Redação

Mesmo numa conjuntura bastante adversa, no meio da pandemia que matou mais de 120 trabalhadores e trabalhadoras dos Correios, a categoria não pensou duas vezes em ir à luta contra a retirada de direitos e as ameaças de privatização. Essa greve deixou muito evidente o quanto estes trabalhadores são aguerridos, tendo lutado em todos os anos, contra todos os governos de plantão. E em 2020 não foi diferente.

O perfil de luta desta categoria causa orgulho e, também, deixa muitas lições para o conjunto da classe trabalhadora. Pois, mesmo com o resultado final tendo sido uma grande derrota econômica, sem precedentes, a vanguarda não saiu desmoralizada desta luta. Ninguém saiu de cabeça baixa, como queria a direção da empresa e o governo Bolsonaro.

A grande maioria expressa, com bravura, que fez a sua parte; sabendo que, quando o governo e a direção dos Correios não conseguiram derrotar diretamente a categoria, este papel nefasto coube ao poder judiciário, através dos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

“A greve, com ocupações dos setores operacionais, como em Indaiatuba [interior de São Paulo], foi determinante para dar o tom de combatividade e radicalização da greve em nível nacional”, declara Paulo Cesar Almeida, o “Paulão”, dirigente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (FENTECT) e militante do PSTU.

Justiça: covarde submissão ao governo

Desde o ano passado, o então presidente do STF, Dias Toffoli, ex-advogado do PT e indicado pelo ex-presidente Lula, já tinha evidenciado sua covardia.

O resultado final da greve, com a derrota econômica no TST, serviu para desmoralizar os magistrados daquela corte, totalmente submissos e em sintonia com o governo de Bolsonaro. Mas, mesmo diante destas covardes submissões, a vanguarda lutadora da categoria, por sua vez, não saiu de cabeça baixa.

Ao contrário, a categoria segue com disposição de luta para enfrentar os ataques pós-greve, no dia a dia (compensação dos dias da greve, descontos nos salários, assédio moral etc.), e preparados para dar continuidade à luta contra a privatização.

Certamente, virão mais ataques por aí, conforme anunciado pelo ministro da Economia Paulo Guedes e seus planos de demissões e reforma administrativa. Mas, está demonstrado que é possível reconstruir a resistência, a partir de cada local de trabalho, com as mais variadas formas de luta, como parte da luta concreta e mais geral contra os ataques do governo Bolsonaro e Guedes.

Ação

O ato “Ocupa Brasília” e o fim da greve

O ato que ocupou Brasília no dia do julgamento (21 de setembro), após 35 dias de greve, demonstrou muita garra e disposição de luta. Foi muito emocionante ver as caravanas vindas de várias partes do país.

“A FINDECT, a outra federação, dirigida pelo PCdoB e PMDB, por sua vez, cumpriu um papel vergonhoso. Além de boicotar toda a campanha salarial, não fazendo piquetes, passeatas ou assembleias presenciais,  também se negou a participar do ato ‘Ocupa Brasília’. As direções dos sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro ainda fizeram terrorismo, ameaçando trabalhadores de suas bases sindicais que, contudo, os enfrentaram e foram para Brasília”, afirma Heitor Fernandes, dirigente da FENTECT e militante do PSTU.

A fala de Heitor explica as traições dos dirigentes da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) nos Correios, em São Paulo e Rio. Mais uma vez, essas direções cumpriram um papel vergonhoso.

Também trairam a unidade da categoria, quando fizeram as assembleias dos sindicatos ligados à FINDECT na noite de 21 de setembro, para pôr fim à greve. Com essa atitude, os sindicatos quebraram a unidade nacional do movimento. Isso demonstra que os pelegos não estão à altura da disposição de luta e bravura da categoria.

DESAFIOS

Continua a luta contra a privatização

Esta grande luta travada na campanha salarial não acabou. Como dito antes, a proposta do presidente dos Correios, general Floriano Peixoto, segue sendo a retirada de todos os direitos para enxugar e entregar a empresa de mãos beijadas. E nessa disputa, Bolsonaro deu um passo à frente na ofensiva declarada desde sua campanha eleitoral.

A poeira nem baixou e o general  já armou um Plano de Demissão Voluntária (PDV), com objetivo de botar para fora milhares de trabalhadores, além da ameaça, recentemente, de desligamento imediato dos aposentados. Caso seja consumada esta ofensiva, serão aproximadamente 20 mil postos de trabalho a menos nos Correios.

“Os lutadores e lutadoras dos Correios não estarão sozinhos. A mesma ameaça pesa sobre diversas outras categorias. Cabe, agora, às direções das centrais sindicais majoritárias, a CUT e CTB, saírem de suas zonas de conforto e reorganizarem todas as tropas; pois, além dos riscos sobre os empregos de milhares, estão também ameaçados as empresas públicas e os serviços públicos, como patrimônios do povo pobre e trabalhador”, diz Geraldinho Rodrigues, dirigente da FENTECT e militante do PSTU.