Lula está rezando para que a cobertura da sucessão do papa siga monopolizando os noticiários enquanto tenta abafar a crise e as denúncias que envolvem Henrique Meirelles e Romero Jucá.
Isso para não falar da sua crise parlamentar. Com a falida reforma ministerial, o governo perdeu o controle do Congresso, como demonstrou a derrota da MP 232.
Isto é particularmente grave, quando o governo e a CUT estão empenhados em garantir a aprovação da reforma Sindical no Congresso, ainda neste ano.
Fizeram tudo o que podiam para isso. Prepararam a reforma por quase dois anos em um Fórum, que reuniu as principais lideranças da burguesia e os pelegos da CUT e Força Sindical. Conseguiram apoio parlamentar, com a adesão dos partidos da base do governo mais o PFL e PSDB. Deflagraram uma campanha de mídia mentirosa, para mostrar que a reforma era para acabar com os sindicatos pelegos.
No entanto, as coisas não estão saindo conforme o planejado pelo governo. Para piorar a crise parlamentar, setores importantes da burguesia começaram a atacar a reforma, questionando a tímida organização de base, e exigindo a discussão concomitante da reforma Trabalhista. O governo não quer discutir agora a reforma Trabalhista, porque sabe que a retirada de direitos históricos, como as férias e o 130, vai gerar muitas resistências dos trabalhadores. Prefere, então, começar pela reforma Sindical, sufocando toda resistência com o brutal controle sobre os sindicatos.
Esses setores da burguesia, porém, desconfiam das intenções do governo, e têm dúvidas se Lula realmente vai bancar o corte dos direitos dos trabalhadores. Por isso, não querem dar mais poderes às cúpulas da CUT e Força Sindical, sem ter a contrapartida da reforma Trabalhista. A proximidade das eleições também aumenta a desconfiança da burguesia, que teme que milhões de reais arrecadados pelas centrais sejam usados na campanha de Lula.
Agora a direção da Força também está defendendo uma emenda pela unicidade sindical, abrindo brechas na posição dos defensores do projeto.
Está armada uma crise importante entre os defensores da reforma Sindical, que poderá ser utilizada para derrotar o governo. Para isso, no entanto, será fundamental ter mobilizações de massas que consigam impor esta derrota. As crises na superestrutura podem ser resolvidas entre eles, com uma nova reforma ministerial, ou um acordo do PT com a burguesia. A força real da campanha contra as reformas deverá vir das mobilizações, que até agora não existem. Na luta contra a reforma da Previdência, em 2003, tínhamos menos crises na frente governista, mas muito mais mobilizações com a greve do funcionalismo.
Foi uma vitória a formação da Frente Unitária contra a reforma Sindical, que possibilita uma unidade de ação entre a Conlutas, a esquerda da CUT, o PCdoB, e outros setores do sindicalismo. Isto possibilita diversos atos nos estados contra a reforma.
Para derrotar a reforma, no entanto, é necessário muito mais. Precisamos levar esta discussão para a base e realmente conseguir superar a falta de conhecimento sobre o tema e mobilizar setores importantes de massas. Esta é a proposta do plano de lutas da Conlutas, que começa com os atos do 10 de Maio, e logo depois mobilizações nas categorias na primeira semana de maio. No segundo semestre, teremos uma marcha a Brasília, em unidade de ação com toda a Frente constituída.
É hora de começar a virar o jogo. Derrotar uma reforma neoliberal deste calibre será fundamental para o movimento dos trabalhadores.
Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 214
Publication Date