora do encontro do dia 25 de março e do atual plano de lutas que resultou no dia 23 de maio.

Composta por outros setores do PSOL, a Intersindical segue dividida entre um setor que continua na CUT e outro que já rompeu com essa central. Isso permite que os companheiros estejam juntos conosco em ações como o encontro do dia 25 e o atual plano de lutas, mas os impede de ter uma estratégia de ruptura com a CUT para a construção de uma nova entidade. Tampouco existe até o momento nenhuma iniciativa por parte da Intersindical de unificação com a Conlutas, apesar das inúmeras propostas.

Infelizmente a maioria das teses apresentadas para o congresso do PSOL não indica nenhuma solução para essa realidade. Por isso achamos necessário buscar uma alternativa unitária entre a Conlutas e a Intersindical, com um perfil claro contra o governo, aglutinadora dos movimentos sindical, estudantil e popular.

Uma frente de esquerda política e eleitoral
Tivemos uma experiência positiva nas eleições de 2006. Os seis milhões de votos de Heloísa Helena expressaram um setor de massas que fez sua experiência com o governo Lula e seguiu pela esquerda. Isso não existiria caso não tivéssemos construído a Frente de Esquerda. O sucesso poderia ser ainda maior caso o governo não seguisse mantendo o controle majoritário das massas trabalhadoras, como se comprovou na reeleição de Lula.

Tivemos vários problemas durante a campanha, como a elaboração do programa da frente, com a definição do candidato a vice-presidente. Mas acreditamos que a base programática do manifesto da frente e a experiência concreta das eleições foram muito positivas.

Como já vimos nas lutas, agora a tendência é que esse espaço político cresça. A possibilidade de que o governo siga tendo maioria entre os trabalhadores pode estar claramente questionada com o segundo mandato. Isso potencializaria o peso de uma frente de esquerda como alternativa ao governo e à oposição de direita, que aponte com clareza um programa de ruptura com o imperialismo.

Evidentemente uma frente como essa não poderia incluir nenhum setor da burguesia e seus partidos. Não queremos reeditar uma aliança entre partidos operários e burgueses, que já demonstrou suas conseqüências com o governo Lula. Necessitamos de uma frente de esquerda à semelhança da que constituímos nas eleições de 2006, mas com intervenção clara na luta direta das massas.

Ao ler as teses para o congresso do PSOL, infelizmente observamos que existe uma ampla maioria que pensa diferente. A proposta majoritária, que inclui as teses do MES-MTL, Enlace, APS e grupo de Chico Alencar/Milton Temer, defende uma “frente anti-neoliberal”. Essa estratégia é a repetição do “programa democrático e popular”, ou seja, uma frente com setores da burguesia contra o programa econômico do governo.

Não acreditamos que articular uma frente com parcelas da burguesia, mesmo aquelas “mais à esquerda”, seja correto. Os setores da elite brasileira já demonstraram que não são e não serão contra a dominação imperialista.
Vejamos o exemplo do PDT. Este partido foi um dos que a direção do PSOL cogitou para uma aliança eleitoral em 2006. As articulações envolviam discussões com Carlos Luppi, presidente da legenda. Nós do PSTU deixamos claro que não existiria qualquer possibilidade de participarmos de uma frente que incluísse esse partido. Depois de uma polêmica importante dentro do PSOL, finalmente se optou pela frente de esquerda, sem o PDT.

Hoje o PDT está no governo Lula, e o próprio Luppi é ministro do Trabalho. Jackson Lago, governador do PDT do Maranhão, está envolvido diretamente no mais recente escândalo de corrupção. A situação do PDT poderia se estender ao PSB e às alas do PMDB propostos como possibilidades de integrar uma “frente anti-neoliberal” naquele momento ou agora.

Para nós é uma questão chave a defesa da independência de classe dos trabalhadores. Incorporar partidos ou setores de partidos da burguesia inevitavelmente leva a atrelar o programa da frente aos limites “aceitáveis” por eles, o que exclui qualquer possibilidade de ruptura com o imperialismo e o capitalismo. Pouco a pouco iríamos pelo mesmo caminho já percorrido pelo PT.

Nós defendemos uma revolução socialista e isso só será possível quando os trabalhadores compreenderem que devem lutar contra o conjunto da burguesia. Podemos fazer e fazemos unidade de ação em torno de pontos concretos com um ou outro setor da burguesia, como em uma luta democrática, mas nenhuma frente estratégica, nenhuma perspectiva de um governo conjunto.

Por isso nós defendemos uma frente de esquerda sem patrões e com um programa claro de ruptura com o imperialismo e o capitalismo, o não pagamento das dívidas interna e externa, a rejeição às reformas neoliberais, a reestatização das empresas privatizadas, a reforma agrária e um plano econômico anticapitalista para resolver os problemas de emprego e salário.

Esperamos que as discussões no congresso do PSOL se aprofundem e seja possível avançar em direção a uma frente de esquerda.

Post author
Publication Date