A semana começou com todas as quebradas e comunidades em luto. 18 mortos na Zona Oeste de São Paulo, e a própria Secretaria de Segurança Pública não descarta o envolvimento de policiais. As lágrimas dos familiares e amigos não foram só por terem que enterrar seus entes queridos, mas também por saberem que os assassinos que tiraram a vida de seus filhos, maridos e irmãos, ficarão impunes para poder matar mais pobre e preto e ir subindo na hierarquia policial sob os corpos da juventude negra e dos trabalhadores mortos injustamente.
Os noticiários só começaram a dar destaque ao tema após a imprensa de outros países divulgarem o ocorrido como um crime covarde. Então, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), junto com o Secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, foram à público mostrar “preocupação” com o ocorrido, como se nunca a PM tivesse envolvida em assassinatos de inocentes. Mas essa preocupação é limitada, restringe-se a apenas aparecer bem na foto. O próprio governo já jogou a responsabilidade de pegar os assassinos na população quando ofereceu uma recompensa para divulgar informações que possam levar aos criminosos. Obviamente que ninguém vai denunciar, pois o que garante que a polícia, como fez em outros momentos, não irá atrás da pessoa que denunciou? A tática de Alckmin tem como objetivo se isentar da responsabilidade do que sua polícia faz.
Da Oeste a Sul, o povo pobre e preto morre na guerra interna das periferias entre PM e traficantes
Mas o medo e a incerteza se conseguirá voltar seguro para casa, não é só dos trabalhadores e da juventude na Zona Oeste. Nessa semana, a Zona Sul também foi aterrorizada. Só que a forma de terror espalhada pela polícia na região ficou no campo psicológico, pois assim criaria um cenário de terror em toda a região sem dar um tiro sequer.
Na segunda-feira, 17 de agosto, o sentimento dos trabalhadores moradores da Zona Sul de São Paulo era de medo. Muitos estudantes e trabalhadores voltaram para suas casas correndo. Carros da Força Tática (que é o setor da polícia que mais mata a juventude negra, “ganhando” até mesmo da odiada ROTA) percorriam lentamente as ruas, com sirenes apagadas como se quisessem pegar alguém à espreita. As principais avenidas da Zona Sul, de Parelheiros até Campo Limpo, ficaram desertas. Quem não pode voltar mais cedo para casa, ficou à espera da própria sorte no ponto de ônibus. E por quê?
As escolas e universidades da Zona Sul receberam informações para dispensarem mais cedo alunos, funcionários e professores, pois haveria toque de recolher. Segundo a orientação, ninguém poderia ficar a noite na rua porque a polícia “estaria à caça”, como se fôssemos animais e o período de “caça” estivesse aberto. Qualquer pessoa na rua a noite, poderia ser alvo. E pior, alvo de quem no papel deveria proteger.
Para muitos trabalhadores na região, o medo era quase similar ao que ocorreu em 2006, com o combate campal do PCC e PM nas ruas de São Paulo. Só que, além de ser em menor escala agora, os órgãos da imprensa não divulgariam nada.
O crime organizadotambém tem sua parcela de culpa no terror aos trabalhadores. Aplicam nas periferias uma verdadeira ditadura, onde reproduzem o mesmo trato da polícia à população pobre e negra. Além de lucrarem absurdamente com a criminalização das drogas, queimam suas balas contra o peito de quem tiver desacordo de sua atuação. O que vemos é um verdadeiro revezamento da PM e do tráfico de drogas para ver quem aterroriza mais a população. De um lado, as balas do Estado e do outro as balas do tráfico, tendo como único alvo a nossa juventude que desde pequena vê seu futuro ser negado.
A quem interessa o policiamento na periferia?
Recentemente, o Datafolha divulgou que 62% da população tem medo de ser abordada pela PM, sendo que 71% dos entrevistados são negros. No Brasil, segundo o Mapa da Violência, um jovem negro tem 136% mais chances de ser abordado e morto pela polícia do que um jovem branco. E o que esses dados significam? Uma coisa. Com os dados divulgados pelo Datafolha, derruba-se o mito de que a população pobre se sente protegida com a presença da polícia, já que é ela em grande parte a responsável pela violência que negros e negras sofrem nas comunidades.
Segundo a polícia, o aumento do policiamento na periferia é para prender traficantes. Argumento sem base nenhuma na realidade, pois se fizermos uma rápida pesquisa no site da SSP-SP sobre as ocorrências na região, nos deparamos com um quadro diferente do que a PM pinta. Na 25ª Delegacia de Polícia, localizada em Parelheiros, a ocorrência de tráfico na região é de 48 no primeiro semestre, muito menos que as ocorrências registradas para o mesmo período na 4ª DP, localizada na Consolação, que tem 76 casos registrados, quase o dobro. Pelo argumento da polícia, a Consolação que deveria ter um grande e intensivo contingente de policiais e não a periferia. Como vemos, o aumento da vigilância policial na periferia, antes de tudo, tem cunho de classe e raça.
O fato de regiões como Parelheiros, Campo Limpo, Grajaú ou Jardim Ângela, não é acaso, já que essas são uma das regiões onde se concentra mais negros e com os salários mais baixos de São Paulo. A intenção é óbvia, trata-se de uma política consciente do governo Alckmin de “ensinar” à nossa classe o peso do Estado com aqueles que pensam em se levantarem contra as injustiças. E com a intensificação das políticas do governo Dilma e da oposição de direita para a crise econômica, que jogará parte dos trabalhadores ao desemprego ou aos subempregos com baixos salários, a polícia cumprirá um papel crucial para os interesses dos ricos e governantes de plantão: de controle social.
Em primeiro lugar, nós do PSTU gostaríamos de prestar nossa solidariedade de classe a todos os familiares da Zona Oeste que tiveram a vida de seus entes queridos covardemente arrancados, pois entendemos que as vítimas são nossos irmãos de raça e classe. Em segundo lugar, repudiamos as ações de terrorismo psicológico que a PM vem fazendo na zona sul. E isso nos mostra o motivo da luta paradesmilitarizar a Polícia Militar e que os trabalhadores possam direta e democraticamente controlar as forças de sua própria segurança.
– Desmilitarização da PM, já! Que os trabalhadores possam decidir quem fará sua segurança!
– Chega de guerra interna nas periferias, o povo preto e pobre e a juventude negra quer ter o direito ao futuro!
– Contra a política de Dilma e da Oposição burguesa que jogam a crise econômica nas costas dos trabalhadores, aumentando o desemprego, o corte de verbas nas áreas sociais, ampliando as desigualdades e a própria violência!