Sob os ventos das mobilizações de junho – que também tem repercutido nos “rolezinhos” e nas rebeliões populares contra as péssimas condições de transporte e moradia que vem acontecendo desde o início do ano –  será realizado, no dia 23 de março, o I Encontro do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas, cujo tema é: Chega de racismo, violência, exploração e dinheiro para a Copa!

O principal objetivo do Encontro é aprofundar a organização de negros e negras, em aliança com movimentos sindical, estudantil, popular, indígenas, feminista e LGBT, buscando, também, discutir e construir um plano de luta e resistência, seja nas cidades, seja nas comunidades quilombolas. O Encontro será realizado Sindicato dos Metroviários de São Paulo e será precedido de dois importantes eventos.

A pauta do Encontro
No dia 21, às 19 horas, um ato público irá lembrar o Dia Internacional de Combate ao Racismo, criado em função de um dos episódios mais lamentáveis da história do racismo: o Massacre de Shaperville que deixou 69 mortos, na África do Sul, em 1960.

No sábado, dia 22, os ativistas do Setorial irão se juntar aos demais setores da CSP-Conlutas em um Encontro Nacional para preparar as mobilizações durante a Copa. Uma atividade fundamental também do ponto de vista racial, já que sabemos que são exatamente negros e negras os que mais sofrem com o desvio e confisco dos investimentos que deveriam ser destinados para moradia, transporte, saúde e educação. Neste dia, as atividades serão encerradas com uma “Festa Negra”

Durante o Encontro, no domingo, além de traçar um plano de luta contra a violência cotidiana provocada pela falta de acesso aos direitos mínimos, os negros e negras do Setorial irão lançar uma grande campanha contra um tipo ainda pior de violência: aquela que é praticada pela polícia (fardada ou encapuzada) e é responsável pelo genocídio da juventude negra nos bairros populares.

Por trás do racismo e do genocídio, a farsa da “democracia racial”
O Encontro também será uma oportunidade para desmascarar o “Mito da Democracia Racial” e da cordialidade entre todas as “raças”, uma ideologia que tenta “invisibilizar” o racismo, como forma de conter as rebeliões e levantes, mas que, contudo, não consegue resistir à realidade dos fatos.  

Esta farsa que prega que neste país negros e brancos convivem em perfeita harmonia tem sido contestada tanto pelas inúmeras demonstrações de racismo que vemos cotidianamente quanto pelas muitas lutas que têm sido travadas pelo movimento negro nas últimas décadas.

Em 2013, o sumiço do pedreiro Amarildo colocou em evidência a crueldade do racismo em um país onde ser negro significa ter 135% mais chances de ser assassinado do que um branco. Recentemente, vimos outro exemplo da brutalidade racista na imagem de um jovem acorrentado a um poste no Rio de Janeiro por “justiceiros” saudosos da época dos pelourinhos e senzalas (veja box abaixo).

No mesmo período, o jogador Tinga, do Cruzeiro, foi discriminado e hostilizado pela torcida durante a “Libertadores da América”, no México. E sua resposta deveria servir de exemplo para tantos outros jogadores que têm se calado diante do racismo  e da violência decorrente dele: “trocaria todos os seus títulos para que acabasse a discriminação racial e de classe em qualquer parte do mundo”. Uma reação que, com certeza, é um reflexo dos avanços do movimento negro através de suas lutas.

Algo que, lamentavelmente, também tem sido acompanhado pela violenta repressão patrocinada pelo Estado brasileiro – através dos governos municipais, estaduais e, também, o federal – e que tem se voltado, de forma crescente, contra os trabalhadores pobres (brancos ou negros), através das Unidades Pacificadoras (UPPs), as mesma que assassinaram Amarildo, ou a ação de justiceiros que, noite a após noite, promovem sangrentas chacinas nas periferias. 

Uma aliança de “raça e classe”
Não temos dúvidas que tudo isto só tende a se intensificar com a proximidade da Copa, o que também aumenta a importância do Encontro do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas, particularmente em um momento em que, infelizmente, boa parte das organizações negras foi cooptada pelo governo petista, deixando o movimento negro em uma enorme crise de direção.

Por isso mesmo, este Encontro tem como objetivo avançar na unidade de negros e negras e os demais setores da classe trabalhadora, numa aliança de “raça e classe”, independente dos patrões e dos governos, que ofereça uma alternativa para um combate sem tréguas contra o racismo e seus agentes.

Todos ao Encontro!  

Programação

21 de março, às 19h: Ato político no Dia Internacional de Luta contra o Racismo

22 de março, às 20h: Grande festa negra

23 de março, das 9h às 17h: I Encontro Nacional de Negras e Negros da CSP-Conlutas

Todas as atividades  ocorrerão no Sindicato dos Metroviários de São Paulo

 *Com contribuições de Yuri Rocha

Publicado originalmente no Opinião Socialista 475