Entre 29 de junho e 3 de julho, ocorrerá em Goiânia mais um Congresso da UNE. Ao contrário do que acontecia nos anos anteriores, quando todo o movimento estudantil se voltava para tirar delegados e preparar suas delegações e teses, este ano, fruto da traição da UNE, um setor significativo dos estudantes rompeu com essa entidade e não vai a seu congresso. Outro setor ainda maior está em processo de ruptura, discutindo as alternativas de organização a esta que já foi um dia uma entidade representativa dos estudantes.
A burocratização e as traições
A burocratização da UNE cresceu ao longo dos anos 90 e se expressou em seus congressos, onde a direção majoritária (PCdoB/UJS) usava a fraude na eleição de delegados e a violência para manter o controle da entidade. Essa burocratização não era casual: estava a serviço de uma política de conciliação com os tubarões do ensino e com os vários governos progressistas nos estados. A política da UNE de garantir a posse de Itamar Franco, após o Fora Collor, a traição na greve das universidades federais em 1998 e a tentativa de impedir o movimento Fora FHC são exemplos da degeneração da entidade.
Com a eleição de Lula, a degeneração deu um salto e a UNE passou a ser um agente do governo no movimento estudantil. A UNE hoje bate no peito e se orgulha de ser co-autora da reforma Universitária, que vai privatizar a universidade pública. Além disso, participa do Conselho de Desenvolvimento Social e Econômico criado por Lula para elaborar e referendar as reformas neoliberais no país, do Projeto Rondon, implementado pela ditadura militar, e ainda do projeto Memória do Movimento Estudantil, em conjunto com a Rede Globo.
Rejeição à UNE é massiva
Por onde passa, a UNE tem sido escorraçada ou simplesmente ignorada. Em 2004, tentou fazer uma caravana em defesa da universidade pública junto com o MEC, mas foi expulsa das universidades federais pelos próprios estudantes. A paralisação de 6 de abril, em defesa da reforma Universitária, foi outro fiasco. Já o movimento estudantil combativo tocou importantes lutas em 2004 e 2005, como a greve das universidades estaduais paulistas e da UFBA em 2004, as lutas específicas na UFRJ e Estácio de Sá, as manifestações pelo passe-livre, as marchas de 16 de junho e 25 de novembro à Brasília, o Plebiscito Nacional sobre a reforma Universitária, em que participaram de 55 mil pessoas.
Essas lutas se enfrentaram com o governo e com a UNE fazendo com que milhares de estudantes e de dezenas de entidades rompessem. É o caso da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), do Fonepe (Fórum Nacional das Entidades de Pedagogia), do DCE da UNI-Oeste no Paraná, do DCE da UFG, e de dezenas de CAs por todo o país. A ruptura com a UNE é um processo objetivo que está apenas se iniciando e tende a aumentar após o Conune.
Conlute fará campanha por ruptura e não ida ao Congresso
A Conlute irá iniciar uma grande campanha pela ruptura com a UNE e não ida ao Congresso com abaixo-assinados, debates, seminários, esquetes de teatro e aulas públicas. O próximo Conune será uma grande festa governista sem espaço sequer para discussão, muito menos para disputa dos rumos da entidade. Centenas, talvez milhares de atas de delegados serão fraudadas. O PCdoB vai recorrer à violência e à intimidação contra aqueles que se rebelarem. Será uma desmoralização para os lutadores que porventura acabem indo ao congresso. Para se ter uma idéia, o último Cpneg, instância que prepara o Conune, votou um novo critério para a tirada de delegado ao congresso: em vez de 1 a cada 1.000, passa a ser 1 a cada 2.000, ou seja, um golpe brutal contra a representatividade dos estudantes. O Coneg também extinguiu a contagem de votos em plenário, obrigando os delegados a votar questões polêmicas junto com a votação da chapa ao final do congresso. Isso impede que um delegado da UJS vote em qualquer proposta da oposição. Nesse mesmo Coneg, o PCdoB defendeu a ocupação militar do Haiti, onde as tropas brasileiras fazem o trabalho sujo para Bush. Esse foi o clima do Coneg e certamente tudo será ainda pior no Conune.
Encontro para organizar a luta
A Conlute está chamando todos os estudantes a organizar um verdadeiro encontro daqueles que querem tocar a luta contra a reforma Universitária, sem fraudes, sem violência e intimidação, que aprove um calendário de lutas e aponte novos rumos para o movimento estudantil. É um erro participar do Conune. É hora de romper com a UNE e não ir ao seu congresso.
Post author Thiago Hastenreiter e Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU
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