Adriano Espíndola, de Uberaba (MG)

Adriano Espíndola, corinthiano apaixonado, de Uberaba (MG)

Em 2023 completei 50 anos de idade, dos quais 45 como corintiano apaixonado, maloqueiro e sofredor. Já neste dia 21 de abril, assim como maior parte da torcida do Corinthians, fiquei embasbacado com a contratação do Sr. Alexi Stival, mais conhecido por “Cuca”, um palmeirense apaixonado, para comandar nosso time de futebol masculino.

Cuca, como amplamente lembrado nos últimos dias, foi condenado por estupro coletivo praticado contra uma criança de apenas 13 anos, na Suíça em 1987. Alega inocência, dizendo que era apenas um garoto de 23 anos, e que os demais que levaram a menina para o quarto. No entanto, uma reportagem da Suíça na época deixa claro que “a perícia médica evidenciou traços do esperma dos jogadores Alexis e Eduardo no corpo da menina”. (Der Bund, Band 140, Nummer 190, 16. August 1989  – https://e-newspaperarchives.ch/?a=d&d=DBB19890816-01.2.32.3.1&srpos=23&e=——198-de-20–21–img-txIN-stival—-1989—0—–).

Cuca só não cumpriu a pena em que foi condenado pois, depois de cerca de 30 dias preso, conseguiu o direito de responder o processo em liberdade, junto a seus cúmplices e por intervenção do Itamaraty. Voltou para o Brasil e nunca mais compareceu em nenhuma sessão do seu processo, em que foi condenado e não cumpriu a pena.

Nós corintianos, sempre defendemos a ideia de que o Corinthians é mais do que um clube de futebol. Somos uma instituição que representa a luta por igualdade, justiça e respeito. Não podemos tolerar qualquer forma de violência contra mulheres, muito menos um crime tão abominável como o estupro. A diretoria do Timão não pode fazer do slogan “Respeite as minas” um chavão oportunista e falso, entoado nos dias de festa, mas não levado a sério pelos nossos dirigentes.

Além disso, somos um clube fundado por trabalhadores e tem a maior parte de sua torcida formada por mulheres e homens que vivem de sua força de trabalho. Não somos um clube de burgueses almofadinhas. Por isso, temos que ter claro que o machismo é uma estratégica utilizada no capitalismo, para oprimir as mulheres e assim, diminuir os salários de todos os trabalhadores.

Contratar Cuca como técnico do Corinthians, portanto, é uma afronta a todas as mulheres e todos os que acreditam numa sociedade socialmente justa, uma mensagem clara de que o clube não se importa com a luta contra o machismo e a cultura do estupro.

Somos uma torcida imensa, composta por milhões de pessoas, em sua maioria mulheres (elas parecem ser 54% de nós). A maior parte de nós está contra essa contratação, por entender que não se trata apenas futebol, mas de amor, respeito, dedicação, raça e comprometimento, como o Timão e com os valores que marcaram o que restou chamado de “Democracia Corinthiana”. Por isso, não podemos permitir que o Corinthians dê as costas para essa luta, não podemos permitir que a violência contras as mulheres continue a ser naturalizada, como faz Cuca com suas justificativas estapafúrdias ao crime que cometeu. Se fosse inocente, deveria sim ter voltado para Berna e se defendido, mas não o fez, e assim, como Robinho, o estuprador do Santos, fugiu para o Brasil para não ser preso.

Devemos exigir que diretoria do clube reveja sua decisão de contratar Cuca e se posicione de forma clara e firme contra qualquer forma de violência contra as mulheres. O Corinthians é maior do que qualquer técnico, e é nosso dever defender seus valores e sua história. Nosso dever lutar contra a cultura do estupro, o machismo e toda forma de opressão!