Entusiasmo e disposição para luta marcaram o encontro
Wladimir de Souza

Foi com muita empolgação e com a certeza de que deram um passo histórico para a reorganização do movimento sindical, estudantil e popular que cerca de seis mil lutadores lotaram o Ginásio do Ibirapuera, onde foi realizado, no dia 25, o Encontro Nacional Contra as Reformas.

Previsto para reunir em torno de quatro mil pessoas, o encontro superou todas as expectativas. Logo no início, a coordenação do evento anunciou que se esgotaram todos os cinco mil crachás confeccionados para o evento. A reação foi instantânea. No ginásio, dezenas de bandeiras se agitaram, seguidas da explosão de alegria e da palavra de ordem “contra o governo neoliberal, unir a luta no Encontro Nacional”.

O ex-deputado Babá, do PSOL, deu um conselho: “Estamos vendo aqui um evento histórico. Guardem seus crachás”.

A grandiosidade dos números não parou por aí. Ao todo, estiveram presentes 626 entidades, oposições e movimentos, que vieram de 201 cidades e 19 estados. A força do evento pôde ser vista na composição da mesa: Conlutas, Intersindical, FST, MTL, MTST, Pastorais Sociais, Conlute, Andes-SN, ASSIBGE, Condsef, Fenafisco, Fenasps, Sinasefe e Sinait, além das representações do MST, da CSC, do PSTU, do PSOL e do PCB.

De todo o país
O sucesso do encontro se deve, acima de tudo, a todos aqueles que não mediram esforços para participar da atividade. Do Pará, vieram cerca de 150 ativistas – entre trabalhadores da construção civil, rodoviários, camponeses e servidores públicos, da Conlutas e da Intersindical – que viajaram 55 horas para dizer não às reformas. Na delegação, também estavam vinte ativistas que vieram do longínquo Amapá.

De Minas Gerais, vieram 800 ativistas e dirigentes sindicais. Pernambuco trouxe 89 pessoas. Eles fizeram questão que a delegação fosse anunciada no ato. “Fizemos um grande esforço para chegar aqui. Foram 52 horas de viagem e estamos desde as 4 horas da manhã aqui. Tem de anunciar”, cobrou um integrante da caravana.

Já o Rio de Janeiro, que uma semana antes previa enviar 24 ônibus, chegou ao encontro com 31, cerca de mil e trezentos ativistas. Na caravana, destaque para os metalúrgicos de Volta Redonda. Para Mariana Caetano, dirigente do Sepe-RJ, quem veio ao Encontro voltará fortalecido: “Voltaremos para nossas cidades para seguir em frente com as lutas através do fórum nacional que estamos criando”.

Entre os participantes era grande o número de ativistas sem-teto e sem-terra do MTL, MTST e da ocupação do Pinheirinho em São José dos Campos (SP).
Representantes do MTST pediram a solidariedade de todos à ocupação João Cândido, na Zona Sul de São Paulo, onde centenas de pessoas estão há uma semana, enfrentado ameaças e ordens de despejo. “Trouxemos aqui em torno de 600kg de alimentos para doar para os companheiros”, disse Marcos Praxedes, do MTST.

Presença internacional
O evento retomou a tradição internacionalista da classe trabalhadora, com a presença de lideranças do Haiti, Bolívia e Uruguai. O dirigente da Central Operária Boliviana (COB) Ramiro Condore foi bastante aplaudido ao dizer que “é preciso lutar para derrotar o neoliberalismo em nossos países”. Didier Dominique, sindicalista haitiano do grupo Batalha Operária, denunciou a ocupação no Haiti pelas tropas da ONU e falou sobre o papel do Brasil. “Sabemos que as tropas não foram mandadas pelo povo do Brasil e sim pelos reacionários do Brasil”, disse.

Unidade foi o lema
A unidade em torno da luta contra as reformas do governo Lula é o grande saldo político do encontro.

Na sua fala, Zé Maria, da Conlutas, ressaltou a importância da unidade que está sendo construída para fortalecer a luta contra as reformas. O dirigente afirmou que essa luta tem endereço: o Palácio do Planalto. “Lula já escolheu seus heróis. São os usineiros e os empresários. Os nossos heróis continuam os mesmos. Os cortadores de cana, os operários, os sem-terra e os sem-teto”, afirmou. No plenário, os participantes responderam com entusiasmo, erguendo uma enorme bandeira da Conlutas e cantando: “eu sou Conlutas, sou radical, não sou capacho do governo federal”.

Mané Melato, da Intersindical, que falou na seqüência, disse que a construção do encontro deu trabalho, “no entanto, o mais importante está pela frente: discutir e superar nossas diferenças para construir a mobilização”.

Representando o MST, que participou como observador do encontro, Gilmar Mauro ressaltou a satisfação por estar presente: “O significado deste evento está evidente no visual que vejo no plenário. Ele é vermelho, como também é muito mais vermelho o conteúdo deste debate”. Gilmar declarou ao Opinião que o MST procura construir com a Conlutas e a Intersindical um calendário comum de luta contra as reformas.

A perspectiva da unidade também é partilhada por Paulo Pedrini, que falou em nome das pastorais sociais. “No segundo mandato, vemos que o governo caminha ainda mais para a direita, isso faz com que muitos reflitam e caminhem para a construção de uma unidade mais ampla. O que nos une é o sentimento de classe”, concluiu.

Reconhecimento
Uma das presenças mais destacadas foi a de Heloísa Helena. A ex-candidata à presidência pela Frente de Esquerda falou em nome do PSOL e destacou a importância do PSTU para a construção de uma alternativa de luta para o país. “É preciso reconhecer o papel que os companheiros do PSTU tiveram nesse processo inicial de reorganização do movimento sindical. É preciso humildade para se avançar junto. E se esta unidade depender do PSOL, tenham certeza que ela será construída, porque esta é uma tarefa única e emergencial de todo o movimento para enfrentar o governo Lula”.

É preciso vencer
Falando em nome do PSTU, Valério Arcary incendiou o plenário quando disse: “É possível lutar. É preciso vencer”. Segundo ele, “há quatro anos, muitas pessoas diziam que não seria possível reagrupar a esquerda, que sair da CUT seria um suicídio, que os socialistas não poderiam se reorganizar. E hoje, aqui, demonstramos não só que é possível reorganizar a esquerda, como também é possível lutar e vencer”.

O sentimento de unidade alcançou todos que estiveram no encontro. Sentimento este que aumenta a certeza de que é possível derrotar as reformas neoliberais do governo. No rosto de cada um se via o orgulho e a satisfação de todos que se dedicaram à construção do encontro.

A fala de Plínio de Arruda Sampaio, ex-candidato ao governo de São Paulo pela Frente de Esquerda, dá a dimensão exata dos desafios que estão por vir. “Agora nós vamos avançar. Agora vamos para cima. Vamos levantar a classe operária. Isto é o que fará algum historiador, daqui a alguns anos, dizer que o dia 25 de março de 2007 marcou a volta da classe operária à ofensiva”.
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